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24 de out. de 2010

Resenhando: Vanessa da Mata, Neil Young, Adriana Partimpim, Leonard Cohen, Zeca Pagodinho

“Bicicletas, bolos e outras alegrias”– Vanessa da Mata
Sempre quando ouvia algum álbum da Vanessa da Mata, tinha algo que me incomodava. Não sabia exatamente o que era. Certamente não era a sua voz, nem as suas composições, e nem a sonoridade de suas músicas. Então, o que seria? Na primeira audição de “Bicicletas, bolos e outras alegrias”, eu descobri. Faltava punch, se é que vocês me entendem. Em seus trabalhos anteriores, a impressão que eu sempre tinha era que Vanessa poderia ir muito além, mas ficava presa a certos padrões pré-estabelecidos. E isso não acontece em seu novo álbum, que chegou às lojas na semana passada. Resultado? “Bicicletas, bolos e outras alegrias” já é, fácil, fácil, um dos melhores álbuns lançados em 2010. Contando com a produção de Kassin, e com músicos fantásticos como Donatinho (teclados), Gustavo Ruiz, Fernando Catatau (ambos na guitarra) e Stephane San Juan (percussão), o álbum é riquíssimo musicalmente, repleto de referências, como acontece em “Bolsa de grife”, tropicalista até a alma, com uma guitarra a la Lanny Gordin. “Fiu fiu” com a sua levada mais funkeada também é outro belo destaque (saca a letra de Vanessa da Mata: “Nós não nos entendemos como antes / Eles adoram mulheres air bag / E nós emagrecemos para as amigas / Inimigas todas”), assim como a faixa-título. Para terminar, uma parceria da própria Vanessa com Gilberto Gil, “Quando amanhecer”, com a participação do baiano, na voz e no violão. Em suma, um disco que talvez só não seja tão delicioso quanto o “Bolo da Vó Sinhá”, cuja receita está no encarte do CD. Eu provei, e é muito bom.

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“Le noise” – Neil Young
Que Neil Young é chegado a gravar uns álbuns estranhos, isso não é segredo para ninguém. Nos anos 80, a sua gravadora chegou até a processá-lo, por entregar um disco completamente fora dos padrões esperados. “Le noise”, que saiu lá fora há umas duas semanas, entra no rol desses trabalhos estranhos. Esqueça a Crazy Horse ou qualquer outra banda com aqueles amigos de Neil Young. Em “Le noise”, o barulho mesmo só sai da guitarra, do violão e da garganta do compositor canadense. São apenas oito faixas espalhadas em 38 minutos. Mas é o suficiente. Da raivosa faixa de abertura, “Walk with me”, cheia de guitarras distorcidas, até a soturna “Rumblin’”, Neil Young desfia a delicada “Peaceful valley boulevard” (que lembra até as coisas de “Harvest”, de 1972), transborda energia na antológica “Hitchhiker”, e destila o seu veneno em “Love and war”, quando prova que não é necessário berrar tanto para dar mais uma pancada na política belicista norte-americana. Com a produção de Daniel Lanois, Neil Young gravou um de seus álbuns mais estranhos... e mais substanciosos. Certamente a gravadora não terá do que reclamar.

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“Dois é show” – Adriana Partimpim
Adriana Calcanhotto sempre tratou os seus fãs com muito respeito, gravando álbuns sofisticados, e apresentando shows que vão além da ideia do disco originário. E pode-se dizer que Adriana Partimpim segue os mesmos passos de sua “mentora”. Após dois álbuns de estúdio e um DVD, Partimpim chega agora com “Dois é show”, registro audiovisual do show do álbum “Dois” (2010). Exagero lançar um DVD logo agora? Ainda mais repetindo as mesmas músicas dos três trabalhos anteriores (a única exceção é “Um leão está solto nas ruas”, de Rossini Pinto, e que foi sucesso na voz de Roberto Carlos, na época da Jovem Guarda)? Pode parecer que sim, mas não é o caso. Em “Dois é show”, Partimpim vai muito além dos registros anteriores, dando muito mais peso a canções como “Baile Particumdum” (da própria e de Dé Palmeira), que virou um legítimo frevo sensacional. Ou então em “Lig-lig-lig-lé” (Oswaldo Barbosa / Paulo Barbosa), muito mais encorpada que nas duas gravações anteriores. A cenografia do espetáculo merece um comentário a parte. Em um palco decorado cheio de brinquedinhos e instrumentos fofos, Adriana Partimpim se transforma em robô, em bailarina (com uma saia de guarda-chuva bem original, durante “Ciranda de bailarina”, de Chico Buarque e Edu Lobo) e ainda vai embora voando do palco, no melhor estilo Michael Jackson – a comparação foi inevitável, perdoem-me. Não dá nem para notar a ausência do sucesso “Fico assim sem você”, que está apenas nos extras do DVD, fora, portanto, do roteiro original do show. A Samba Filmes, como de costume, foi primorosa na edição do vídeo, com tomadas de imagens de muito bom gosto. E a banda que acompanha Partimpim... Moreno Veloso, Davi Moraes, Alberto Continentino, Rafael Rocha e Domenico Lancellotti dispensam maiores apresentações. Taí, essa menina Partimpim tem futuro.

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“Songs from the road” – Leonard Cohen
Leonard Cohen é daquele tipo de artista genial que não se coça muito para gravar material novo. Quando precisa de uma graninha, sai em turnê com shows que beiram as três horas de duração, canta todos os seus sucessos, e lota as casas de espetáculo e estádios pelos quais passa. Em 2008, ele lançou o CD duplo e DVD “Live in London”, com a íntegra de uma dessas apresentações, na O2 Arena. Cohen deleita a plateia com um punhado de clássicos do nível de “Hallelujah”, “Suzanne”, “I’m your man”, “Sisters of mercy”, “So long, Marianne” etc. etc. etc. Agora é a vez de “Songs from the road”, CD/DVD/BD só lançados lá fora até agora, e que apresentam doze canções apresentadas na mesma turnê. Algumas se repetem no “Live in London”, como “Closing time” e “Bird on the wire”. As execuções das mesmas também é praticamente a mesma nos dois discos. Então, qual a diferença? A principal mesmo é o fato de ser Leonard Cohen. Se isso não for o bastante para você, junte o fato de cada música ter sido gravada em um local diferente, de Israel à Finlândia, passando pela Suécia, Alemanha e Estados Unidos, na já mítica apresentação de Leonard Cohen no Coachella Musica Festival de 2008 (sinta no vídeo a arrepiante interpretação para “Hallelujah”). Acresça a isso as músicas que não fizeram parte de “Live in London”, como “Famous blue raincoat”, “Avalanche”, “The partisan” e uma versão animal de “Waiting for the miracle”. Você continua achando que não vale dar uma olhadinha em “Songs from the road”?

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“Vida da minha vida” – Zeca Pagodinho
Pode ter certeza que, daqui a muitos e muitos anos, quando alguém for eleger o top 5 de Zeca Pagodinho, o álbum “Vida da minha vida” fará parte dele. Desde o estouro do sambista com “Verdade”, lá no finalzinho da década de 90, sinto que os seus álbuns são gravados de forma industrial, seguindo certas fórmulas de mercado que já estavam cansando (com exceção do ótimo “Acústico MTV 2 – Gafieira”, de 2006). “Vida da minha vida” é diferente, como um álbum de samba dos velhos tempos. A voz de Zeca está muito mais bonita (a vida de avô, pelo jeito, tem lhe feito bem), e até mesmo a ideia de gravar um sambão antigo de Gilson (“Poxa”) caiu muito bem. O que poderia sugerir oportunismo acaba se transformando em pura sinceridade nos versos “Poxa / Como foi bacana te encontrar de novo”. “Vida da minha vida”, certamente, apresenta a melhor seleção de sambas já gravados por Zeca Pagodinho. “Hoje sei que te amo”, de Nelson Rufino, é daquele tipo de samba que já nasce clássico: “Vem matar a saudade que está me matando / Ameniza, por Deus, esse meu padecer / Foi preciso perder pra saber que eu te amo / Saber que eu não posso viver sem você”. Letra simplesinha, né? Mas ouça só a música. “Encanto de paisagem” (de Nelson Sargento, e com participação do mesmo) faz uma ode aos morros, e “Quem passa vai parar” (uma espécie da sambossa) conta com a voz de Alcione. Destaque também para “Um real de amor”, de Fagner e Brandão, e que já havia sido gravada pelo cantor cearense junto com Zeca Baleiro, no projeto conjunto dos dois, em 2003. Zeca deu nova vida à canção, que, diga-se de passagem, ficou bem melhor na sua voz. E mesmo apelando para aquele tipo de personagem fanfarrão que sempre aparece em seus discos (agora é a vez de “O garanhão” e de “O puxa-saco”), a peteca não cai em “Vida da minha vida”. “Poxa / Como foi bacana te encontrar de novo...”

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Em seguida, “Bolsa de grife”, a melhor faixa de “Bicicletas, bolos e outras alegrias”, de Vanessa da Mata:

2 de out. de 2010

Mike Rutherford, Sting, Radiohead, Morumbi, Rock Hudson, Orlando Silva, Calcanhotto, Elis, Emilinha, Tired Pony, Roger Waters, Muse, Lulu, Peanuts 60

Peanuts 60! A primeira tirinha, de 02 de outubro de 1950:


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UMA MÚSICA PRO FIM DE SEMANA: "Papo cabeça", do Lulu Santos. A minha música predileta do Lulu, e que está presente agora em seu "Acústico MTV II". Mas a versão original do "Honolulu" (1990) é melhor...



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Leitores da revista Total Guitar elegeram o riff de guitarra de "Plug in baby", do Muse, o melhor da década. O Muse também aparece na quinta posição da enquete, com "Knights of Cydonia". O top 10 foi o seguinte:
1. "Plug in baby" (Muse)
2. "Slither" (Velvet Revolver)
3. "Afterlife" (Avenged Sevenfold)
4. "The dark eternal night" (Dream Theater)
5. "Knights of Cydonia" (Muse)
6. "No one knows" (Queens Of The Stone Age)
7. "Seven nation army" (The White Stripes)
8. "Halo" (Machine Head)
9. "Mr. Brightside" (The Killers)
10. "Beast and the harlot" (Avenged Sevenfold)



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Roger Waters está sendo criticado por grupos semitas, por conta de um vídeo em seu novo show. Na atual turnê, Waters interpreta o álbum "The wall" (1980) na íntegra. E durante "Goodbye blue sky", um vídeo mostra um avião despejando dólares e Estrelas de Davi como se fossem bombas. Você pode tirar as suas conclusões com o vídeo abaixo.



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Fazia uns dois dias que estava procurando o vídeo do Tired Pony no programa do David Letterman. Finalmente encontrei. Vale a pena. Gostei muito dessa banda.



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Emilinha Borba ou Marlene? Essa era a "guerra" no programa César de Alencar. Aqui, eu fico com a Emilinha Borba. Pelo menos hoje. Já são cinco anos de saudade. Emilinha morreu no dia 03 de outubro de 2005.



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Acredite se quiser, mas houve um tempo em que as emissoras de TV transmitiam programas dedicados à Música Popular Brasileira. E eu estou falando de emissoras abertas, hein?? Bom, amanhã vai fazer 30 anos que um dos grandes momentos da história da televisão brasileira foi ao ar. Estou falando do especial "Elis Regina Carvalho Costa", dentro da série "Grandes Nomes", dirigida por Daniel Filho. Ontem eu revi esse DVD da Elis Regina. Queria destacar algo aqui no blog hoje. Mas ficou difícil. Qual foi o grande momento? O sorriso de Elis enquanto canta "O bêbado e a equilibrista" naquele período de "quase" reabertura? As lágrimas escorrendo em seu rosto durante a interpretação de "Atrás da porta", que vale como uma facada no estômago? A brincadeira de roda com músicos, bailarinos e plateia na emocionante "Redescobrir"? O beijo carinhoso no ombro de César Camargo Mariano durante "Modinha"? Elis se despedindo cantando "Fascinação"? Poderia realçar qualquer desses momentos aqui no blog. Mas, para mim, nada supera esse aqui...



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Amanhã é dia de dar os parabéns a Adriana Calcanhotto, uma das grandes cabeças da Música Popular Brasileira. Eu digo "cabeça" porque Adriana Calcanhotto não é só uma boa cantora. Aliás, eu a considero mais uma produtora do que uma cantora, da mesma forma que Nara Leão. Os seus álbuns são sempre muito bem pensados, com conceitos definidos. E é isso que eu mais admiro nos artistas. Adriana Calcanhotto completa 45 anos amanhã, ao mesmo tempo que coloca nas lojas o CD/DVD "Dois é show!". Mas eu ainda espero o DVD do "Maré". Será que algum dia sai??



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Vamos partir agora para os fatos importantes do dia 03 de outubro? Siiiiiim, responde o auditório. Bom, então vamos começar por Orlando Silva, que estaria comemorando 95 anos nesse domingo. Orlando Silva, com o seu estilo de cantar, plantou a primeira semente da Bossa Nova. E não sou eu quem disse isso não, mas João Gilberto. O "cantor das multidões", como era conhecido, cantou macio grandes clássicos da Música Popular Brasileira, como "Carinhoso" (de João de Barro e Pixinguinha), "Curare" (Bororó), "Rosa" (de Otávio de Sousa e Pixinguinha) e, a minha predileta, "Lábios que beijei" (de J. Cascata e Leonel Azevedo). Orlando Silva fez a transição perfeita entre os cantores de "dó de peito" e o canto suave da Bossa Nova. Ele morreu aos 62 anos, no dia 07 de agosto de 1978, por conta de um acidente cárdio-vascular.



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Muitos dos meus ídolos morreram de Aids, a praga que devastou parte da cultura na década de 80. Há 25 anos, as pessoas não sabiam direito do que se tratava a tal doença. A ignorância era tanta que alguns a chamavam de "câncer gay", ou seja, uma doença exclusiva dos homossexuais. A coisa ficou mais preocupante ainda no dia 02 de outubro de 1985, quando o ator norte-americano Rock Hudson morreu vitimado pela Aids. Ator famoso, ao morrer, Hudson acendeu a luz vermelha para as pessoas que ainda não tomavam cuidado, e achavam que a doença era brincadeira. Mas já era tarde. Muita gente já estava infectada. E, naquela época, a Aids era um atestado de óbito mesmo. Os meus heróis não morreram de overdose. Morreram de Aids.



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Agora vou falar só um pouquinho de futebol, porque um dos templos sagrados do esporte bretão (sempre tive vontade de escrever "esporte bretão") faz 50 anos hoje. Estou falando do Estádio Cícero Pompeu de Toledo, ou Morumbi, para os íntimos. Eu não sou íntimo do Morumbi (então não posso nem chamá-lo de Morumba), nunca vi nenhum jogo de futebol lá. Mas já vi alguns shows: U2, AC/DC, Madonna... E em novembro estarei lá de novo para ver o Paul McCartney. O Morumbi, que hoje é o quarto maior estádio do país, tem capacidade para 68 mil pessoas. E o primeiro jogo lá realizado (exatamente no dia 02/10/1960) foi São Paulo contra Sporting, de Portugal. Os donos da casa venceram por um a zero, gol de Peixinho.



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Eu me lembro bem do dia em que comprei "Kid A", do Radiohead. Coloquei para rodar imediatamente no CD-player do carro. À época, fui um dos poucos que gostei. E gostei muito. Confesso que tenho uma queda por coisas muito estranhas. E "Kid A", pelo menos quando foi lançado, era considerado muito "estranho". Tive que defender com unhas e dentes o disco do Radiohead em um grupo que tinha para ouvir discos. Ninguém gostou. Muitos não conseguiram nem passar de "Everything in its right place" - para mim, a melhor música do Radiohead. Enfim, hoje é engraçado que muitas dessas pessoas acham o "Kid A" genial. Um período de dez anos pode mudar muita coisa mesmo. E "Kid A" chegou às lojas no dia 02 de outubro de 2000.



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E hoje também é dia de dar os parabéns ao Sting, que faz 59 anos, com carinha de 29. Bom, o que é que eu vou falar do Sting aqui, gente? Bom, os últimos discos dele estão beeeem chatinhos. Esse negócio de gravar música inglesa medieval e também os seus sucessos em arranjos sinfônicos... Sei não, mas acho que o último grande álbum do Sting foi "Brand new day", láááá de 1999. Inclusive, quando ele veio aqui no Rock in Rio 3, ele estava divulgando esse álbum. Foi um bom show, embora muita gente tenha reclamado da ausência de "Every breath you take". Depois disso, teve a reativação do The Police. Mais uma vez, não faltou crítica. Eu achei animal. Vi quatro shows da turnê, todos sensacionais. E, volta e meia, o BD "Certifiable" rola aqui pelas madrugadas. Hum, boa ideia para hoje...



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Ah, chegou o sabadão, hein? Nossa, vocês não imaginam a quantidade de coisa legal que tenho pra escrever aqui no blog hoje. É aquele tipo de dia que dá até gosto trabalhar. Então vamos começar logo. E vamos começar pelo grande guitarrista do Genesis, Mike Rutheford, que hoje completa 60 anos. Aliás, ele não é só o guitarrista, mas um dos fundadores de uma das bandas mais importantes do rock progressivo. Rutherford também gravou dois álbuns solo no início da década de 80 e outros oito com a banda Mike + The Mechanics.

23 de set. de 2010

Ray Charles, John Coltrane, Bruce Springsteen, Paulo Ricardo, The Fall, Alice In Chains, Depeche Mode, Neil Young, Partimpim, Cake, Caetano Veloso

Ah, eu tinha que finalizar o post de hoje com ele novamente, né??



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Caetano Veloso vai gravar DVD e CD ao vivo de seu show "Zii e Zie", no Vivo Rio, no dia 08 de outubro. Seguindo o mesmo esquema de "Cê ao vivo", a pista da casa de shows estará livre para os fãs, ou seja, sem mesas e sem cadeiras. A pista custará R$ 40,00 a inteira, e R$ 20,00 a meia. Preço bacaninha. Eu vi a estreia do show, no Canecão, no ano passado, e foi bem legal. Pena Caetano ter escolhido logo o dia 08 de outubro, quando terá a concorrência da Dave Matthews Band e do Bon Jovi, aqui no Rio. Mais informações no site do Vivo Rio.

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Vocês se lembram do Cake? Eu tenho uma vaga recordação de coisas como "Never there", "Frank Sinatra" e a versão de "I will survive". E ainda vi um show deles em algum Free Jazz da vida. Pois bem, após seis anos, o Cake ataca novamente. O nome da nova música é "Sick of you", e, sei não, parece que ela já nasceu velha...



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Será lançado na primeira semana de novembro o novo DVD da Adriana Partimpim, "Dois é show". O grande destaque do repertório é "Um leão está solto nas ruas", que não faz parte de nenhum dos dois álbuns de estúdio lançados por Partimpim. Além do DVD, o pacote trará um CD com o áudio da apresentação, que foi gravada no Vivo Rio. As faixas de "Dois é show" são as seguintes: "Baile partimcundum", "Menina, menino", "Saiba", "Ciranda da bailarina", "Alface", "Canção da falsa tartaruga", "O trenzinho do caipira", "As borboletas", "Alexandre", "O homem deu nome a todos os animais", "Um leão está solto nas ruas", "Gatinha manhosa", "Oito anos", "Bim bom", "Lig-lig-lig-lé", "Lição de baião" e "Baile partimcundum". Também farão parte do pacote os videoclipes de "Fico assim sem você", "Baile partimcundum", "O trenzinho do caipira" e "Gatinha manhosa". Ao que parece, o DVD do antológico show "Maré" nunca será gravado mesmo... Pena.

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Vamos matar mais um pouquinho de saudades?



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Quer ouvir o novo álbum do Neil Young, inteirinho, "Le noise", em primeira mão, cinco dias antes do lançamento oficial? É só clicar aqui.

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Conforme eu já tinha adiantado aqui nessa semana, o Depeche Mode confirmou hoje o lançamento do DVD/CD/BD "Tour of the universe - Live in Barcelona", para o dia 08 de novembro. Gravado no Palau St Jordi - ginásio onde a seleção brasileira de vôlei masculino ganhou a medalha de ouro nas Olimpíadas de 1992, o vídeo traz o registro de 21 músicas, gravadas entre os dias 20 e 21 de novembro do ano passado, além de alguns extras, como um documentário da turnê ("Inside the universe"), videocipes de quatro faixas de "Sounds of the universe" (2009), ensaios filmados em Nova York (de "Wrong" e "Walking in my shoes"), e os sete screen films dirigidos por Anton Corbijn, especialmente para a turnê. "Tour of the universe - Live in Barcelona" será lançado em três formatos: DVD duplo + CD duplo, DVD simples (só com o show) + CD duplo e BD duplo. As 21 faixas do show são as seguintes: "In chains", "Wrong", "Hole to feed", "Walking in my shoes", "It's no good", "A question of time", "Precious", "Fly on the windscreen", "Jezebel", "Home", "Come back", "Policy of truth", "In your room", "I feel you", "Enjoy the silence", "Never let me down again", "Dressed in black", "Stripped", "Behind the wheel", "Personal Jesus" e "Waiting for the night". Ainda haverá quatro músicas extras filmadas nas duas apresentações: "World in my eyes", "Sister of night", "Miles away / The truth is" e "One caress".

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O Alice In Chains lançou um novo videoclipe. "Lesson learned" é uma das melhores faixas de "Black gives way to blue" (2009). E o clipe também está bem bacana. Olha aí:



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Na minha listinha com os meus (100?) álbuns prediletos ever, eu incluo, fácil, fácil, "This nation's saving grace", do The Fall, uma das mais importantes bandas do pós-punk britânico. Lançado em 1985, o nono álbum da banda chegou apenas ao 54º posto da parada britânica, mas, certamente, é o mais importante do The Fall. Tanto que a Spin o elegeu um dos cem mais importantes do período 1985-2005. A relação de faixas de "This nation's saving grace" é a seguinte: "Mansion", "Bombast", "Barmy", "What you need", "Spoilt victorian child", "L.A.", "Gut of the quantifier", "My new house", "Paintwork", "I am Damo Suzuki" e "To Nkroachment: Yarbles". E, hoje, exatos 25 anos após o seu lançamento, esse clássico continua rodando sempre por aqui.



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Do rock internacional para o brasileiro, agora é a vez de homenagear o jornalista Paulo Ricardo, que também foi líder do primeiro fenômeno do BRock, o RPM. Nascido a 23 de setembro de 1963, Paulo Ricardo, atualmente... Bom, confesso que não sei qual o projeto musical de Paulo Ricardo atualmente. Volta e meia, ele surge com algo novo: ressuscita o RPM, grava músicas românticas, monta o PR5, grava clássicos do Rock Brasil ou então músicas em espanhol. Enfim... Uma carreira com os seus altos e baixos. E o maior "alto" certamente foi a turnê "Rádio pirata", que originou o álbum ao vivo de mesmo nome, e que vendeu mais de dois milhões de cópias - até hoje, é um dos mais vendidos de todos os tempos no Brasil. E, coincidentemente, essa turnê, dirigida por ninguém menos que Ney Matogrosso, começou exatamente no dia 23 de setembro de 1985.



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Agora vamos partir para o rock? É bom, porque hoje, Bruce Springsteen sopra 61 velinhas. Eu não entendo porque existe uma barreira tão grande entre Springsteen e o Brasil. Ele é um dos artistas que mais vende disco e ingresso de show nos Estados Unidos e na Europa. Por aqui, parece que não acontece muito. Sinto um certo preconceito, na verdade. Talvez seja porque ele é parecido com o Rambo, sei lá... Ou então ele tenha ficado marcado com "Born in the U.S.A.". "Nacionalista chato", diriam alguns - pelo menos os que não entenderam que, na verdade, a letra era uma crítica ácida aos Estados Unidos, por conta da Guerra do Vietnã. De minha parte, sei que ele compôs algumas das maiores pérolas do rock, como "Born to run", "Dancing in the dark", "Out in the street", "The rising", "Badlands", "Thunder road"... E seus shows não duram menos do que três horas, como mostram os seus últimos DVDs "Live in Barcelona" (2003) e "London calling: Live in Hyde Park" (2010). O cara é um monstro.



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Às vezes eu me pergunto: "tem dias que as coisas conspiram, né"? Hoje é um deles. Saca só quem nasceu no dia 23 de setembro de 1926: John Coltrane. Se eu tiver que citar apenas uma obra de sua autoria, fico com "A love supreme" (1964), uma verdadeira oração em forma de música. É aquele tipo de música que a gente tem certeza que o artista alcançou o nirvana. Que o artista justifica a sua existência. Poxa, eu poderia realmente falar muita coisa aqui de John Coltrane, certamente o meu ídolo do jazz. Mas o tempo é escasso. Então, veja aí embaixo uma das minhas coisas favoritas...



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Bom dia, pessoal! Muito bom começar assim, né? E hoje não poderia ser diferente. Nesse 23 de setembro, celebramos os 80 anos de nascimento de um dos gênios da raça: Ray Charles. Grande pianista, cantor fenomenal, compositor, Ray Charles era completo. Como se não bastasse a infância sofrida, ele ainda ficou cego aos sete anos de idade. Acredito que essa cegueira que tenha alimentado a sua genialidade - assim como a de Stevie Wonder. Seu canto é daquele tipo que vem do fundo da alma. Do fundo da alma de um negro da Geórgia. Do fundo da alma de um negro cego da Geórgia. Do fundo da alma de Ray Charles.

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2 de mai. de 2010

Resenhando: Renato Russo, Madonna, Cássia Eller, White Stripes, Scorpions

Conforme prometido na semana passada, volto aqui com as resenhas de alguns álbuns interessantes lançados no mês de abril. São curtinhas, pá-pum.

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“Duetos” – Renato Russo
Pode acreditar que dói muito o coração criticar alguma coisa de Renato Russo, ainda mais pelo fato de ele não estar mais por aqui. Mas “Duetos”, CD que reúne 15 encontros de Renato com outros artistas, em alguns momentos, beira o mau gosto. Para começar, os duetos póstumos que uniu as vozes de artistas como Fernanda Takai (“Like a lover”) e Caetano Veloso (“Change partners”) a de Renato. Duetos do além, em definitivo, não descem bem, ainda mais o duplamente póstumo “Vento no litoral”, com Cássia Eller. Os duetos gravados em vida por Renato são mais interessantes, mas o problema é que vários deles já haviam sido lançados, como “A carta” (com Erasmo Carlos). No final, o CD vale mesmo pelas inéditas “Só louco” (com Dorival Caymmi), “Celeste” (com Marisa Monte) e “Esquadros” (com Adriana Calcanhotto), embora a qualidade das gravações não seja lá das melhores. Enquanto isso, os fãs continuam esperando o DVD com o show da Legião no Metropolitan ou no Jockey.

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“Sticky & sweet tour” – Madonna
Turnê de Madonna é batata: quando acaba, vem o DVD (e agora BD). Não poderia ser diferente na nababesca “Sticky & sweet tour”, que teve cinco datas no Brasil no final de 2008. O registro do DVD aconteceu antes dos shows brasileiros. Aproveitando que estava em Buenos Aires, Madonna arriscou “Don’t cry for me Argentina” ao lado de sucesso antigos (“Borderline”, “Vogue” e “Like a prayer”) e outros nem tanto (“Ray of light”, “Hung up” e “4 minutes”). O show de Madonna é cheio de informações, e um registro áudio-visual é bem-vindo. Mas, no final da apresentação, com o “game over” escrito no telão, fica a sensação de que o show de Madonna mais parece aqueles joguinhos eletrônicos que a gente zera de primeira, em poucos minutos. É tudo certinho demais, repetitivo demais. Mas, talvez, essa seja a graça. Além do show, o DVD traz um documentário com bastidores, e um CD com algumas canções extraídas da apresentação.

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“Violões” – Cássia Eller
Um dos grandes lançamentos do ano foi esse “Violões” da Cássia Eller em DVD. O CD (com o registro de um show diferente) já havia sido lançado em 1996. O DVD, no qual Cássia é acompanhada apenas pelos violões de Luciano Mauricio e Walter Villaça, traz uma apresentação para um especial da TV Cultura, no mesmo ano. Mais interessante do que escutar (e agora ver) canções como “E.C.T.”, “Socorro”, “Lanterna dos afogados”, “Rubens” e “Blues da piedade”, é observar a transição da cantora, de “indie” ao “mainstream”, o que, de fato, veio a acontecer em “Com você... Meu mundo ficaria completo” (1999) e no “Acústico MTV” (2001). Aliás, esse “Violões” mais simples, direto e visceral, é bem mais interessante do que o especial (cheio de pompa) idealizado pela MTV. “Violões”, apesar de o áudio não ser dos melhores, é o DVD mais digno da carreira de Cássia Eller.

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“Under great White nothern lights” – The White Stripes
Entre junho e julho de 2007, a dupla formada por Jack e Meg White rodou o Canadá de cabo a rabo, em uma turnê que passou por 18 cidades. Com algum atraso, é lançado o DVD/BD e CD com o registro dessa turnê. O White Stripes sempre se destacou em cima do palco. E é uma pena que o palco tenha sido mandado para escanteio no DVD. Quase nenhuma música aparece inteira, com o vídeo mais parecendo uma colcha de retalhos, raspando trechos de apresentações da dupla em ônibus, barcos, casas de boliche, biroscas, praças e nas casas de show propriamente ditas. O filme até que é legal por mostrar os bastidores dessa (surreal) turnê. Mas é o tipo de filme que você vê uma vez e está mais do que visto. Melhor ficar com o CD, que traz 16 faixas extraídas desses shows (com ótimo áudio) na íntegra, ou então com o ótimo DVD “Under Blackpool lights”, de 2004.

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“Sting in the tail” – Scorpions
Levanta o dedo quem espera algo novo dos Scorpions! Hum, ninguém levantou, né? “Sting in the tail” é o 17º álbum de estúdio da banda alemã. E em nada se diferencia dos 16 anteriores. É tudo muito igual e, no final, fica aquela sensação de que você já ouviu esse mesmo disco dezenas de vezes. Transitando entre rockzinhos farofas (“Raised on rock”) até baladas que os fãs poderiam acender os isqueiros se estivéssemos em 1985 (“SLY”), quase nada de relevante pode ser aproveitado desse álbum. Os saudosistas de plantão talvez ainda consigam se emocionar com “No limit” (espécie de irmã gêmea de “Big city nights”) e “Spirit of rock”. Mas a emoção não chega a ser maior do que a de um jogo de Campeonato Carioca. Tomara que esse seja mesmo o último álbum dos Scorpions.

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Abaixo, o trailer do DVD/BD “Under great White nothern lights”, do White Stripes. Fica o aviso de que o trailer é muito mais legal do que o filme propriamente dito.


30 de jun. de 2008

SHOW: “MARÉ” (ADRIANA CALCANHOTTO) – A MARÉ CHEIA DE CALCANHOTTO

Demorou um pouco, mas depois de alguns meses, Ney Matogrosso encontrou um concorrente a altura para disputar o prêmio de melhor show do ano. (Tudo bem que, na verdade, “Inclassificáveis” estreou em São Paulo no final do ano passado, mas como o espetáculo começou a rodar o Brasil nesse ano, podemos considerá-lo como um show de 2008.) Assim como Ney, Calcanhotto, em “Maré”, apresenta um show hermético, temático, com início, meio e fim – coisa cada vez mais difícil de se assistir nas casas de espetáculo.

Como poucos artistas, Calcanhotto sabe misturar, com a maior competência, o bom gosto com o populacho (não que sejam necessariamente coisas dissociadas). Por exemplo, uma canção extremamente popular como “Meu Mundo E Nada Mais”, de Guilherme Arantes, ganha novos (m)ares na interpretação da (cada vez mais) cantora e (cada vez menos, infelizmente) compositora gaúcha. Já dá até para imaginar o sucesso que essa gravação vai fazer, caso saia o CD ao vivo... O grande hit “Devolva-me” é outra que ganha um peso formidável com a sua interpretação.

Em um palco que simula o fundo do mar (com um cenário do sempre preciso Elio Eichbauer, cheio de cavalos marinhos e uma concha imensa na frente do teclado), Calcanhotto faz as vezes de uma de sereia – embalada em estonteante figurino de Gilda Midani. Chega de mansinho no palco, mas como uma intensidade tão forte, que o público fica até receoso de aplaudi-la, afinal de contas, fica difícil bater palmas no fundo do mar...

Após a entrada de Calcanhotto, ela e sua ótima banda – formada por Bruno Medina (teclados), Marcelo Costa (bateria), Alberto Continentino (baixo) e Domenico Lancellotti (bateria, percussão, barulhinhos etc) – atacaram com a faixa-título do show. “Três”, de Marina Lima, veio em seguida, e ganhou o peso que faltou no disco, principalmente pelo trabalho de Domenico. “Seu Pensamento” serviu para mostrar que as canções de “Maré” estão, de fato, no palco, superiores ao disco. Após, Calcanhotto fez a sua clássica saudação ao público (“É um prazer tocar aqui. Vocês acham que eu falo isso todas as noites, eu falo mesmo, mas aqui é verdade...”) e mandou o sucesso “Mais Feliz”, sucesso do álbum “Maritmo”, gravado em 1998 e que iniciou a trilogia marítima da cantora gaúcha. “Asas”, a canção seguinte, também é do mesmo disco. “Teu Nome Mais Secreto” e “Para Lá” (esta inferior à interpretação definitiva de Arnaldo Antunes), duas de “Maré”, deram continuidade ao show.

Em seguida, Adriana cantou o samba “Vai Saber”, feito para Mart’nália e que acabou entrando no CD “Universo Ao Meu Redor”, de Marisa Monte. Aliás, ela estrava presente na platéia do show de ontem, no Canecão. “Esquadros” (outra de “Maritmo”) foi a deixa para o público cantar junto, assim como “Mulher Sem Razão”, um hit magnífico e extemporâneo de Cazuza.

Fazendo um link com o poeta do Baixo Leblon, Adriana aproveitou para cantar duas poesias musicadas em seguida: “Sem Saída” (de Augusto de Campos) e outra de Fiama Hasse Pais Brandão, poetisa portuguesa, durante a qual, tocou violoncelo. Segundo a cantora, essa canção ficou de fora de “Maré” não se sabe o porquê.

“Tive Razão”, composição de Seu Jorge deu continuidade ao show, antes de Adriana Calcanhotto voltar a ser Adriana Partimpim e perguntar: “Tem criança na platéia?”. A conseqüência, claro, foi “Fico Assim Sem Você”, em versão fiel a do disco dedicado às crianças (adultas). “Um Dia Desses”, canção lúdica de “Maré” e que remete ao seu trabalho anterior, entrou em seguida. Já com Adriana Calcanhotto de pé, foi a vez da inevitável “Vambora”, cantada em uníssono pela platéia. “Porto Alegre (Nos Braços De Calipso)” e uma versão com uma pegada forte (com direito a dueto de baterias) de “Maresia” terminaram o show.

Nem precisava, mas Adriana ainda retornou ao palco duas vezes. Na primeira, mandou uma versão arrepiante (apenas com guitarra) do clássico caymmiano “Quem Vem Pra Beira Do Mar”, para em seguida atacar de “Meu Mundo E Nada Mais” e, surpresa, uma excelente versão – superior a original do Los Hermanos (ex-banda do tecladista Bruno Medina) – para “Deixa o Verão”. Na segunda volta ao palco, apenas com o seu violão, foi a vez de “Cariocas” (presente exclusivo para os fãs que assistiram ao show no Rio de Janeiro) e “Devolva-me”.

Tanto o disco quanto o show “Maré” colocam, de vez, Adriana Calcanhotto não só no posto das grandes artistas brasileiras, como, a consagra a maior artista da música brasileira da atualidade, ao lado de Maria Bethânia. E que venha o DVD! Rapidamente, por favor!

Abaixo, a canção “Seu Pensamento”, filmada durante show em Lisboa.

Cotação: *****

3 de mai. de 2008

BANQUETE MARÍTIMO

Qualquer novo trabalho de Adriana Calcanhotto merece atenção redobrada do ouvinte. Seus discos são (um pouco) mais difíceis do que a média e (bastante) superiores aos lançados no cada vez mais pobre mercado fonográfico brasileiro. Assim, se o ouvinte não tiver paciência, à primeira escutada, pode jogar o CD no fundo do armário e nunca mais escutá-lo.

Com “Maré”, lançado agora pela Sony/BMG, a história não é diferente. Conforme já demonstrou em grandes discos como “Maritmo” (1998) e “Cantada” (2002), Calcanhotto não conquista o ouvinte de primeira. É preciso escutar o disco cada vez mais, até as canções se tornarem íntimas. E quando o ouvinte chega a esse estágio, descobre porque Adriana Calcanhotto é – fácil – uma das grandes artistas do Brasil, na atualidade.

O seu novo disco, na verdade, é um banquete. Tipo aqueles que são servidos em restaurantes, com vários pratos diferentes e apresentados em pequeníssimas e refinadas porções. Aliás, ainda que inconscientemente, talvez a chef Roberta Sudbrack – responsável pelo “catering” da cantora durante a gravação do disco – tenha sido uma enorme influência para a compositora gaúcha. Assim como a comida de Sudbrack, as canções de “Maré” seguem um verdadeiro ritual de uma saborosa degustação, que começa com o amuse bouche bossa-novístico da faixa-título “Maré” até culminar nos sofisticados queijos franceses de um “Sargaço Mar” do fundo da alma de Dorival Caymmi.

Conforme Calcanhotto explicou, “Maré” é o segundo disco de uma trilogia que foi iniciada com “Maritmo”. A letra, da lavra da própria cantora, dá uma pista da continuação: “Mais uma vez / Vem o mar / Se dar / Como imagem”. O CD prossegue com a bela “Seu Pensamento” (parceria com o sempre competente Dé Palmeira) e que segue a mesma linha da anterior, com um arranjo delicado e a voz sempre agradável de Adriana Calcanhotto.

Nesse novo trabalho, a compositora gaúcha se deu ao luxo de recriar canções de terceiros. Algumas escolhas funcionaram bem, outras nem tanto, que é o caso de “Três”. Apesar de ser uma boa composição dos irmãos Marina Lima e Antonio Cícero, Calcanhotto não encontra o tom perfeito para a sua interpretação. E, assim, fica impossível, não vir à mente a gravação original imbatível de sua autora, no disco “Lá Nos Primórdios” (2006). Por outro lado, “Porto Alegre (Nos Braços de Calipso)”, de Péricles Cavalcanti, com seu delicioso arranjo, é um dos pontos altos de “Maré”. E ainda conta com os luxuosos e discretos backing vocals de Marisa Monte. Em suma, seria a lagosta do banquete, acompanhada por um risoto de açafrão...

Em seguida, “Mulher Sem Razão”, parceria de Cazuza, Bebel Gilberto e Dé Palmeira, e que fez parte do testamento-musical do poeta carioca, “Burguesia” (1989). A canção que acabou perdida na obra de Cazuza, renasce na voz de Calcanhotto, e tem tudo para ser o grande sucesso de “Maré”. A sua letra rascante (“Saia dessa vida de migalhas / Desses homens que te tratam / Como um vento que passou / Caia na realidade, fada / Olha bem na minha cara / E confessa que gostou”), no melhor estilo “cinco horas da manhã no Baixo Leblon”, seria uma espécie de sobert de limão (o mais cítrico que existir) antes de se iniciar a segunda parte da refeição.

E esse segundo tempo é um pouco menos assimilável. A partir da sexta faixa, “Teu Nome Mais Secreto” – que, sozinha, já vale o disco inteiro –, podemos dizer que a leve carne dos frutos do mar é trocada por algo mais pesado. O magret de canard – que a Roberta Sudbrack me perdoe por esse banquete tão estúpido!! – com o auxílio luxuoso do violão de Jards Macalé, foi frito por ninguém menos que Waly Salomão (de quem mais poderia ser versos como “Só meu sangue sabe tua seiva e senha / E irriga as margens cegas / De tuas elétricas ribeiras / Sendas de tuas grutas ignotas”?), a quem, aliás, o CD é dedicado.

“Sem Saída” é uma poesia do concretista Augusto de Campos musicada por seu filho, Cid Campos. A curta (e densa) letra é carne bem pesada (“A Estrada é muito comprida / O caminho é sem saída / Curvas enganam o olhar”) e merece algo mais leve em seguida para uma boa digestão. E é o que ocorre com as duas próximas canções. “Para Lá” é uma boa música de Calcanhotto com letra de Arnaldo Antunes. A discreta guitarra de Arto Lindsay (que produziu o disco juntamente com a compositora gaúcha) dá um molho todo especial à canção. E “Um Dia Desses” representa um lado mais lúdico de Calcanhotto – ou não seria Partimpim?. A letra simples e delicada de Torquato Neto e musicada por Kassin é doce como um souflé de chocolate: “Um dia desses eu me caso com você / Você vai ver ai, ai, você vai ver / Um dia desses, de manhã, com padre e pompa / Você vai ver como eu me caso com você”.

O grand finale com “Onde Andarás” é puro luxo, com a linda poesia de Ferreira Goulart musicada por Caetano Veloso. E “Sargaço Mar”... Bom, “Sargaço Mar”... Dorival Caymmi... E somente com o violão de Gilberto Gil... Não precisa de maiores comentários... E nem do cafezinho.

Cotação: ****

27 de abr. de 2008

ADRIANA CALCANHOTTO ANUNCIA TURNÊ DE “MARÉ”


A cantora e compositora Adriana Calcanhotto, que acaba de lançar o seu novo disco “Maré”, anunciou uma turnê que vai rodar Brasil e Portugal. Antes, porém, Calcanhotto vai se apresentar em Buenos Aires, no dia 10 de maio, no Teatro Gran Rex. A partir do dia 19 do mesmo mês, a cantora gaúcha começa a turnê por Portugal, que passará por Lisboa, Aveiro, Torres Novas, Porto, Guimarães e Ponte Delgada.
A turnê brasileira começa no dia 13 de junho, no Citibank Hall, em São Paulo. Estão programados apenas três shows na capital paulista, mas há a possibilidade de mais três extras no fim de semana seguinte. Após São Paulo, Calcanhotto aporta no Canecão, no Rio de Janeiro, para apresentações nos dias 27, 28 e 29 de junho.
Dando continuidade, Calcanhotto, passa por cidades como Juiz de Fora, Brasília, Porto Alegre e outras, até chegar ao Palácio das Artes, em Belo Horizonte, nos dias 14 a 16 de novembro. Antes, no dia 25 de outubro, a cantora se apresenta em Miami.
Não há informações ainda com relação a venda de ingressos.
E a crítica do disco “Maré”, você pode ler no SRZD.