30 de jun. de 2008

SHOW: “MARÉ” (ADRIANA CALCANHOTTO) – A MARÉ CHEIA DE CALCANHOTTO

Demorou um pouco, mas depois de alguns meses, Ney Matogrosso encontrou um concorrente a altura para disputar o prêmio de melhor show do ano. (Tudo bem que, na verdade, “Inclassificáveis” estreou em São Paulo no final do ano passado, mas como o espetáculo começou a rodar o Brasil nesse ano, podemos considerá-lo como um show de 2008.) Assim como Ney, Calcanhotto, em “Maré”, apresenta um show hermético, temático, com início, meio e fim – coisa cada vez mais difícil de se assistir nas casas de espetáculo.

Como poucos artistas, Calcanhotto sabe misturar, com a maior competência, o bom gosto com o populacho (não que sejam necessariamente coisas dissociadas). Por exemplo, uma canção extremamente popular como “Meu Mundo E Nada Mais”, de Guilherme Arantes, ganha novos (m)ares na interpretação da (cada vez mais) cantora e (cada vez menos, infelizmente) compositora gaúcha. Já dá até para imaginar o sucesso que essa gravação vai fazer, caso saia o CD ao vivo... O grande hit “Devolva-me” é outra que ganha um peso formidável com a sua interpretação.

Em um palco que simula o fundo do mar (com um cenário do sempre preciso Elio Eichbauer, cheio de cavalos marinhos e uma concha imensa na frente do teclado), Calcanhotto faz as vezes de uma de sereia – embalada em estonteante figurino de Gilda Midani. Chega de mansinho no palco, mas como uma intensidade tão forte, que o público fica até receoso de aplaudi-la, afinal de contas, fica difícil bater palmas no fundo do mar...

Após a entrada de Calcanhotto, ela e sua ótima banda – formada por Bruno Medina (teclados), Marcelo Costa (bateria), Alberto Continentino (baixo) e Domenico Lancellotti (bateria, percussão, barulhinhos etc) – atacaram com a faixa-título do show. “Três”, de Marina Lima, veio em seguida, e ganhou o peso que faltou no disco, principalmente pelo trabalho de Domenico. “Seu Pensamento” serviu para mostrar que as canções de “Maré” estão, de fato, no palco, superiores ao disco. Após, Calcanhotto fez a sua clássica saudação ao público (“É um prazer tocar aqui. Vocês acham que eu falo isso todas as noites, eu falo mesmo, mas aqui é verdade...”) e mandou o sucesso “Mais Feliz”, sucesso do álbum “Maritmo”, gravado em 1998 e que iniciou a trilogia marítima da cantora gaúcha. “Asas”, a canção seguinte, também é do mesmo disco. “Teu Nome Mais Secreto” e “Para Lá” (esta inferior à interpretação definitiva de Arnaldo Antunes), duas de “Maré”, deram continuidade ao show.

Em seguida, Adriana cantou o samba “Vai Saber”, feito para Mart’nália e que acabou entrando no CD “Universo Ao Meu Redor”, de Marisa Monte. Aliás, ela estrava presente na platéia do show de ontem, no Canecão. “Esquadros” (outra de “Maritmo”) foi a deixa para o público cantar junto, assim como “Mulher Sem Razão”, um hit magnífico e extemporâneo de Cazuza.

Fazendo um link com o poeta do Baixo Leblon, Adriana aproveitou para cantar duas poesias musicadas em seguida: “Sem Saída” (de Augusto de Campos) e outra de Fiama Hasse Pais Brandão, poetisa portuguesa, durante a qual, tocou violoncelo. Segundo a cantora, essa canção ficou de fora de “Maré” não se sabe o porquê.

“Tive Razão”, composição de Seu Jorge deu continuidade ao show, antes de Adriana Calcanhotto voltar a ser Adriana Partimpim e perguntar: “Tem criança na platéia?”. A conseqüência, claro, foi “Fico Assim Sem Você”, em versão fiel a do disco dedicado às crianças (adultas). “Um Dia Desses”, canção lúdica de “Maré” e que remete ao seu trabalho anterior, entrou em seguida. Já com Adriana Calcanhotto de pé, foi a vez da inevitável “Vambora”, cantada em uníssono pela platéia. “Porto Alegre (Nos Braços De Calipso)” e uma versão com uma pegada forte (com direito a dueto de baterias) de “Maresia” terminaram o show.

Nem precisava, mas Adriana ainda retornou ao palco duas vezes. Na primeira, mandou uma versão arrepiante (apenas com guitarra) do clássico caymmiano “Quem Vem Pra Beira Do Mar”, para em seguida atacar de “Meu Mundo E Nada Mais” e, surpresa, uma excelente versão – superior a original do Los Hermanos (ex-banda do tecladista Bruno Medina) – para “Deixa o Verão”. Na segunda volta ao palco, apenas com o seu violão, foi a vez de “Cariocas” (presente exclusivo para os fãs que assistiram ao show no Rio de Janeiro) e “Devolva-me”.

Tanto o disco quanto o show “Maré” colocam, de vez, Adriana Calcanhotto não só no posto das grandes artistas brasileiras, como, a consagra a maior artista da música brasileira da atualidade, ao lado de Maria Bethânia. E que venha o DVD! Rapidamente, por favor!

Abaixo, a canção “Seu Pensamento”, filmada durante show em Lisboa.

Cotação: *****

2 comentários:

Cris Carriconde disse...

Eu também fui ao show no domingo e saí encantada.
Tua analise esta perfeita!

Anônimo disse...

Já falei que esse negócio de ficae elogiando artista não tá com nada... heheh
abraço