23 de jun. de 2008

RECEITA PARA UM DVD VENDER MUITO

Como já é de praxe no mercado brasileiro de discos, depois do CD ao vivo é a vez do DVD. (Até mesmo porque se ambos saíssem juntos, dificilmente alguém iria comprar o CD.) Agora é a vez de Dudu Nobre, que, há menos de um mês, colocou nas lojas o CD com o mesmo show constante no DVD agora lançado.

No finalzinho do making of do DVD (aliás, as gravadoras brasileiras precisam aprender urgentemente o que é um making of, pois esse de Dudu Nobre, assim como 99% dos outros que aparecem em extras de DVD estão bem distantes do que seja realmente um making of), Rildo Hora diz: “Dudu é o retrato no Brasil. Porque ele é sambista e o samba é o ritmo que abraça toda a nação brasileira”. Aproveitando a deixa do maestro, após uma olhada neste “Roda de Samba”, podemos afirmar o seguinte: “Esse DVD de Dudu é o retrato do mercado fonográfico brasileiro”.

Além do fato de ter sido lançado logo após o CD ao vivo, como já dito acima, neste “Roda de Samba” é possível identificar toda a receita para se fazer um DVD que venda bastante.

A receita das gravadoras pode ser resumida da seguinte maneira:
1) Pegue um artista popular do seu elenco;
2) Coloque-o para cantar várias canções antigas (suas e de outros compositores);
3) Chame alguns convidados especiais também bastante populares (nesse caso, se o Zeca Pagodinho aceitar o convite, é garantia de umas 30 mil cópias vendidas);
4) Grave ao vivo. Para enxugar o orçamento, de preferência em um local sem custos. Por que não o quintal da própria gravadora?;
5) Arrume um patrocínio e coloque o seu logotipo no fundo do palco. Isso vai ajudar a pagar o chope dos VIPS e o cachê dos músicos;
6) Por falar em VIPS, encha a platéia deles. O pessoal em casa vai adorar reconhecer os artistas e os jogadores de futebol;
7) Três meses depois, na hora do lançamento do projeto, coloque primeiro o CD no mercado;
8) Um mês depois, coloque o DVD. O fã verdadeiro, que já comprou o CD vai ter que dar mais uma graninha para a gravadora na hora de levar o vídeo para casa;
9) O DVD deve ter umas três músicas que não tem no CD. Isso porque, mesmo que o consumidor não goste de DVD, vai ter que comprá-lo só para ouvir as três músicas que ficaram de fora do CD. Se der para deixar de fora um grande sucesso, faça-o. Observação importante: mesmo que essas três músicas caibam no CD (caso deste “Roda de Samba”), não seja maluco de incluí-las.
10) Quando a turnê estiver nos trinques, lotando todos os Halls da vida, faça um outro DVD com o mesmo repertório do anterior.

Impressionante notar como os nove primeiros ingredientes acima foram usados neste “Roda de Samba”. Quanto ao décimo, só o tempo dirá. Se formos julgar pela qualidade, ele está quase que garantido, afinal Dudu Nobre, mesmo quando não lança álbum de inéditas, consegue ser muito bom.

A crítica do CD, que é igual ao DVD, já foi escrita aqui nesse blog há pouco tempo. Quem quiser encontrar maiores detalhes, ela está aqui.

E para dizer que não há nada de diferente no DVD, seguem as três faixas que ficaram de fora do CD (tópico 9 da receita acima): “Feirinha da Pavuna”, “Patrão Prenda Seu Gado” e o medley “Eu Não Fui Convidado / Não Quero Saber Mais Dela”. As duas últimas são pérolas do repertório de Pixinguinha. Provavelmente ficaram de fora do CD porque um artista como ele não vende muito...

Cotação: ***1/2

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