“Ladies & gentlemen”– Rolling Stones
O Rolling Stones é das bandas mais preocupadas em registrar a sua história para a posteridade. Entra turnê, sai turnê, e o que não falta é DVD e CD ao vivo. Os últimos boxes chegavam a conter três, quatro shows da mesma turnê. Exagero? Pelo menos em se tratando de Rolling Stones, claro que não. Mas havia uma lacuna importante nessa história audiovisual da banda: o vídeo que documentava a turnê norte-americana de divulgação do álbum “Exile on main st.”, de 1972. Faltava. Pelo menos lá fora, a ST2 já colocou nas lojas, em DVD e BD, “Ladies & gentlemen”, o tal vídeo que somente passou em algumas salas de cinema em 1974, e que mostra a banda, certamente em seu auge criativo, ao vivo no Texas. O áudio foi remasterizado e está tinindo. A imagem, às vezes, fica um pouco escura. Mas nada que tire o brilho desse documento tão importante. Em quase hora e meia, os Stones apresentam um roteiro de 15 músicas. Bom, 38 anos depois, todas elas já podem ser chamadas de clássicos. E é exatamente isso que deixa o vídeo ainda mais interessante: ver como a banda apresentava músicas, à época, pouco conhecidas, como “Tumbling dice”, “Happy” e “All down the line”, todas elas do recém lançado “Exile on main st.”. O resto do repertório? “Brown sugar” (a primeira do roteiro, em arrebatadora versão), “Midnight rambler”, a lindíssima “Dead flowers”, “Jumpin’ Jack Flash”, “Street fighting man”... Talvez esse “Ladies & gentlemen” seja o vídeo mais tosco, em termos de produção, dos Rolling Stones. Mas, sem dúvida, é o que melhor mostra o que essa banda – preciso dizer que é uma das três mais importantes de todos os tempos?? – fazia (faz) em cima de um palco.
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“Bailão do ruivão” – Nando Reis e Os Infernais
Quem não tem muito conhecimento da carreira de Nando Reis e pega o seu último CD/DVD “Bailão do ruivão”, não terá dúvidas em afirmar: “Nando Reis se vendeu”. Mas quem já foi a algum show do ex-integrante dos Titãs sabe muito bem que Nando Reis sempre gostou de apresentar algumas músicas, inusitadas para o público, mas em total consonância com a sua memória afetiva. Nando está cantando Wando no “Bailão do ruivão”? Ele já fez isso em vários shows da turnê de “A letra A”. Outras rolaram em algumas apresentações do “Drês” também. Aí o crítico mais chato vai indagar: “Ah, mas no ‘Bailão’ são 19 músicas assim, não?”. Sim, por isso que se trata de um projeto especial na carreira do ex-Titã. Projeto este que, é bom já deixar claro, talvez não agrade a todos os seus fãs, ainda mais depois do lançamento de um álbum tão substancioso quanto o “Drês”, de 2009. Gravado ao vivo no Carioca Club, em São Paulo, esse “Bailão do ruivão” pode passar, inicialmente, uma impressão de que Nando Reis escolheu um repertório cafona, como se estivesse querendo ironizar: “Se é isso que faz sucesso hoje em dia, é isso que vou cantar para vender disco”. Bom, apesar de um Calypso (“Chorando se foi”) aqui, um Wando (“Fogo e paixão”) ali, e um Genival Lacerda (“Severina Xique Xique”) acolá, Nando resgata boas canções de Rita Lee (“Agora só falta você”), Edson Trindade (“Gostava tanto de você”, sucesso na voz de Tim Maia), Bob Marley (“Could you be loved?”, com participação da banda Zafenate, do filho de Nando, Theodoro), Zé Ramalho (“Frevo mulher”) e Johnny Nash (“I can see clearly now”). De sua carreira solo, Nando Reis mostra “Do seu lado”, com Zezé di Camargo & Luciano, e ainda resgata “Bichos escrotos”, dos Titãs. Ao final do DVD fica a dúvida: “Será que o tal bailão é pra ser levado a sério?”. Bobagem pensar nisso. O mais importante é que ele diverte. E muito.
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“Station to station” (Edição especial) – David Bowie
Aposto que 90% dos bowiemaníacos não teriam dúvida em afirmar que o álbum “Station to station” (1976) está em qualquer top 5 do compositor britânico. Eu também não teria dúvidas. “Station to station” é um épico. Tem apenas seis músicas. Como se David Bowie quisesse mostrar que não é necessário mais que seis faixas para se fazer um álbum antológico. E ele conseguiu. “Station to station”, como sugere o próprio título, é um álbum de transição na carreira de David Bowie. Depois do rock no clássico “The rise and fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars” (1972), e em “Aladdin Sane” (1973) e “Diamond dogs” (1974), Bowie flertou de maneira forte com o soul em “Young americans” (1975). Quando os fãs imaginavam que Bowie iria descambar para esse lado, “Station to station” veio como uma surpresa. No álbum de 1976, o cantor misturava tantos ritmos como nunca havia feito em trabalho anterior nenhum. Soul (“Stay”), rock (“TVC 15”), pop (“Word on a wing”), disco (“Golden years”), tudo misturado (na faixa-título) de maneira brilhante. Tudo o que o pós-punk apresentou alguns anos depois, saca? Talvez tenha sido em “Station to station” que David Bowie criou o seu estilo de verdade. Assim, não chega a ser surpresa o fato de o cantor ter escolhido exatamente esse álbum para fazer uma edição bem especial. Além de um box exagerado com cinco CDs, três LPs e um DVD, saiu outro mais em conta (que é o que eu tenho), com o disco “Station to station” com a sua masterização analógica original, e um CD duplo com um show da turnê do álbum, gravado ao vivo no Nassau Coliseum, a 23 de março de 1976. O áudio do show estronda, e posso afirmar, com toda certeza, que se trata do melhor álbum ao vivo lançado por Bowie até aqui – e olha que ele tem um tal de “Stage” (1978) no currículo. São 15 músicas espalhadas em pouco mais de 80 minutos que chegam a ser hipnóticos. Músicas do álbum de estúdio recém lançado convivem com clássicos como “Suffragette city”, “Fame”, “Five years”, “Changes”, “Life on Mars?” (que bela versão!!), “Diamond dogs”, Rebel rebel”, “The Jean Genie”... Tudo isso com David Bowie em seu auge. Altamente recomendável para bowiemaníacos e futuro bowiemaníacos.
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“Trilhas” – Lenine
“Lenine.doc / Trilhas surgiu quando percebi que havia criado um repertório significativo de canções, compostas especificamente para determinados personagens em obras de diferentes veículos e criadores. É um projeto que está intimamente ligado ao exercício da composição. São músicas que povoaram trilhas de novelas, seriados, especiais de TV, cinema, dança e publicidade.” É dessa forma que Lenine apresenta o seu novo álbum, “Trilhas”. E é bom registrar que tal apresentação pode dar uma ideia errada do disco. Ainda mais quando nos lembramos daquelas coletâneas “Novelas” que a Som Livre volta e meia coloca nas lojas, com nomes de artistas que vão de Gal Costa a Roupa Nova. Diferentemente dessas coletâneas caça-níqueis, “Trilhas”, de tão hermético que é, pode ser considerado, um álbum de carreira de Lenine. Ele, inclusive, soa até mais sedutor do que “Labiata” (2008), último trabalho de inéditas do compositor pernambucano. “Trilhas” começa exatamente com “Aquilo que dá no coração”, música de abertura da novela “Passione”. Trata-se de uma das melhores composições de Lenine. Por quê? Porque mesmo tocando diariamente na TV, ela fica, a cada dia, mais gostosa de ser ouvida, com o seu arranjo fantástico de metais, obra de Serginho Trombone. Também de novela, “Agora é que são elas”, de 2003, apresenta um Lenine mais funkeado, assim como “Não faz mal a ninguém”, gravada para a novela “Sete pecados” (2007). O samba “Quatro horizontes”, parceria de Lenine com Pedro Luis (e com participação d’A Parede), para o filme “Diabo a quatro”, é uma das gravações mais deliciosas desse “Trilhas”. O coco “Como é bom a gente amar” (de autoria de Lula Queiroga, para o filme “A pessoa é para o que nasce”) também é outro grande momento, da mesma forma que “Diversidade”, feita especialmente para o ótimo especial “A terra dos meninos pelados”, musical infantil originalmente escrito por Graciliano Ramos, e que foi ao ar pela TV Globo no ano de 2003. Como faixa bônus, “Alpinista social”, música composta para a novela “Lua cheia de amor”, em 1990. Como diz Lenine no encarte, o “início de tudo”. Valeu a pena ter insistido.
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“No Brasil com Trio Mocotó” – Dizzy Gillespie & Trio Mocotó
Quando Dizzy Gillespie visitou o Brasil em 1974, gravou uma sessão com o Trio Mocotó no estúdio Eldorado. O álbum não foi lançado à época de sua gravação porque o editor Norman Granz a considerou não comercial. A fita estava perdida até o ano passado. Finalmente encontrada, foi digitalizada e lançada pela Biscoito Fino. Mas o caminho não foi nada fácil. Na fita não havia indicação de nada: data, músicos, nomes das faixas... Depois de um trabalho minucioso, o produtor, amigo e herdeiro de Dizzy, Jacques Muyal, conseguiu reunir todas as informações. Na verdade, a ideia inicial do criador do be-bop era outra: juntar cem ritmistas brasileiros e gravar um disco. Mas a gravadora Phillips considerou inviável colocar tanta gente dentro de um estúdio. Aí, os executivos sugeriram que Dizzy se reunisse com o grupo Os Originais do Samba. Após alguns ensaios, o trompetista acabou se entrosando mais com o Trio Mocotó, formado por Nereu Gargalo, João Parayba e Fritz Escovão. Só que o resultado acabou esquecido. “Ele [Dizzy] nunca mais deu notícia daquele disco. Uma vez nós o encontramos em Montreux, mas nem ele mesmo lembrava mais daquilo. Acho que não gostou”, disse João Parayba ao repórter Jotabê Medeiros em reportagem para o jornal O Estado de S. Paulo, publicada em maio de 2009. Se ele gostou ou não, vai ser difícil a gente descobrir a uma altura dessa. Mas o resultado daquelas longínquas sessões, que pode ser ouvido agora em “Dizzy Gillespie no Brasil com Trio Mocotó”, é, no mínimo, surpreendente. Dizzy e o Trio Mocotó fazem um “sambe-bop” da melhor qualidade, em faixas deliciosas como “Samba” e “Dizzy’s shout / Brazilian improvisation”, essa última com fortes ecos da Bossa Nova. Já “Behind the moonbeam” lembra, de longe, “Samba de uma nota só” misturada a “Samba do avião”, ambas de Antonio Carlos Jobim. Em “Evil gal blues”, vale destacar a participação da cantora Mary Stallings, anunciada nos anos 70, como “uma das prováveis sucessoras” de Ella Fitzgerald. O final, com “Rocking with Mocotó”, é uma verdadeira apoteose ao samba e ao jazz. Certamente nem os cem ritmistas desejados pelo trompetista norte-americano seriam capazes de fazer algo tão brilhante. Uma preciosidade perdida de Dizzy Gillespie. Antes tarde do que nunca.
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Em seguida, a faixa “Chorando se foi”, do DVD “Bailão do ruivão”, de Nando Reis e Os Infernais, com participação especial de Joelma e Chimbinha, da Banda Calypso:
O Rolling Stones é das bandas mais preocupadas em registrar a sua história para a posteridade. Entra turnê, sai turnê, e o que não falta é DVD e CD ao vivo. Os últimos boxes chegavam a conter três, quatro shows da mesma turnê. Exagero? Pelo menos em se tratando de Rolling Stones, claro que não. Mas havia uma lacuna importante nessa história audiovisual da banda: o vídeo que documentava a turnê norte-americana de divulgação do álbum “Exile on main st.”, de 1972. Faltava. Pelo menos lá fora, a ST2 já colocou nas lojas, em DVD e BD, “Ladies & gentlemen”, o tal vídeo que somente passou em algumas salas de cinema em 1974, e que mostra a banda, certamente em seu auge criativo, ao vivo no Texas. O áudio foi remasterizado e está tinindo. A imagem, às vezes, fica um pouco escura. Mas nada que tire o brilho desse documento tão importante. Em quase hora e meia, os Stones apresentam um roteiro de 15 músicas. Bom, 38 anos depois, todas elas já podem ser chamadas de clássicos. E é exatamente isso que deixa o vídeo ainda mais interessante: ver como a banda apresentava músicas, à época, pouco conhecidas, como “Tumbling dice”, “Happy” e “All down the line”, todas elas do recém lançado “Exile on main st.”. O resto do repertório? “Brown sugar” (a primeira do roteiro, em arrebatadora versão), “Midnight rambler”, a lindíssima “Dead flowers”, “Jumpin’ Jack Flash”, “Street fighting man”... Talvez esse “Ladies & gentlemen” seja o vídeo mais tosco, em termos de produção, dos Rolling Stones. Mas, sem dúvida, é o que melhor mostra o que essa banda – preciso dizer que é uma das três mais importantes de todos os tempos?? – fazia (faz) em cima de um palco.
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“Bailão do ruivão” – Nando Reis e Os Infernais
Quem não tem muito conhecimento da carreira de Nando Reis e pega o seu último CD/DVD “Bailão do ruivão”, não terá dúvidas em afirmar: “Nando Reis se vendeu”. Mas quem já foi a algum show do ex-integrante dos Titãs sabe muito bem que Nando Reis sempre gostou de apresentar algumas músicas, inusitadas para o público, mas em total consonância com a sua memória afetiva. Nando está cantando Wando no “Bailão do ruivão”? Ele já fez isso em vários shows da turnê de “A letra A”. Outras rolaram em algumas apresentações do “Drês” também. Aí o crítico mais chato vai indagar: “Ah, mas no ‘Bailão’ são 19 músicas assim, não?”. Sim, por isso que se trata de um projeto especial na carreira do ex-Titã. Projeto este que, é bom já deixar claro, talvez não agrade a todos os seus fãs, ainda mais depois do lançamento de um álbum tão substancioso quanto o “Drês”, de 2009. Gravado ao vivo no Carioca Club, em São Paulo, esse “Bailão do ruivão” pode passar, inicialmente, uma impressão de que Nando Reis escolheu um repertório cafona, como se estivesse querendo ironizar: “Se é isso que faz sucesso hoje em dia, é isso que vou cantar para vender disco”. Bom, apesar de um Calypso (“Chorando se foi”) aqui, um Wando (“Fogo e paixão”) ali, e um Genival Lacerda (“Severina Xique Xique”) acolá, Nando resgata boas canções de Rita Lee (“Agora só falta você”), Edson Trindade (“Gostava tanto de você”, sucesso na voz de Tim Maia), Bob Marley (“Could you be loved?”, com participação da banda Zafenate, do filho de Nando, Theodoro), Zé Ramalho (“Frevo mulher”) e Johnny Nash (“I can see clearly now”). De sua carreira solo, Nando Reis mostra “Do seu lado”, com Zezé di Camargo & Luciano, e ainda resgata “Bichos escrotos”, dos Titãs. Ao final do DVD fica a dúvida: “Será que o tal bailão é pra ser levado a sério?”. Bobagem pensar nisso. O mais importante é que ele diverte. E muito.
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“Station to station” (Edição especial) – David Bowie
Aposto que 90% dos bowiemaníacos não teriam dúvida em afirmar que o álbum “Station to station” (1976) está em qualquer top 5 do compositor britânico. Eu também não teria dúvidas. “Station to station” é um épico. Tem apenas seis músicas. Como se David Bowie quisesse mostrar que não é necessário mais que seis faixas para se fazer um álbum antológico. E ele conseguiu. “Station to station”, como sugere o próprio título, é um álbum de transição na carreira de David Bowie. Depois do rock no clássico “The rise and fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars” (1972), e em “Aladdin Sane” (1973) e “Diamond dogs” (1974), Bowie flertou de maneira forte com o soul em “Young americans” (1975). Quando os fãs imaginavam que Bowie iria descambar para esse lado, “Station to station” veio como uma surpresa. No álbum de 1976, o cantor misturava tantos ritmos como nunca havia feito em trabalho anterior nenhum. Soul (“Stay”), rock (“TVC 15”), pop (“Word on a wing”), disco (“Golden years”), tudo misturado (na faixa-título) de maneira brilhante. Tudo o que o pós-punk apresentou alguns anos depois, saca? Talvez tenha sido em “Station to station” que David Bowie criou o seu estilo de verdade. Assim, não chega a ser surpresa o fato de o cantor ter escolhido exatamente esse álbum para fazer uma edição bem especial. Além de um box exagerado com cinco CDs, três LPs e um DVD, saiu outro mais em conta (que é o que eu tenho), com o disco “Station to station” com a sua masterização analógica original, e um CD duplo com um show da turnê do álbum, gravado ao vivo no Nassau Coliseum, a 23 de março de 1976. O áudio do show estronda, e posso afirmar, com toda certeza, que se trata do melhor álbum ao vivo lançado por Bowie até aqui – e olha que ele tem um tal de “Stage” (1978) no currículo. São 15 músicas espalhadas em pouco mais de 80 minutos que chegam a ser hipnóticos. Músicas do álbum de estúdio recém lançado convivem com clássicos como “Suffragette city”, “Fame”, “Five years”, “Changes”, “Life on Mars?” (que bela versão!!), “Diamond dogs”, Rebel rebel”, “The Jean Genie”... Tudo isso com David Bowie em seu auge. Altamente recomendável para bowiemaníacos e futuro bowiemaníacos.
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“Trilhas” – Lenine
“Lenine.doc / Trilhas surgiu quando percebi que havia criado um repertório significativo de canções, compostas especificamente para determinados personagens em obras de diferentes veículos e criadores. É um projeto que está intimamente ligado ao exercício da composição. São músicas que povoaram trilhas de novelas, seriados, especiais de TV, cinema, dança e publicidade.” É dessa forma que Lenine apresenta o seu novo álbum, “Trilhas”. E é bom registrar que tal apresentação pode dar uma ideia errada do disco. Ainda mais quando nos lembramos daquelas coletâneas “Novelas” que a Som Livre volta e meia coloca nas lojas, com nomes de artistas que vão de Gal Costa a Roupa Nova. Diferentemente dessas coletâneas caça-níqueis, “Trilhas”, de tão hermético que é, pode ser considerado, um álbum de carreira de Lenine. Ele, inclusive, soa até mais sedutor do que “Labiata” (2008), último trabalho de inéditas do compositor pernambucano. “Trilhas” começa exatamente com “Aquilo que dá no coração”, música de abertura da novela “Passione”. Trata-se de uma das melhores composições de Lenine. Por quê? Porque mesmo tocando diariamente na TV, ela fica, a cada dia, mais gostosa de ser ouvida, com o seu arranjo fantástico de metais, obra de Serginho Trombone. Também de novela, “Agora é que são elas”, de 2003, apresenta um Lenine mais funkeado, assim como “Não faz mal a ninguém”, gravada para a novela “Sete pecados” (2007). O samba “Quatro horizontes”, parceria de Lenine com Pedro Luis (e com participação d’A Parede), para o filme “Diabo a quatro”, é uma das gravações mais deliciosas desse “Trilhas”. O coco “Como é bom a gente amar” (de autoria de Lula Queiroga, para o filme “A pessoa é para o que nasce”) também é outro grande momento, da mesma forma que “Diversidade”, feita especialmente para o ótimo especial “A terra dos meninos pelados”, musical infantil originalmente escrito por Graciliano Ramos, e que foi ao ar pela TV Globo no ano de 2003. Como faixa bônus, “Alpinista social”, música composta para a novela “Lua cheia de amor”, em 1990. Como diz Lenine no encarte, o “início de tudo”. Valeu a pena ter insistido.
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“No Brasil com Trio Mocotó” – Dizzy Gillespie & Trio Mocotó
Quando Dizzy Gillespie visitou o Brasil em 1974, gravou uma sessão com o Trio Mocotó no estúdio Eldorado. O álbum não foi lançado à época de sua gravação porque o editor Norman Granz a considerou não comercial. A fita estava perdida até o ano passado. Finalmente encontrada, foi digitalizada e lançada pela Biscoito Fino. Mas o caminho não foi nada fácil. Na fita não havia indicação de nada: data, músicos, nomes das faixas... Depois de um trabalho minucioso, o produtor, amigo e herdeiro de Dizzy, Jacques Muyal, conseguiu reunir todas as informações. Na verdade, a ideia inicial do criador do be-bop era outra: juntar cem ritmistas brasileiros e gravar um disco. Mas a gravadora Phillips considerou inviável colocar tanta gente dentro de um estúdio. Aí, os executivos sugeriram que Dizzy se reunisse com o grupo Os Originais do Samba. Após alguns ensaios, o trompetista acabou se entrosando mais com o Trio Mocotó, formado por Nereu Gargalo, João Parayba e Fritz Escovão. Só que o resultado acabou esquecido. “Ele [Dizzy] nunca mais deu notícia daquele disco. Uma vez nós o encontramos em Montreux, mas nem ele mesmo lembrava mais daquilo. Acho que não gostou”, disse João Parayba ao repórter Jotabê Medeiros em reportagem para o jornal O Estado de S. Paulo, publicada em maio de 2009. Se ele gostou ou não, vai ser difícil a gente descobrir a uma altura dessa. Mas o resultado daquelas longínquas sessões, que pode ser ouvido agora em “Dizzy Gillespie no Brasil com Trio Mocotó”, é, no mínimo, surpreendente. Dizzy e o Trio Mocotó fazem um “sambe-bop” da melhor qualidade, em faixas deliciosas como “Samba” e “Dizzy’s shout / Brazilian improvisation”, essa última com fortes ecos da Bossa Nova. Já “Behind the moonbeam” lembra, de longe, “Samba de uma nota só” misturada a “Samba do avião”, ambas de Antonio Carlos Jobim. Em “Evil gal blues”, vale destacar a participação da cantora Mary Stallings, anunciada nos anos 70, como “uma das prováveis sucessoras” de Ella Fitzgerald. O final, com “Rocking with Mocotó”, é uma verdadeira apoteose ao samba e ao jazz. Certamente nem os cem ritmistas desejados pelo trompetista norte-americano seriam capazes de fazer algo tão brilhante. Uma preciosidade perdida de Dizzy Gillespie. Antes tarde do que nunca.
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Em seguida, a faixa “Chorando se foi”, do DVD “Bailão do ruivão”, de Nando Reis e Os Infernais, com participação especial de Joelma e Chimbinha, da Banda Calypso: