“Clapton”– Eric Clapton
De uns quinze anos para cá, a discografia de Eric Clapton transita entre trabalhos extremamente sofisticados (“Me and Mr. Johnson”, de 2004, e “Live from Madison Square Garden”, gravado em parceria com Steve Winwood, em 2009) e outros de gosto bem duvidoso (“Pilgrim”, de 1998, e, especialmente, “Back home”, de 2005). Era difícil encontrar um meio termo. Mas, finalmente, o seu novo álbum, “Clapton” (que conta com participações especiais de J.J. Cale e Sheryl Crow), coloca as coisas em cima dos trilhos. Há muito não se via um álbum tão coeso e com Clapton destilando tanta serenidade – a foto da capa já dá uma prova disso. O repertório também é digno de nota. Transitando entre clássicos, como “How deep is the ocean”, de Irving Berlin, e novidades, caso de “Run back to your side”, de autoria do próprio Clapton (ao lado de Doyle Bramhall II, que toca guitarra em algumas faixas do álbum), esse novo disco apresenta um Eric Clapton dos velhos tempos. Passando por coisas lentas, como a jazzy “Rocking chair” (de Hoagy Carmichael), cheia de slide guitar, e a estupenda versão de “Autumn leaves” (de Joseph Kosma, John Mercer e Andre Prevert) a algo mais encorpado (casos da bluegrass “Travelin’ alone”, de Melvin Jackson, e da própria “Run back to your side”, que lembra muito o guitarrista dos anos 70), “Clapton” apresenta talvez a melhor seleção de faixas do músico britânico desde “From the creadle”, lançado 16 anos atrás. E isso não é pouca coisa.
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“Multishow ao vivo – Skank no Mineirão” – Skank
Imagina um show de duas horas e meia de duração de sucessos, de uma banda cheia de hits, no maior estádio de futebol (lotado) de sua cidade natal. Tem erro? Pelo menos para os fãs, é claro que não. E a proposta de “Multishow ao vivo – Skank no Mineirão” é exatamente essa: um apanhado na carreira de uma das bandas mais populares do Brasil. E bota popular nisso. Dos barzinhos de Belo Horizonte para o grandioso Mineirão, passaram-se 19 anos, 8 álbuns de estúdio e algumas dezenas de sucessos. E o roteiro da apresentação dá uma boa amostra da grandiosidade de uma banda que sempre manteve um nível de qualidade muito acima da média. Todos os álbuns do Skank são lembrados nesse “Multishow ao vivo”. Do seminal “Skank” (1993), Samuel Rosa e companhia pescaram “Tanto”. Da fase mais popular (dos discos “Calango”, de 94, e “O samba poconé”, do ano seguinte), estão presentes “Jackie Tequila”, “Tão seu”, “Garota nacional”, “É uma partida de futebol”, entre outras. De “Siderado”, o hino dos biriteiros, “Saideira”. E a partir de “Maquinarama” (2000), quando a banda ficou mais adulta, algumas pérolas como “Três lados”, “Acima do sol”, “Amores imperfeitos” (faixa de “Cosmotron”, de 2003, o melhor álbum brasileiro dos anos 00) e “Sutilmente”, do último trabalho de estúdio da banda, “Estandarte” (2008). Além do DVD com o show completo (destaque para a sempre competente direção de Oscar Rodrigues Alves), foi lançado também o CD duplo, com todas as músicas executadas no Mineirão e a inédita “Fotos na estante” – há outras duas inéditas no DVD, “Presença” e “Vamos fugir”. Pena que a ordem das faixas do CD (diferente da ordem do show original, como está no DVD) quebre um pouco a sequência e o clima da apresentação. Vale mencionar também a beleza da capa, com uma imagem do Mineirão clicada por Paulo Albuquerque, no dia da inauguração do estádio, a 05 de setembro de 1965.
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“Going back” – Phil Collins
Quando Phil Collins anunciou que iria lançar um álbum de versões de sucessos da gravadora Motown, não levei muita fé. E, após a primeira audição, continuei não levando muita fé. Mas tive uma certeza: é bem melhor do que eu esperava. Se os álbuns solo de Collins são repletos daquelas baladas açucaradas e sem graça, esse “Going back” foge um pouco do lugar comum. E o mais engraçado: foge do lugar comum pelo fato de Phil Collins não ter arriscado. Ou seja, não espere nada de muito diferente das versões originais. Até mesmo porque o (ex-?)Genesis nunca disse que a sua proposta era soar diferente. Desde o início das gravações, ele afirmou que o álbum era um grande tributo com versões próximas das originais. Não à toa, ele convocou como banda de apoio o Funk Brothers, que participou de muitas das sessões originais da Motown. E “Going back” soa muito bem nas músicas mais agitadas, porque nesses casos é possível ouvir um Phil Collins diferente. Pegue, por exemplo, a deliciosa “(Love is like a) Heatwave”, que ficou bem próxima (e tão gostosa) quanto a versão original de Martha Reeves & The Vandellas. Ou então a famosa “Uptight (Everything’s alright)”, que certamente deve ter deixado Stevie Wonder satisfeito. O único problema é quando o velho Phil Collins dá as caras nas lentinhas “Some of your lovin’” (de Gerry Goffin e Carole King) ou então em “Never dreamed you’d leave in summer”, de Stevie Wonder. Mas tudo bem. Não comprometem.
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“Arquivo 3” – Os Paralamas do Sucesso
De dez em dez anos, desde 1990, os Paralamas do Sucesso dão uma geral em sua carreira com uma coletânea intitulada “Arquivo”. Agora, nada mais natural que “Arquivo 3” veja a luz do dia. Em cada um dos dois primeiros volumes (lançados em 1990 e em 2000, respectivamente), os Paralamas lançaram uma música inédita. O primeiro teve “Caleidoscópio”, e o segundo, “Aonde quer que eu vá”. Duas das melhores músicas dos Paralamas do Sucesso, diga-se. “Arquivo 3”, infelizmente, não traz nenhuma inédita. Mas faz uma boa varredura na carreira do trio, após o acidente de ultraleve que quase vitimou o vocalista e guitarrista Herbert Vianna. Nos últimos dez anos, os Paralamas lançaram três bons álbuns de estúdio (“Longo caminho”, de 2002, “Hoje”, de 2005, e “Brasil afora”, de 2009), todos eles representados nessa coletânea por faixas como “O calibre”, “Cuide bem do seu amor”, “De perto”, “Na pista” e “A lhe esperar”. Fechando o pacote, duas faixas gravadas ao vivo em show no finado Olympia de São Paulo (“Soldado da paz” e “Que país é este”, da Legião Urbana) e um medley que une “Selvagem” a “Polícia”, gravado no encontro ao vivo dos Paralamas com os Titãs, em show na Marina da Glória, em 2008. Que o caminho dos Paralamas do Sucesso, a maior banda de rock em atividade no país, ainda seja muito mais longo, com os “Arquivos” 4, 5, 6, 7...
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“Live voodoo” – Jane’s Addiction
Uma das bandas mais bacanas surgidas no final dos anos 80 – e enquanto não decide se vai lançar algo inédito –, o Jane’s Addiction dá um refresco para os fãs com o lançamento do DVD e Blu-ray “Vodoo live”, gravado no festival Voodoo Experience, em Nova Orleans, na noite de Halloween do ano passado. Em um setlist sem novidades, a banda se limita a apresentar os sucessos de seus dois últimos álbuns de estúdio (“Ritual de lo habitual”, de 1990, e “Strays”, de 2003). Infelizmente “Nothing’s shocking”, o trabalho de estreia, de 1988, ficou de fora. E tome pedradas como “Ocean size”, “Stop!”, “Jane says”, “Whores”, e, claro “Been caught stealing”, uma das músicas mais executadas na MTV quando a emissora se instalou no Brasil, em 1990. Ah, e vale frisar que “Live voodoo” traz a formação clássica do Jane’s Addiction, com Perry Farrell (vocal), Stephen Perkins (bateria), Eric Avery (baixo) e Dave Navarro (guitarra). Coisa que dificilmente se repetirá. Pois é, taí uma banda que faz (muita) falta.
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Ouça abaixo a magnífica versão de “Autumn leaves”, por Eric Clapton:
De uns quinze anos para cá, a discografia de Eric Clapton transita entre trabalhos extremamente sofisticados (“Me and Mr. Johnson”, de 2004, e “Live from Madison Square Garden”, gravado em parceria com Steve Winwood, em 2009) e outros de gosto bem duvidoso (“Pilgrim”, de 1998, e, especialmente, “Back home”, de 2005). Era difícil encontrar um meio termo. Mas, finalmente, o seu novo álbum, “Clapton” (que conta com participações especiais de J.J. Cale e Sheryl Crow), coloca as coisas em cima dos trilhos. Há muito não se via um álbum tão coeso e com Clapton destilando tanta serenidade – a foto da capa já dá uma prova disso. O repertório também é digno de nota. Transitando entre clássicos, como “How deep is the ocean”, de Irving Berlin, e novidades, caso de “Run back to your side”, de autoria do próprio Clapton (ao lado de Doyle Bramhall II, que toca guitarra em algumas faixas do álbum), esse novo disco apresenta um Eric Clapton dos velhos tempos. Passando por coisas lentas, como a jazzy “Rocking chair” (de Hoagy Carmichael), cheia de slide guitar, e a estupenda versão de “Autumn leaves” (de Joseph Kosma, John Mercer e Andre Prevert) a algo mais encorpado (casos da bluegrass “Travelin’ alone”, de Melvin Jackson, e da própria “Run back to your side”, que lembra muito o guitarrista dos anos 70), “Clapton” apresenta talvez a melhor seleção de faixas do músico britânico desde “From the creadle”, lançado 16 anos atrás. E isso não é pouca coisa.
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“Multishow ao vivo – Skank no Mineirão” – Skank
Imagina um show de duas horas e meia de duração de sucessos, de uma banda cheia de hits, no maior estádio de futebol (lotado) de sua cidade natal. Tem erro? Pelo menos para os fãs, é claro que não. E a proposta de “Multishow ao vivo – Skank no Mineirão” é exatamente essa: um apanhado na carreira de uma das bandas mais populares do Brasil. E bota popular nisso. Dos barzinhos de Belo Horizonte para o grandioso Mineirão, passaram-se 19 anos, 8 álbuns de estúdio e algumas dezenas de sucessos. E o roteiro da apresentação dá uma boa amostra da grandiosidade de uma banda que sempre manteve um nível de qualidade muito acima da média. Todos os álbuns do Skank são lembrados nesse “Multishow ao vivo”. Do seminal “Skank” (1993), Samuel Rosa e companhia pescaram “Tanto”. Da fase mais popular (dos discos “Calango”, de 94, e “O samba poconé”, do ano seguinte), estão presentes “Jackie Tequila”, “Tão seu”, “Garota nacional”, “É uma partida de futebol”, entre outras. De “Siderado”, o hino dos biriteiros, “Saideira”. E a partir de “Maquinarama” (2000), quando a banda ficou mais adulta, algumas pérolas como “Três lados”, “Acima do sol”, “Amores imperfeitos” (faixa de “Cosmotron”, de 2003, o melhor álbum brasileiro dos anos 00) e “Sutilmente”, do último trabalho de estúdio da banda, “Estandarte” (2008). Além do DVD com o show completo (destaque para a sempre competente direção de Oscar Rodrigues Alves), foi lançado também o CD duplo, com todas as músicas executadas no Mineirão e a inédita “Fotos na estante” – há outras duas inéditas no DVD, “Presença” e “Vamos fugir”. Pena que a ordem das faixas do CD (diferente da ordem do show original, como está no DVD) quebre um pouco a sequência e o clima da apresentação. Vale mencionar também a beleza da capa, com uma imagem do Mineirão clicada por Paulo Albuquerque, no dia da inauguração do estádio, a 05 de setembro de 1965.
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“Going back” – Phil Collins
Quando Phil Collins anunciou que iria lançar um álbum de versões de sucessos da gravadora Motown, não levei muita fé. E, após a primeira audição, continuei não levando muita fé. Mas tive uma certeza: é bem melhor do que eu esperava. Se os álbuns solo de Collins são repletos daquelas baladas açucaradas e sem graça, esse “Going back” foge um pouco do lugar comum. E o mais engraçado: foge do lugar comum pelo fato de Phil Collins não ter arriscado. Ou seja, não espere nada de muito diferente das versões originais. Até mesmo porque o (ex-?)Genesis nunca disse que a sua proposta era soar diferente. Desde o início das gravações, ele afirmou que o álbum era um grande tributo com versões próximas das originais. Não à toa, ele convocou como banda de apoio o Funk Brothers, que participou de muitas das sessões originais da Motown. E “Going back” soa muito bem nas músicas mais agitadas, porque nesses casos é possível ouvir um Phil Collins diferente. Pegue, por exemplo, a deliciosa “(Love is like a) Heatwave”, que ficou bem próxima (e tão gostosa) quanto a versão original de Martha Reeves & The Vandellas. Ou então a famosa “Uptight (Everything’s alright)”, que certamente deve ter deixado Stevie Wonder satisfeito. O único problema é quando o velho Phil Collins dá as caras nas lentinhas “Some of your lovin’” (de Gerry Goffin e Carole King) ou então em “Never dreamed you’d leave in summer”, de Stevie Wonder. Mas tudo bem. Não comprometem.
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“Arquivo 3” – Os Paralamas do Sucesso
De dez em dez anos, desde 1990, os Paralamas do Sucesso dão uma geral em sua carreira com uma coletânea intitulada “Arquivo”. Agora, nada mais natural que “Arquivo 3” veja a luz do dia. Em cada um dos dois primeiros volumes (lançados em 1990 e em 2000, respectivamente), os Paralamas lançaram uma música inédita. O primeiro teve “Caleidoscópio”, e o segundo, “Aonde quer que eu vá”. Duas das melhores músicas dos Paralamas do Sucesso, diga-se. “Arquivo 3”, infelizmente, não traz nenhuma inédita. Mas faz uma boa varredura na carreira do trio, após o acidente de ultraleve que quase vitimou o vocalista e guitarrista Herbert Vianna. Nos últimos dez anos, os Paralamas lançaram três bons álbuns de estúdio (“Longo caminho”, de 2002, “Hoje”, de 2005, e “Brasil afora”, de 2009), todos eles representados nessa coletânea por faixas como “O calibre”, “Cuide bem do seu amor”, “De perto”, “Na pista” e “A lhe esperar”. Fechando o pacote, duas faixas gravadas ao vivo em show no finado Olympia de São Paulo (“Soldado da paz” e “Que país é este”, da Legião Urbana) e um medley que une “Selvagem” a “Polícia”, gravado no encontro ao vivo dos Paralamas com os Titãs, em show na Marina da Glória, em 2008. Que o caminho dos Paralamas do Sucesso, a maior banda de rock em atividade no país, ainda seja muito mais longo, com os “Arquivos” 4, 5, 6, 7...
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“Live voodoo” – Jane’s Addiction
Uma das bandas mais bacanas surgidas no final dos anos 80 – e enquanto não decide se vai lançar algo inédito –, o Jane’s Addiction dá um refresco para os fãs com o lançamento do DVD e Blu-ray “Vodoo live”, gravado no festival Voodoo Experience, em Nova Orleans, na noite de Halloween do ano passado. Em um setlist sem novidades, a banda se limita a apresentar os sucessos de seus dois últimos álbuns de estúdio (“Ritual de lo habitual”, de 1990, e “Strays”, de 2003). Infelizmente “Nothing’s shocking”, o trabalho de estreia, de 1988, ficou de fora. E tome pedradas como “Ocean size”, “Stop!”, “Jane says”, “Whores”, e, claro “Been caught stealing”, uma das músicas mais executadas na MTV quando a emissora se instalou no Brasil, em 1990. Ah, e vale frisar que “Live voodoo” traz a formação clássica do Jane’s Addiction, com Perry Farrell (vocal), Stephen Perkins (bateria), Eric Avery (baixo) e Dave Navarro (guitarra). Coisa que dificilmente se repetirá. Pois é, taí uma banda que faz (muita) falta.
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Ouça abaixo a magnífica versão de “Autumn leaves”, por Eric Clapton: