9 de mai. de 2010

Resenhando: Rufus Wainwright, Ben Harper, Cidade Negra, Slash, Guns n’ Roses

“All days are night: Songs for Lulu” – Rufus Wainwright
Na turnê de divulgação de “All days are night: Songs for Lulu”, Rufus Wainwright proíbe a plateia de aplaudir durante o primeiro ato, quando executa, na íntegra, o novo disco. Até que o pedido não é inusitado, tendo em vista o conteúdo denso (e tenso) do álbum. Apenas ao piano, o cantor, compositor e multinstrumentista canadense apresenta canções confessionais, que falam de temas delicados, como a morte recente de sua mãe, que, aliás, costumava participar dos shows do filho. Rufus chega ao limite do sombrio na última faixa do álbum. Sente só a letra de “Zebulon”: “My mother’s in hospital, my sister’s at the opera/ I’m in love, but let’s not talk about it/ There’s so much to tell you”. Destaca-se também nesse CD “Who are you New York, ode de Rufus à cidade onde vive atualmente, e “Les feux d’artifice t’appellent”, ária de sua ópera “Prima Donna”. Ele também ataca com três sonetos musicados de William Sheakespeare. Quem é fã de Rufus vai ficar mais fã com o novo álbum. Quem não gosta, terá mais motivos para achar o canadense um mala.

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“Live from the Montreal International Jazz Festival” – Ben Harper
Ben Harper, para mim, sempre foi chato pra dedéu. Aquelas músicas para surfista ouvir, definitivamente, não fazem a minha cabeça. Mas eis que Harper resolve mandar todo mundo da sua banda “The Innocent Criminals” embora, e, assim, forma um novo conjunto. E não é que a Relentless7 deu novo corpo à música de Ben Harper? O álbum “White lies for dark times”, lançado no ano passado, já mostrou que o cantor e compositor tinha partido para outra, com um som com muito mais pegada e interessante. Rock’ n’ roll mesmo. No ao vivo agora lá lançado (somente lá fora), as coisas ficam ainda melhores. As canções já presentes no álbum anterior de estúdio ficaram ainda mais vigorosas e, por isso, bem melhores. São os casos de “Number with no name” e “Shimmer & shine”. Mas o melhor mesmo são as versões porretas para “Red house”, de Jimi Hendrix, e “Under pressure”, do Queen. O álbum, que abrange CD e DVD, merece sair aqui no Brasil.

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“Que assim seja” – Cidade Negra
Primeiro foi Toni Garrido que saiu. Depois, o guitarrista Da Gama. Reduzido ao baterista Lazão e ao baixista Bino Farias, o Cidade Negra tinha tudo para acabar. Mas não foi o que aconteceu. Os músicos chamaram o vocalista e guitarrista Alexandre Massau, e agora ataca como um trio. “Que assim seja” é o primeiro álbum de um novo Cidade Negra. Aliás, novo não, mas um Cidade Negra híbrido. Se a pegada pop que a banda usou e abusou a partir da entrada de Toni Garrido continua, as letras mais politizadas e urbanas dos tempos de Ras Bernardo (o primeiro vocalista do grupo) voltaram, como pode ser comprovado em “Porta da favela” e “Kaya Babilônia” (“Mais uma CPI sem investigação/ Os nomes envolvidos fazem parte desta comissão/ Deleta o laptop/ Na queima de arquivo/ Liga pro ministro que tá tudo resolvido”). “Que assim seja” mostra que o Cidade Negra pode se reerguer mesmo sem Toni Garrido. Mas a ausência da popularidade do cantor pode vir a ser um imenso problema, a despeito da boa qualidade da nova safra de canções.

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“Slash” – Slash
Participações especiais de Ozzy Osbourne, Fergie, Chris Cornell, Adam Levine (Maroon 5), Iggy Pop, Fergie, Alice Cooper... Um trabalho com tanta gente assim só pode ser de um músico que não sabe cantar. E um músico com prestígio, ainda por cima. E esse é o caso de Slash, ex-guitarrista do Guns n’ Roses. Ele faz muita falta à banda. E parece que Axl Rose também faz falta a Slash. O álbum solo do guitarrista é tão irregular quanto o time de artistas convidado para cantar cada uma das faixas. É verdade que tem muita coisa bacana, como a pesadona “Crucify the dead” (com Ozzy), a instrumental “Watch this Dave” (com Dave Grohl e Duff McKagan, ex-companheiro de Guns) e “We’re all gonna die”, com a inconfundível voz de Iggy Pop. Mas outros momentos, como “Beautiful dangerous” (com Fergie) e a chatérrima “By the sword”, com a presença de Andrew Stockdale (do Wolfmother) deixam a desejar. O bom é que os ótimos riffs de guitarra de Slash estão nesse álbum. E como seria bom ouvir esses riffs de novo em um álbum do Guns n’ Roses...

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“Live in Nürburgring – Alemanha 2006” – Guns n’ Roses
O show do Guns n’ Roses no autódromo de Nürburgring, na Alemanha, no ano de 2006, mostra um Axl Rose no meio do caminho entre a volta do Guns n’ Roses no Rock in Rio de 2001 e a presepada que ele fez nos shows no Brasil recentemente. Muito elogiada pela crítica, a apresentação no festival carioca há nove anos mostrou um Axl Rose ainda com gás para cantar os clássicos do Guns. Tudo bem diferente de 2010, quando cagou literalmente para uma plateia bovina que insiste em babar o ovo de uma pessoa que a deixa esperando por três horas. Em 90 minutos desse show na Alemanha, Axl Rose e sua banda apresentam clássicos do Guns, como “Welcome to the jungle”, “Sweet child o’ mine”, “Patience” e o encerramento com “Paradise city”. Axl ainda mostrou músicas que estariam presentes em “Chinese democracy”, lançado dois anos depois, como “Better” e “The blues”, depois rebatizada de “Street of dreams”. A imagem é boa, mas o áudio, meio embolado, deixa um pouco a desejar.

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Em seguida, a faixa “Why must you always dress in black”, extraída do DVD “Live from Montreal International Jazz Festival”, de Ben Harper e a ótima Relentless 7.

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