Um fenômeno interessante aconteceu nas grandes lojas de disco nestes últimos dias. Jamelão faleceu faz duas semanas e um disco seu – o último de sua carreira – apareceu repentinamente nas bancadas de lançamento das grandes lojas. Na verdade, o trabalho foi lançado no final de 2002, mas o consumidor mais desatento vai comprá-lo como se fosse um lançamento póstumo. Mas isso é o que menos importa. Louvável mesmo é ter um CD disponível de um dos maiores intérpretes de samba à disposição. A tiragem não é nova (ela não é nem numerada). Provavelmente os CDs estavam guardados com a gravadora, que, ao mesmo tempo que aproveita e fatura uns trocados com a morte de Jamelão, faz o favor de colocar o CD na loja. Um parêntese: Jamelão gravou mais de 60 discos desde a década de 40, e absolutamente nenhum deles encontra-se em catálogo atualmente.
“Cada Vez Melhor” é uma coletânea de sucessos regravados pelo ex-crooner da Orquestra Tabajara em 2002. Acompanhado por excelentes músicos, como o baixista Jorge Helder e o baterista Téo Lima, o intérprete e compositor mangueirense faz um apanhado geral de sua obra, regravando suas grandes canções, desde o seu primeiro grande sucesso, “Folha Morta”, de Ary Barroso, lançado originalmente em 1956, até o samba “Brasil com Z é Pra Cabra Da Peste, Brasil com S é a Nação do Nordeste”, samba campeão – da Mangueira, lógico – de 2002. Além desse samba-enredo, Jamelão interpreta no disco “Avatar e a Selva Transformou-se Em Ouro”, belo samba da verde-e-rosa, que ficou em quarto lugar em 1979. Vale lembrar que Jamelão foi intérprete da Estação Primeira de Mangueira por mais de 50 anos.
Influenciado principalmente por Cyro Monteiro, Jamelão mostra as suas duas especialidades em “Cada Vez Melhor”: o samba e o samba-canção. No primeiro grupo, além dos sambas-enredo, clássicos como “Lá Vem a Baiana” (de Dorival Caymmi) – “Nem Eu”, do mesmo compositor foi um de seus grandes sucessos nos anos 50, mas infelizmente ficou de fora desse disco – e “Esta Melodia” (“Deus deu resignação ao meu pobre coração / Não suporto mais sua ausência, já pedi a Deus, paciência”), um clássico de sua autoria.
Com relação aos sambas-canções, sucessos como “Matriz Ou Filial”, de Lúcio Cardim (“Quem sou eu / Pra sufocar a solidão da sua boca / Que hoje diz que é matriz e quase louca / Quando brigamos diz que é filial”) e “Nossos Momentos”, parceria de Ary Vidal e Luiz Reis, estão presentes no disco. Lupicínio Rodrigues (compositor ao qual Jamelão já dedicou dois discos, em 1972 e 1987) também comparece em “Cada Vez Melhor”, com “Vou Brigar Com Ela”, “Nunca”, “Ela Disse-me Assim” e a linda “Sozinha”.
Para quem conhece Jamelão apenas pelos sambas da Mangueira, “Cada Vez Melhor” é uma ótima oportunidade para se aprofundar um pouco mais na obra do tamborinista que acabou se transformando em um grande cantor. E que as outras gravadoras se animem a colocar a obra mais antiga de Jamelão em catálogo.
Cotação: ****
29 de jun. de 2008
ÁLBUM: “CADA VEZ MELHOR” (JAMELÃO) – RENASCIDO NAS LOJAS
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