21 de jun. de 2008

EM NOVO DISCO, TIRA POEIRA JOGA NAS ONZE

Quando muita gente pensava que a música instrumental brasileira estava morta, a gravadora Biscoito Fino fez o imenso favor de lançar o conjunto Tira Poeira, com um ótimo disco de estréia, em 2003. Depois disso, a banda fez diversos shows e se apresentou ao lado de Maria Bethânia no já clássico “Brasileirinho”, de 2004.

Agora, quando muita gente pensava que o Tira Poeira não ia ter mais uma outra oportunidade de lançar um disco instrumental, a mesma Biscoito Fino novamente nos presta um grande favor ao lançar “Feijoada Completa”. O intervalo de cinco anos foi realmente um pouco grande, mas só o fato de a gravadora ter a coragem de colocar mais um disco instrumental no pobre mercado fonográfico brasileiro, é digno de registro.

Nesse intervalo, uma mudança é notável. Os choros, sambas e sambas-canção clássicos do primeiro trabalho foram postos de lado para dar lugar a um repertório mais moderno. De fato, o Tira Poeira de “Feijoada Completa” é mais popular do que o Tira Poeira do álbum de estréia que levava o mesmo nome da banda. Mas isso não é um demérito. Pelo contrário. Caio Márcio, Henry Lentino, Samuel de Oliveira, Fábio Nin e Sérgio Krakowski mostraram que jogam bem em todas as posições. No novo CD, o Tira Poeira mistura jazz, samba, valsa, forró, MPB dos anos 60 e a eletrônica com a mesma competência que fez em canções mais tradicionais, como “Caminhando”, “Três Apitos” e “Murmurando”, do primeiro álbum.

O leque desse novo trabalho se abre tanto, que coisas como “My Favourite Things”, eternizada no saxofone de John Coltrane, ganha um colorido novo e bem brasileiro. O mesmo acontece em “O Trenzinho Caipira” – que ganha um tamburello que simula com originalidade o barulho de um trem – e em “Eleanor Rigby”, clássico dos Beatles, em uma versão jazzística, graças a um toque da guitarra de Caio Márcio.

Das 13 canções, três possuem vocais, cada uma a cargo de um artista diferente. Mostrando que já possui um grande prestígio, o Tira Poeira recebe Maria Bethânia – pena que seja na batida “Gente Humilde”, já presente no disco “Que Falta Você Me Faz”, da cantora baiana), Lenine (em “Atrás da Porta”) e Olivia Hime, que, apesar da bonita voz, tira um pouco da beleza da melodia da “Valsa de Eurídice”, que, aliás, é de Vinícius de Moraes, e não de Tom Jobim, como muitos imaginam.

“Vera Cruz”, clássico de Milton Nascimento foi outra grata surpresa no repertório. E, com certeza, nos deixa com água na boca ao imaginar o quanto poderia ser interessante um álbum do Tira Poeira dedicado exclusivamente às intricadas melodias do compositor mineiro-carioca. A canção que dá título ao CD, e que foi composta por Chico Buarque, é outro ponto alto. Nela, os integrantes do sexteto se esmeram nos improvisos, como em uma ‘jam session’, e mostram os grandes músicos que são.

O único senão de “Feijoada Completa” acontece logo na última faixa. A mistura com a eletrônica em “O Samba Não Tem Vez”, definitivamente, não funcionou. Mas nada que ofusque esse grande disco da música instrumental brasileira.

Cotação: ****

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