“Antigamente, eu tinha um desejo sexual pela platéia. Eu queria trepar com aquela gente toda”. Essas são as duas primeiras frases que Ney pronuncia no documentário que faz parte do DVD “Inclassificáveis”. Apesar de falar logo em seguida, que hoje não tem mais a mesma sensação, o público que teve a oportunidade de assistir ao show que originou o DVD provavelmente ainda acredita nesse desejo sexual de Ney.
O show “Inclassificáveis, um dos mais grandiosos da carreira de Ney é tipo aqueles filmes que só têm graça de serem assistidos no cinema. E essa conclusão ganha mais força após uma rápida olhada no DVD. Certamente não foi culpa do diretor João Jardim. Passar para o vídeo o que se passa no palco do show “Inclassificáveis” é uma tarefa ingrata. E, para completar, o Canecão, apesar de ser a casa de espetáculos mais importante do Brasil, não ajuda muito devido ao seu baixo pé-direito.
O DVD contém o show completo que passou pelo Canecão em janeiro e vem circulando o Brasil, com shows absolutamente lotados. E talvez os versos de “Mal Necessário” sintetizem o show. “Sou um homem, sou um bicho / Sou uma mulher / ... / Sou o novo, sou o antigo / Sou o que não tem tempo / Sou o que sempre esteve vivo”. A verdade é que nesse show, Ney retorna às suas origens. E, de quebra, faz o show mais roqueiro de sua carreira.
Acompanhado por uma banda jovem e impecável, com destaque para o baixista Carlinhos Noronha, o guitarrista Júnior Meirelles e o tecladista e diretor musical Emilio Carrera (que acompanhou Ney nos tempos de Secos & Molhados), Ney Matogrosso apresenta um show coeso e com um roteiro que cai muito bem. Tudo bem que faltaram antigos sucessos. As únicas três exceções foram a já citada “Mal Necessário”, “Por Que a Gente é Assim” (um ótimo momento em que Ney desce do palco para cantar junto ao público) e o apoteótico final com “Pro Dia Nascer Feliz”.
Entretanto, apesar da ausência de velhos sucessos – não houve concessão nem para a fase dos Secos & Molhados –, Ney apresenta um repertório hermético e eficiente, alternando coisas mais conhecidas como “O Tempo Não Pára” (o “tapa na cara” de Cazuza e que foi a primeira do show) e “Simples Desejo” (que já fez muito sucesso na voz de Luciana Mello), com outras mais recentes, que fazem parte de seu novo álbum de estúdio, cujo título dá nome ao show.
Aliás, no bis do show, Ney mostra a sua fina sensibilidade com o “contraste” das letras complementares de “Simples Desejo” (“Hoje eu só quero que o dia termine bem”) e de “Pro Dia Nascer Feliz” (“Pro dia nascer feliz / Essa é a vida que eu quis”). Depois de um show com tantos socos no estômago (de “O Tempo Não Pára” à cada vez mais atual “Divino Maravilhoso”, passando por uma versão pesadíssima de “Ode Aos Ratos”, de Chico Buarque), o bis, com duas músicas de letras tão esperançosas, chega a ser alvissareiro.
Das canções do álbum de estúdio, destacam-se a balada “Um Pouco de Calor” (Dan Nakagawa), “Fraterno” (Pedro Luís) e “Lema” (Carlos Rennó / Lokua Kanza), cujos versos “Envelhecer / Certamente com a mente sã / Me renovando / Dia a dia, a cada manhã” são perfeitos para definir essa fase atual de Ney.
Apesar de o DVD definitivamente não ser o meio mais eficiente para uma apreciação completa de “Inclassificáveis”, ele registra todos os detalhes que fazem desse show um dos melhores de 2008, como os belos cenários de Milton Cunha, o deslumbrante figurino de Ocimar Versolatto e a eficiente e agressiva – no bom sentido da palavra – iluminação do próprio Ney e de Juarez Farinon.
Nos extras, um documentário mostrando os bastidores do espetáculo, além de entrevistas com os compositores das canções de “Inclassificáveis” e com os profissionais envolvidos.
Cotação: ****
25 de mai. de 2008
O DVD FICOU PEQUENO PARA “INCLASSIFICÁVEIS”
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Ney Matogrosso
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2 comentários:
Ainda não vi o DVD. Mas realmente fica difícil captar esse show. Um dos mais bonitos que já vi...
Comprei o DVD.
Entendo a dificuldade, mas realmente não captou o valor do espetáculo.
Já o CD "Inclassificáveis" tem sido o grande lançamento do ano. Nada de Bethânia e Omara, Milton e Calcanhotto. Salve Ney, no CD.
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