O título do documentário que Júlio Bressane fez sobre Maria Bethânia – “Bem de Perto” – no ano de 1966 talvez fosse melhor do que “Shine a Light”, filme de Martin Scorsese sobre os Rolling Stones, que já estreou nos cinemas do País. O longa, que abriu oficialmente o último Festival de Berlim, na verdade, é o registro de um show dos Rolling Stones, no Beacon Theater na cidade de Nova York – um local tão pequeno, que Mick Jagger disse que parecia uma “casa de bonecas” – captado pelas câmeras de um dos maiores diretores da História do cinema.
Se o telespectador está esperando algo como “No Direction Home” – documentário do mesmo Scorsese sobre Bob Dylan – pode esquecer. “Shine a Light”, embora seja um belo registro de um show dos Stones, não vai muito além disso. Tirando o show, o máximo que pode ser visto na tela, é o stress de Scorsese pelo fato de a banda não ter fornecido o set list do show, bem como algumas entrevistas esparsas (algumas bem antigas) dos integrantes da banda e uma dispensável aparição de Bill Clinton com a sua família.
Na certa, Martin Scorsese pensou: “se eu tenho uma das melhores bandas da história do Rock em cima de um palco, não preciso fazer maiores malabarismos para produzir um filme correto”.
Sim, o filme é mais do que correto, mas apenas um grande fã da banda inglesa vai conseguir sentar em uma sala de cinema para assistir a um show de quase duas horas de duração. Na verdade, o que foi feito nada mais é do que a produção de um DVD de um show (só nos últimos dez anos, a banda lançou oito registros de shows em DVD!!), desses que são lançados aos quilos no mercado, só que com a grife de Scorsese.
E realmente, mais do que a grife, o diretor norte-americano justificou o seu nome nos créditos do filme. Em nenhum outro registro áudio-visual dos Stones (ou talvez até de qualquer outro artista da música) é possível vê-los de tão perto. As rugas de Keith Richards ou a boca de Mick Jagger nunca ficaram tão nítidas e próximas...
Quanto a parte musical, os Stones, sabendo que o show estava sendo registrado para a posteridade, aproveitaram para inserir canções que havia tempos não eram executadas. Tudo bem que os cavalos de batalha (“Satisfaction”, “Jumpin’ Jack Flash”, “Start Me Up”, “Brown Sugar” e “Sympathy For The Devil”) sempre agradam, mas o grande diferencial do filme (e do CD duplo com a íntegra do show e mais quatro canções que ficaram de fora na edição final) é a inclusão de jóias raras como “Loving Cup” (1972 – em dueto com Jack White III, do White Stripes), “As Tears Go By” (1966), “You Got The Silver” (1969), “I’m Free” (1965 – presente somente no CD) e “She Was Hot” (1983), que com seus 25 anos de idade, foi a música mais recente que os Stones incluíram no roteiro.
Desta forma, o set list acaba meio que sendo uma mistura dos clássicos que os Stones sempre tocam em seus grandes shows com canções mais obscuras e que nem o maior sonhador poderia imaginar que um dia a banda inglesa as incluísse no roteiro de seus shows. Algo parecido somente ocorreu quando do lançamento de “Stripped” (1995), no qual os Stones tocavam umas canções bem esquecidas em um formato mais voltado para o acústico.
Além de Jack White III, há mais duas participações especiais no filme. Buddy Guy é o responsável por um dos melhores momentos, recriando juntamente com a banda, “Champagne & Reefer”, clássico de Muddy Waters. Por sua vez, Christina Aguilera é absolutamente dispensável em “Live With Me”. Ainda mais se formos levar em consideração o fato de a banda ter uma Lisa Fischer nos backing vocals. Vai ver que foi para compensar essa besteira que Mick Jagger fez as maiores deferências à sua backing vocal na hora de apresentar a banda.
Cotação: Filme: ***1/2
CD: ****
16 de abr. de 2008
ROLLING STONES BEM DE PERTO
Marcadores:
Rolling Stones
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Um comentário:
Luiz, concordo em tudo sobre esse filme. Adorei o texto: preciso e na medida certa.Beijos
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