22 de ago. de 2010

Resenhando: Roberta Sá, R.E.M., Mart’nália, Tom Petty, Spandau Ballet

“Quando o canto é reza” – Roberta Sá & Trio Madeira Brasil
Depois de três álbuns de estúdio, Roberta Sá resolveu gravar um álbum temático. E o compositor escolhido foi o baiano Roque Ferreira, já gravado por gente como Maria Bethânia, Beth Carvalho, Martinho da Vila e Zeca Pagodinho. Para acompanhá-la na empreitada, Roberta Sá escalou o competente Trio Madeira Brasil, formado por Zé Paulo Becker, Marcello Gonçalves e Ronaldo do Bandolim. O resultado no álbum “Quando o canto é reza” pode ser analisado sob dois pontos de vista. As canções de Roque Ferreira são caracterizadas pelo samba de roda do Recôncavo Baiano. E com a adesão do excelente trio, tal sonoridade foi para longe. Aí, se isso é bom ou ruim, vai depender do ouvinte. Mas fato é que “Água doce”, por exemplo, ficou camerística demais. Já “Cocada” pode ser um maxixe, um choro, ou qualquer coisa que o valha, menos um samba de roda. Ao contrário de “A mão do amor”, que resistiu ao velho samba baiano. E, cá pra nós, ficou muito mais graciosa. Não que isso seja uma crítica. Se fugiu do estilo tradicional de Roque Ferreira, Roberta Sá inovou. Talvez tenha sido um pouco radical. Mas ao final de “Quando o canto é reza”, podemos ter pelo menos a certeza de que Roberta Sá é uma das grandes vozes do país na atualidade.

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“Fables of the reconstruction” (Edição 2010) – R.E.M.
O R.E.M. dá continuidade ao seu projeto de lançar todos os seus álbuns remasterizados acrescidos de faixas bônus, com “Fables of the reconstruction”, lançado originalmente em 1985. “Fables” pode ser considerado um dos álbuns mais difíceis – e por isso mesmo um dos mais amados – da banda norte-americana. “Driver 8”, “Life and how to live it”, “Maps and legends” e “Auctioneer” são hits (para os indies, que fique claro) que até hoje não foram esquecidos por Michael Stipe e companhia. Tanto que, volta e meia, aparecem em algum show da banda por aí. Além da versão remasterizada de “Fables of the reconstruction” (com o áudio muito melhorado com relação ao primeiro lançamento em CD), o pacote traz um CD inédito com as “Athens demos”, que foram gravadas poucos meses antes de a banda entrar em estúdio para registrar o álbum que ora ganha edição especial. Conforme o guitarrista Peter Buck explica no encarte do CD, a banda vivia uma pressão forte para compor o material de seu terceiro álbum. Apenas “Driver 8” e “Old man Kensey” haviam sido rascunhadas na estrada, e, por isso, um período no estúdio seria o ideal. E realmente foi. De lá, eles saíram com o esqueleto de “Fables of the reconstruction”. E versões cruas e iniciais (com ótima qualidade de áudio) de músicas como “Wendell Gee” e “Feeling gravitys pulls” podem ser ouvidas nessas “Athens demos”, que ainda contam com duas faixas que entraram em trabalhos posteriores da banda (“Hyena” em “Life’s rich pageant”, de 1986, e “Bandwagon” em “Dead letter office”, de 87), além da inédita (e bacana) “Thron those trolls away”. Que venha logo a edição especial de “Life’s rich pageant”.

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“Em África – Ao Vivo” – Mart’nália
Parece que para sobrevier na selv... ops, indústria fonográfica brasileira, você tem que seguir a receita de um álbum ao vivo após um de estúdio. (Não tenho nada contra isso, quem for fã que compre o disco ao vivo.) E Mart’nália é um belo exemplo de artista que segue a tal receita à risca. Assim, depois do ótimo “Madrugada” (2008), chegou a vez do ao vivo “Mart’nália em África”. Trata-se de um pacote que traz um DVD com o show completo mais uma “roda de semba” (com participação de gente como Martinho da Vila e Gilberto Gil), além de um CD com 16 faixas extraídas do DVD. O ruim desse tipo de projeto é que grande parte das faixas do álbum de estúdio lançado anteriormente é repetida. E, mais uma vez, Mart’nália não foge a regra. Ou seja, “Fé”, “Angola”, “Deu ruim”, “Alívio”, entre outras, são repisadas nesse ao vivo, com pouca diferença com relação às gravações originais. O mais legal acaba sendo o que foge um pouco de “Madrugada”, como o medley com canções do seu pai (“Ex-amor” / “Disritmia”), “Brasil pandeiro” (música de Assis Valente imortalizada pelos Novos Baianos) e o clássico samba campeão da Vila Isabel em 1988 (“Kizomba, festa da raça”). Aos que não têm paciência para discos ao vivo, a boa notícia: a tal “roda de semba” (semba é um gênero musical angolano) é muito bacana, assim como o belo documentário dirigido por João Wainer. No final das contas, o show é que vira o bônus.

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“Mojo” – Tom Petty and The Heartbreakers
Para quem gosta de rock e blues da melhor qualidade, Tom Petty é uma espécie de miojo na hora da fome. Ou seja, não tem erro. E “Mojo” (atenção: não é “miojo”), o seu último álbum, que saiu no mês passado lá fora (e nem deve ser lançado aqui no Brasil), é exatamente assim: 65 minutos em 15 faixas com um rock básico que vai agradar a qualquer fã do gênero. “Mojo” é o primeiro álbum de Tom Petty ao lado de sua fiel banda The Heartbreakers, em oito anos. E ele também marca o retorno do baixista Ron Blair, afastado do conjunto desde “Hard promises”, álbum de 1981. Os oito anos de saudade e a certeza de que com Tom Petty não tem erro fizeram com que “Mojo” estreasse logo na segunda posição da parada da Billboard. Gravado basicamente ao vivo em estúdio, o álbum começa com a temperatura lá no alto com “Jefferson Jericho blues”, um bluesão acelerado, no qual as guitarras de Petty, Mike Campbell e Scott Thurston gritam. Outros destaques são “Candy” (que lembra algo do Allman Brothers), “I should have known it” (um rock de arrebentar os tímpanos) e “Lover’s touch”, que pode ser considerada uma baladona, que segue a melhor tradição do blues. O encerramento com “Good enough” é um dos mais sensacionais de toda a discografia de Tom Petty. Climática, a faixa é toda calcada no piano de Benmont Tench, antes de Petty e Campbell mostrarem como é que se toca guitarra. Bom o suficiente. E bota suficiente nisso.

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“The reformation tour” – Spandau Ballet
Quem viveu os anos 80 certamente conhece o Spandau Ballet. Quem está na faixa dos 40 dificilmente não dançou coisas como “Gold” nas discotecas, ou deu algum beijo ao som de “True”. Lá por 1983, o Spandau Ballet disputava, pau a pau, o posto de grande banda do synth pop (com pitadas de new romantic) com o Duran Duran. E, até hoje, Morrissey elege o Spandau Ballet como uma de suas bandas prediletas. Depois de vinte anos separados, os seus integrantes resolveram se unir novamente para gravar o CD “Once more”, com regravações dos velhos sucessos, além de duas inéditas. Quando foi anunciada a turnê, os saudosistas puderam tirar o spray fixador vencido da gaveta do banheiro. Resultado: a “reformation tour” foi um imenso sucesso. E a ST2 lança agora no Brasil o DVD com o show da banda, “The reformation tour 2009”, gravado ao vivo na Arena O2, em Londres. No repertório, hits oitentistas como “Throught the barricades”, “To cut a long story short” e “Chant nº 1”, além das recentes “Once more” e “With the pride”. Só faltou mesmo “No one can hold a candle to you”, que Morrissey gosta de cantar em seus shows. Assim como o ex-Smith, o Spandau Ballet também quis ser do contra. Mas tudo bem. No fim das contas, nem fez muita diferença.

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Em seguida, Mart’nália interpreta “Conto de areia”, em seu novo DVD “Em África – Ao vivo”.