Já vi dezenas de shows retrospectivos com voz e violão. Geralmente, eles funcionam assim: o artista junta os seus maiores sucessos, faz versões acústicas, sai em turnê, os shows ficam lotados, a plateia canta tudo, e todo mundo volta feliz para casa. Essa fórmula não tem erro. Mas Gilberto Gil fez de um modo diferente. O CD e o DVD “Bandadois” saíram no finalzinho do ano passado. Nele, Gil se juntou ao seu filho, o ótimo violonista Bem Gil, e pescou sucessos e algumas coisas obscuras de seu repertório. Resultado: um dos melhores álbuns de 2009.
Para a turnê, Gilberto Gil seguiu o mesmo estilo, com o acréscimo de Jacques Morelenbaum no violoncelo. Reforço de peso, diga-se. E o show ganhou muito. A presença de um violoncelo no meio dos dois violões (de Gil e de Bem) fez o contraponto necessário para algo realmente diferente. Ora tocando com os dedos (fazendo do cello uma espécie de baixo acústico), ora com o arco, o som do instrumento de Morelenbaum fez toda a diferença no show que assisti ontem no Vivo Rio.
Tudo bem que o Vivo Rio, pelo seu tamanho, não é o local mais apropriado para esse tipo de show intimista. Para piorar, no início do espetáculo, o som, muito baixo, não estava legal. Era mais fácil ouvir o barulho dos copos e dos papos do público. Outro ponto baixo foi o atraso. Pelo menos o meu ingresso anunciava que o show começaria às 21h. Gil só entrou no palco às 22h10, mas parece que a falha foi do Vivo Rio, que imprimiu parte dos ingressos com o horário errado. Ainda bem que tive ótimas companhias na mesa, Renan Parrot (um ex-violoncelista) e a sua namorada, diretamente de Juiz de Fora para ver Gilberto Gil.
O repertório do show englobou 23 canções, entre sucessos, canções de terceiros e pérolas obscuras. A maioria está presente em “Bandadois”. E as melhores foram exatamente as que não estão no DVD – o fator “surpresa” sempre conta nessas horas. O que dizer de “Não tenho medo da morte”, uma das melhores letras de Gil (“Não tenho medo da morte / Mas sim medo de morrer / Qual seria a diferença / Você há de perguntar / É que a morte já é depois / Que eu deixar de respirar / Morrer ainda é aqui / Na vida, no sol, no ar / Ainda pode haver dor / Ou vontade de mijar”), interpretada com uma voz grave e apenas com o violão do cantor servindo de percussão? E “Panis et circenses”? Essa, confesso, valeu a minha noite. “Saudade da Bahia”, de Dorival Caymmi, também dispensa comentários, assim como a deliciosa “Chiclete com banana”, do repertório de Jackson do Pandeiro, um dos heróis de Gilberto Gil.
As duas novas, “Das duas, uma” (escrita por Gil de presente de casamento para a sua filha Maria) e “Quatro coisas” (para a sua esposa Flora Gil, assim como a música de abertura, “Flora”) são canções menores, quando comparadas a outras pedradas do repertório do show. “Lamento sertanejo” (parceria de Gil com Dominguinhos) ganhou um solo do cacete de Morelenbaum, e “Tenho sede” (de Dominguinhos e Anastácia) ganhou uma versão melhor do que a (quase) insuperável registrada no “Unplugged” de Gil, lançado em 1993, acho. “Estrela”, outra surpresa do repertório. A versão acústica deu a delicadeza necessária para realçar outra letra sensacional de Gilberto Gil (“O contrário também / Bem que pode acontecer / De uma estrela brilhar / Quando a lágrima cair / Ou então / De uma estrela cadente se jogar / Só pra ver / A flor do seu sorriso se abrir”).
Sucessos como “Andar com fé”, “Expresso 2222” e “Viramundo”, todas no final da apresentação, deram a certeza de que é possível ser simples e sofisticado, popular e cerebral, tudo ao mesmo tempo agora. Poucos artistas conseguem isso. Taí um show que eu vejo de novo.
O repertório do show de Gil no Vivo Rio foi o seguinte: “Flora”, “Esotérico”, “Um banda um”, “Saudade da Bahia”, “Super Homem, a canção”, “Rouxinol / Nightingale”, “Metáfora”, “Chiclete com banana”, Das duas, uma”, “Quatro coisas”, “Não tenho medo da morte”, “Lamento sertanejo”, “Tenho sede”, “Panis et circenses”, “Estrela”, “Seu olhar”, “La renaissance africaine”, “Babá Alapalá”, “Andar com fé”, “Expresso 2222”, “Amor até o fim”, “A raça humana” e “Viramundo”.
O vídeo abaixo eu encontrei no youtube. Ele foi feito em algum show dessa turnê de Gilberto Gil pela Europa, no final do ano passado. Dá para ter uma ideia do que foi “Não tenho medo da morte”.
Para a turnê, Gilberto Gil seguiu o mesmo estilo, com o acréscimo de Jacques Morelenbaum no violoncelo. Reforço de peso, diga-se. E o show ganhou muito. A presença de um violoncelo no meio dos dois violões (de Gil e de Bem) fez o contraponto necessário para algo realmente diferente. Ora tocando com os dedos (fazendo do cello uma espécie de baixo acústico), ora com o arco, o som do instrumento de Morelenbaum fez toda a diferença no show que assisti ontem no Vivo Rio.
Tudo bem que o Vivo Rio, pelo seu tamanho, não é o local mais apropriado para esse tipo de show intimista. Para piorar, no início do espetáculo, o som, muito baixo, não estava legal. Era mais fácil ouvir o barulho dos copos e dos papos do público. Outro ponto baixo foi o atraso. Pelo menos o meu ingresso anunciava que o show começaria às 21h. Gil só entrou no palco às 22h10, mas parece que a falha foi do Vivo Rio, que imprimiu parte dos ingressos com o horário errado. Ainda bem que tive ótimas companhias na mesa, Renan Parrot (um ex-violoncelista) e a sua namorada, diretamente de Juiz de Fora para ver Gilberto Gil.
O repertório do show englobou 23 canções, entre sucessos, canções de terceiros e pérolas obscuras. A maioria está presente em “Bandadois”. E as melhores foram exatamente as que não estão no DVD – o fator “surpresa” sempre conta nessas horas. O que dizer de “Não tenho medo da morte”, uma das melhores letras de Gil (“Não tenho medo da morte / Mas sim medo de morrer / Qual seria a diferença / Você há de perguntar / É que a morte já é depois / Que eu deixar de respirar / Morrer ainda é aqui / Na vida, no sol, no ar / Ainda pode haver dor / Ou vontade de mijar”), interpretada com uma voz grave e apenas com o violão do cantor servindo de percussão? E “Panis et circenses”? Essa, confesso, valeu a minha noite. “Saudade da Bahia”, de Dorival Caymmi, também dispensa comentários, assim como a deliciosa “Chiclete com banana”, do repertório de Jackson do Pandeiro, um dos heróis de Gilberto Gil.
As duas novas, “Das duas, uma” (escrita por Gil de presente de casamento para a sua filha Maria) e “Quatro coisas” (para a sua esposa Flora Gil, assim como a música de abertura, “Flora”) são canções menores, quando comparadas a outras pedradas do repertório do show. “Lamento sertanejo” (parceria de Gil com Dominguinhos) ganhou um solo do cacete de Morelenbaum, e “Tenho sede” (de Dominguinhos e Anastácia) ganhou uma versão melhor do que a (quase) insuperável registrada no “Unplugged” de Gil, lançado em 1993, acho. “Estrela”, outra surpresa do repertório. A versão acústica deu a delicadeza necessária para realçar outra letra sensacional de Gilberto Gil (“O contrário também / Bem que pode acontecer / De uma estrela brilhar / Quando a lágrima cair / Ou então / De uma estrela cadente se jogar / Só pra ver / A flor do seu sorriso se abrir”).
Sucessos como “Andar com fé”, “Expresso 2222” e “Viramundo”, todas no final da apresentação, deram a certeza de que é possível ser simples e sofisticado, popular e cerebral, tudo ao mesmo tempo agora. Poucos artistas conseguem isso. Taí um show que eu vejo de novo.
O repertório do show de Gil no Vivo Rio foi o seguinte: “Flora”, “Esotérico”, “Um banda um”, “Saudade da Bahia”, “Super Homem, a canção”, “Rouxinol / Nightingale”, “Metáfora”, “Chiclete com banana”, Das duas, uma”, “Quatro coisas”, “Não tenho medo da morte”, “Lamento sertanejo”, “Tenho sede”, “Panis et circenses”, “Estrela”, “Seu olhar”, “La renaissance africaine”, “Babá Alapalá”, “Andar com fé”, “Expresso 2222”, “Amor até o fim”, “A raça humana” e “Viramundo”.
O vídeo abaixo eu encontrei no youtube. Ele foi feito em algum show dessa turnê de Gilberto Gil pela Europa, no final do ano passado. Dá para ter uma ideia do que foi “Não tenho medo da morte”.
2 comentários:
Foi bom, mas faltou Refazenda.
Muito gênio!!!
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