12 de out. de 2008

CD: “ESTANDARTE” (SKANK) – VOLTANDO A SURPREENDER

Das bandas que surgiram após o estouro do BRock dos anos 80, o Skank se firmou como a principal banda da década de 90. Se, quando do lançamento de seu primeiro álbum (“Skank”, de 1993), não faltou gente para dizer que a banda mais parecia uma cópia d’Os Paralamas do Sucesso, logo no segundo, “Calango” (1994), Samuel Rosa, Henrique Portugal, Lelo Zaneti e Haroldo Ferretti souberam criar uma sonoridade própria, que se transformou em uma explosão que varreu o país sob o nome de “Jackie Tequila”.

Sucesso mais que merecido, o Skank continuou o seu percurso com “O Samba Poconé” (1996), que trazia hits como “É Uma Partida de Futebol”, “Tão Seu” e, claro, “Garota Nacional”. Os dois álbuns foram produzidos por Dudu Marote, um produtor que, sem dúvidas, soube criar uma identidade própria ao Skank. Em seguida, “Siderado” (1998), produzido por Paul Ralphes, foi a prova de uma certa estagnação da banda mineira. Fato que o Skank já tentava dar uma guinada, rumando para uma sonoridade mais adulta. Mas, no fim das contas, o disco tinha mais baixos do que altos.

Em 2000, o Skank voltou com o álbum “Maquinarama”, no qual finalmente conseguiu chegar a tal sonoridade mais adulta que não havia conseguido no trabalho anterior. Os metais, marca registrada da banda, sumiram, mas a resposta do público a sucessos como “Balada do Amor Inabalável” e “Três Lados”, não deixa dúvidas de que a banda conseguiu, como em um video-game, “passar de fase”, com sucesso. Três anos depois, o Skank chegou com “Cosmotron”, possivelmente o melhor disco de rock lançado no Brasil nessa década. Produzido por Tom Capone e transportando os Beatles ao Clube da Esquina, Samuel Rosa e companhia registraram pérolas como “Dois Rios”, “Formato Mínimo” e o hit “Vou Deixar”.

Com “Carrossel”, lançado em 2006, o Skank pareceu ter passado pela mesma “crise” de “Siderado”. Um álbum super bem produzido, com algumas canções boas, mas que, no conjunto, soava aquém da obra da banda. Tanto que nenhuma faixa do álbum realmente aconteceu.

Com “Estandarte”, novo CD da banda mineira, o ouvinte vai ter a sensação de que, de vez em quando é bom dar um passo para trás, para, em seguida, dar dois a frente. Nesse novo trabalho, o Skank apresenta um punhado de composições novas, com o mesmo frescor que pôde ser ouvido em “Calango” ou em “Maquinarama”. A produção, não por acaso, é de Dudu Marote, aquele mesmo que ajudou a banda a criar a sua identidade.

Apesar da produção de Dudu Marote, que o ouvinte não espere um disco pop com um “Pacato Cidadão 2”. Em “Estandarte”, o Skank dá a prova definitiva de que amadureceu como banda. Se não chega a ser um clássico como “Cosmotron”, “Estandarte” é um álbum que certamente será bem lembrado pelos fãs da banda pelos próximos anos. O Skank mostra, com ele, que o pop chiclete ficou definitivamente para trás. E isso é um elogio, até mesmo porque os seus fãs que, aos 15 anos cantavam “Jackie Tequila”, agora já estão na faixa dos 30...

“Pára-Raio”, primeira faixa do CD, com os seus metais introdutórios, dá uma falsa impressão de que o Skank está voltando com um novo “Calango”. Mas não é verdade. Nesta parceria de Samuel Rosa com Nando Reis, os metais do pessoal do Funk Como Le Gusta são mais comportados e discretos, com uma letra madura, bem distante do puro “me sinto tão seu”: “Noite inteira, fim de tarde / Meu candelário marca o infinito / Em trincheiras que escavo / Acho você dentro de mim”.

A essência do álbum tem mais a ver com “Ainda Gosto Dela”, outra parceria com Nando Reis, mais puxada para a eletrônica, no melhor estilo “Balada do Amor Inabalável”. Apesar de não ser aquele tipo de hit arrasa-quaterão, é um sucesso em potencial. E a ótima (e discreta) participação especial de Negra Li nos vocais dá um charme a mais à canção. Outra parceria com Nando, e que dificilmente não vai tocar (muito) nas rádios, é “Sutilmente”, uma bonita canção de amor (“Mas quando eu estiver / Morto / Suplico que não me mate não / Dentro de ti”), que, musicalmente, lembra um pouco “Resposta”. E o arranjo de cordas de Luis Brasil é uma verdadeira bola dentro.

Além de quatro parcerias com Nando Reis, Samuel Rosa prestigia o seu velho companheiro Chico Amaral com seis composições em conjunto – as duas restantes foram escritas com César Maurício. Mas, diferentemente das parcerias com o ex-Titã, as músicas com Amaral são um pouco mais roqueiras e, até mesmo, experimentais. “Chão”, puxada para a eletrônica, lembra até um pouco alguma coisa do The Killers. E o vocal mais agudo de Samuel Rosa remete a fagulhas de “Miss You”, dos Rolling Stones. Outra composição da dupla que merece destaque é “Canção Áspera”, um rock bacana, com uma levada de baixo bacana e uma guitarrinha... bacana.

E por falar em rock, o Skank mostra a sua pegada forte em “Notícias do Submundo”, outra com Chico Amaral. E também da mesma parceria, “Escravo”, um pop-rock com toda a cara de hit, que faz referência a um dos velhos ídolos da banda: Bob Dylan (“Já disse o velho Dylan / You gotta serve somebody / Eu sirvo às leis do Islã / Pra que o amor de Alá vigore”). Outra que mostra um Skank com uma face mais roqueira é “Renascença”, última faixa do disco e escrita a quatro mãos por Samuel Rosa e Nando Reis.

Pena que a soul “Noites de Um Verão Qualquer” (parceria com César Maurício) e “Saturação” (com Chico Amaral) não mantenham o pique de “Estandarte”. A primeira, musicalmente, está bem distante do nível médio do álbum. E a segunda, com seus mais de seis minutos de duração, literalmente, pode saturar a paciência do fã. Mas nada que tire o brilho de “Estandarte”, um disco que pode merecer um DVD ao vivo, adiado (acertadamente) durante a turnê de “Carrossel”.

PS. O encarte de “Estandarte” é um dos mais bacanas dos últimos tempos. Quem quiser conhecer melhor a obra do pintor Rafael Silveira (responsável pelas pinturas do libreto), basta acessar o seu ótimo site.

Abaixo, um vídeo com a faixa “Ainda Gosto Dela”, primeiro single de “Estandarte”.

Cotação: ****

2 comentários:

Anônimo disse...

Luiz Felipe, sua interpretação do "Estandarte" foi excelente. Eu também tive as mesmas sensações. E ao ver, mais uma vez, o Skank dando um tapa na acomodação, o vigor da banda fica transparente nesse trabalho.

Anônimo disse...

Engraçado, eu achei o CD ruim, só gostei de "ainda gosto dela". Acho essa levada rock (?) do skank insuportável, com aqueles vocais arrastados do Samuel. Prefiro os metais de Calango, o melhor disco deles. Uma pena eles terem abandonado aquele ritmo meio reggae, com metais e levada suave, para se tornar (outra) mediana banda de pop rock...