
No mesmo documentário do “Black Album”, Ulrich conta como conheceu Bob Rock. O produtor, sem mais nem menos, logo após o lançamento de “... And Justice For All” (1988) falou: “Eu acho que vocês não conseguem passar para o disco, o som que fazem no palco”. Logicamente, Ulrich olhou o produtor com aquela cara: “Quem diabo é você?”. Mas, pelo jeito, ele e James Hetfield pagaram para ver. Entraram em estúdio com Bob Rock e de lá saíram com a obra-prima que até virou objeto do documentário citado.
Realmente, no “Black Album”, o Metallica ganhou uma sonoridade, digamos, mais profissional. A mixagem tosca do álbum anterior, no qual mal dava para escutar o baixo, deu lugar a um som potente. E a quantidade de clássicos do álbum, melhor nem falar. Só o riff de “Enter Sandman” entrou para a história. E o resto... É história!
Pena que o negócio acabou parando por aí mesmo. Os dois álbuns posteriores (“Load” e “ReLoad”), sem contar com o de covers, “Garage Inc.”, decepcionaram. E “St. Anger” foi a pá de cal sobre o caixão metálico.
Mas esse mesmo caixão agora ressurge na capa de “Death Magnetic”, nono álbum de estúdio da banda, mostrando que o Metallica está vivo novamente. E muito vivo! Certamente Rick Rubin, produtor do disco, foi um dos responsáveis por isso. Desde o disco de 1991, não se ouvia James Hetfield cantar com tanta vontade, Kirk Hammett fazer solos tão espetaculares e Lars Ulrich arrebentar a sua bateria com tanta vontade. De quebra, Robert Trujillo mostra no baixo a vontade que havia muito faltava a Jason Newsted.
Além disso tudo, em “Death Magnetic”, pela primeira vez, todos os membros da banda contribuem na composição, e uma faixa instrumental (“Suicide & Redemption”) dá as caras, o que não acontecia desde “... And Justice For All” (1988). Se o fã fechar os olhos, pode ter a impressão que a faixa é filhote de “Orion”, do clássico “Master Of Puppets” (1986).
E por falar no clássico álbum de 1988, o primeiro single de “Death Magnetic”, “The Day That Never Comes”, com a sua sonoridade épica, alternando a fúria da banda com momentos mais calmos, é praticamente uma reminiscência daquela época, com uma pitada de “Fade To Black”. Mas não é apenas nessa faixa em que pode ser ouvida a “old school” do Metallica. “That Was Just Your Life”, música de abertura do novo disco, mostra tudo o que o velho fã do grupo quer escutar de novo, notadamente a poderosa bateira de Lars Ulrich que volta a soar como em “Ride The Lightning”, por exemplo. E isso sem contar com os guturais vocais de James Hetfield.
As duas faixas seguintes, “The End Of The Line” e “Broken, Beat & Scarred” seguem o mesmo propósito. A primeira conta com uma pesada letra sobre vício e morte, enquanto que, na segunda, é possível ouvir o Metallica retornar às suas raízes mais ‘trash’ dos anos 80. O mesmo acontece em “My Apocalypse” que, com cinco minutos de duração, é a faixa mais curta do álbum – todas as outras ultrapassam os seis minutos e meio. Nessa última canção de “Death Magnetic”, a impressão que fica é que, sem querer, colocamos para rodar “Kill ‘Em All” (1983).
Outros dois grandes destaques do álbum são “All Nightmare Long” e “The Judas Kiss”. “All Nightmare Long” talvez seja a melhor faixa de “Death Magnetic”, com a sólida bateria de Lars Ulrich e um riff de guitarra genial (e já clássico) de Kirk Hammett. Provavelmente será uma daquelas canções que, daqui a 20 anos, permanecerá no repertório de shows do Metallica. Já “The Judas Kiss” prova que a aquisição de Robert Trujillo foi excelente para a banda. E Hammet destrói mais uma vez com um solo arrasador de guitarra.
O Metallica ainda aproveita para fechar a sua trilogia “The Unforgiven”. A terceira parte da canção é a mais lenta do álbum, próxima de “Unforgiven II”, presente em “ReLoad” (1997), com o mesmo estilo mais bluesy na guitarra. Se a faixa não chega a prejudicar o disco como um todo, certamente, é a sua música mais fraca. Ah, e apesar do título, a palavra “unforgiven” não é citada nenhuma vez na letra.
Pouco antes do lançamento de “Death Magnetic”, James Hetfield disse que o título era uma homenagem às pessoas do mundo da música que já haviam partido dessa para melhor, como Layne Staley e vários outros. Na expressão usada por ele, “mártires do rock”. Bela homenagem. Mas o melhor mesmo de “Death Magnetic” é mostrar que o Metallica está mais vivo do que nunca. Como mártires de sua própria existência.
Abaixo, o videoclipe do single “The Day That Never Comes”.
Cotação: ****1/2
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