Depois de colocar no mercado uma versão muito bacana de “The Joshua Tree”, parece que o U2 tomou gosto pela coisa. Em “The Joshua Tree”, a banda irlandesa fez um trabalho impecável, remasterizando a obra-prima original e ainda colocando no pacote um CD de sobras de gravação do disco, além de um DVD com a íntegra de um show da turnê do álbum em Paris.
Agora, o U2 remexe o seu baú de modo mais profundo, relançando os seus três primeiros álbuns: “Boy” (1980), “October” (81) e “War” (83). Nesses três seminais trabalhos, a banda liderada por Bono ainda não tinha chegado ao nível de excelência que alcançou em “The Joshua Tree”. Nesse disco, o U2 tinha atingido a maturidade artística, deixando se ser uma banda alternativa para se transformar na – para muitos – banda de rock mais importante do mundo. Por sua vez, tanto em “Boy” como em “October”, o que se pode ouvir é um conjunto ainda cru, com pouca experiência, mas nem por isso incapaz de escrever canções importantes. Que o digam clássicos como “I Will Follow”, “Out Of Control” e “Gloria”.
“Boy” pode ser considerado um álbum de estréia muito bom. Com ele, apesar das mudanças posteriores, o U2 já entrou de sola e mostrou que podia se transformar em uma banda essencial para o rock. Já em “October”, o nível caiu um pouco. Provavelmente foi o resultado de uma grande turnê, o que acabou fazendo com que a banda não tivesse tempo para compor canções com a mesma qualidade do disco anterior. Apesar de uma “Gloria” aqui ou uma “I Fall Down” acolá, fato é que o sombrio “October” é um trabalho bastante irregular. Não é à toa que é considerado por muitos o pior álbum da banda.
Mas Bono, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr. puderam se levantar e se regozijar em “War”, este sim o primeiro disco do U2 que pode levar a alcunha de clássico. Nesse trabalho, Bono compôs canções naquele estilo messiânico que faz a sua fama até hoje. “Sunday Bloody Sunday” e “New Year’s Day” dispensam maiores comentários e são presença obrigatória em qualquer show do conjunto de Dublin. “‘40’” é outra que, volta e meia, ainda encerra algumas apresentações do U2, levanto muitos quarentões às lágrimas.
Mas o grande diferencial desses relançamentos acaba sendo o CD de raridades que acompanha cada um dos discos. O CD que vai junto com “Boy” é bastante válido. As três canções que estavam absolutamente inéditas até então – “Speed Of Life”, “Saturday Night” e “Cartoon World” – justificam o investimento no disco. Nelas, o U2 mostra que o punk era a sua principal influência àquele tempo. A versão original de “11 O’Clock Tick Tock”, em estúdio, é outro prato cheio para quem só conhecia a ao vivo do “Under a Blood Red Sky”. E isso sem contar com as versões de canções como “Boy-Girl”, “Stories For Boys” e “Out Of Control”, todas presentes no primeiro EP da banda (“Three”). Nelas, é possível identificar facilmente o DNA de um grande conjunto musical.
O CD bônus de “October” é o mais interessante dos três. Recheado de gravações ao vivo (13 das 17 faixas) em shows ou na BBC, esse disco acaba se transformando no primeiro registro ao vivo de fôlego do U2. Assim, canções de “Boy” (“I Will Follow” e “The Ocean”) e do próprio “October” (“I Threw a Brick Through a Window”, “Fire”, “October”) ganham versões com muito mais peso e com outro ponto de vista das originais. “A Celebration” e “Trash, Trampoline And The Party Girl”, que estavam perdidas em singles, funcionam como uma prévia do som mais encorpado e das letras mais líricas que o U2 escreveria em “War”.
Já o CD que acompanha a versão remasterizada de “War” é o mais fraco de todos. Das 12 faixas, sete são versões remixadas de duas únicas canções (“New Year’s Day” e “Two Hearts Beat As One”). Ficou a impressão de que o U2 não tinha o que colocar nesse bônus e encheu lingüiça mesmo. (Teria sido mais interessante se o acompanhante de “War” fosse o DVD “Under a Blood Red Sky”.) Mas alguma coisa ainda se salva aqui. “Endless Deep”, lado B dos singles alemão e inglês de “Sunday Bloody Sunday, é uma canção instrumental interessante (apesar de já estar presente no CD bônus “The Best Of 1980-1990”) e a inédita “Angels Too Tied To The Ground”, que, sem dúvidas, é a melhor faixa desse CD. “Treasure (Whatever Happened To Pete The Chop)” é o lado B da versão inglesa do single de “New Year’s Day” e é um punk-rock nos moldes de um The Clash ou um The Jam. As duas últimas faixas, “Fire” e “I Threw A Brick Through A Window / A Day Without Me” foram gravadas no festival de Werchter, em 1982, e, a despeito de a gravação não ser das melhores, são duas belas versões ao vivo.
Todos os três CDs, por enquanto só importados, saíram em luxuosas versões, cada um em uma caixinha, com um livro de capa dura com 36 páginas repletas de textos (inclusive do guitarrista The Edge) e fotos inéditas. Por aqui, ainda não há previsão de lançamento. Mas o mais provável é que, assim como aconteceu com o “The Joshua Tree”, apenas a versão simples com o CD remasterizado chegue às lojas. Os fãs do U2 devem reservar uma grana urgentemente e importar logo esses, antes que saiam as versões de luxo de “The Unforgettable Fire” (1984) e de “Achtung Baby” (1991). Do jeito que a banda está investindo no nicho, não vai demorar muito.
Abaixo, o vídeo de “Electric Co.”, gravado ao vivo no mítico show em Red Rocks, durante a turnê de “War”, e que mais tarde se transformou no vídeo “Under a Blood Red Sky”.
Cotação: “Boy”: **** - CD de raridades: ****
“October”: *** - CD de raridades: ****1/2
“War”: ***** - CD de raridades: **
10 de ago. de 2008
CDs: “BOY”, “OCTOBER” E “WAR” – RELANÇAMENTOS (U2) – U2 RASPA O BAÚ E REMEXE OS SEUS PRIMÓRDIOS
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