31 de ago. de 2008

CD: “22 DREAMS” (PAUL WELLER) – NEM TUDO SÃO SONHOS

Paul Weller, apesar de ter sido o fundador de uma importante banda – The Jam, lá no finalzinho dos anos 70 –, é muito pouco conhecido no Brasil. Mas em outubro, o pessoal que for ao Tim Festival terá a oportunidade de presenciar um show do ‘modfather’. Será a sua primeira visita ao Brasil, e, para nossa sorte, ele está vindo para divulgar um de seus melhores álbuns, “22 Dreams”.

São 21 canções em 68 minutos de duração. E o único (e, de certa forma, grave) problema de “22 Dreams” é exatamente esse. A sensação que fica é que Weller quis fazer uma espécie de “Álbum Branco” (é como os fãs do ex-The Jam estão o classificando), tal como os Beatles, e acabou se perdendo em vários momentos. A verdade é que, hoje em dia, gravar um álbum com mais de duas dezenas de músicas em mais de uma hora de duração é para poucos. Pouquíssimos. E, sem querer desmerecer ninguém, os Beatles são os Beatles...

Assim, por exemplo, quatro canções-vinhetas (“Lullaby Für Kinder”, “The Dark Pages Of September Lead To The New Leaves Of Spring”, “A Dream Reprise” e “111”) são completamente dispensáveis. E a pergunta que fica é: para quê? Será que para fazer um disco genial, o artista precisa encher lingüiça. E a última faixa, “Night Lights”, nem se fala: uma canção instrumental chatíssima com mais de seis minutos de duração. Teria Paul Weller cortado metade das canções do disco, e “22 Dreams” poderia entrar em qualquer lista dos melhores lançamentos do ano.

Isso porque, o nono trabalho solo de Paul Weller traz algumas faixas excelentes, que cobrem as melhores facetas de sua diversificada carreira. Tudo o que fez o nome do “pai do mod” está aqui: do rock básico (quase punk) do The Jam até a mistura de ritmos de sua carreira solo, passando pelo folk-soft-rock do Style Council (banda que Weller formou no início dos anos 80). E tudo isso, certamente, fez a alegria de seus fãs, que colocaram o disco no topo da parada britânica na semana de seu lançamento, bem como já dizem que é o melhor disco da carreira de Weller, barrando até mesmo o famoso “Stanley Road”, lançado em 1995.

O início de “22 Dreams” dá uma idéia de quão bom poderia ser o disco se não fossem os excessos. As suas quatro primeiras faixas são exatamente as melhores, dando ao ouvinte a (falsa) impressão de que o novo álbum de Weller seja realmente um sonho. A folk “Light Nights”, com violões e violoncelos evoca os melhores momentos do Style Council, e a faixa-título, por sua vez, faz a gente até pensar que está ouvindo um novo álbum do The Jam, com uma ótima guitarra, um baixo alucinante de Lewis Wharton, e uma letra que explica o fato de o disco ter 21 canções apesar de se chamar “22 Dreams”: “I had 22 dreams last night / And you were 21 / The last one I saved for myself / Just to save my soul”. A romântica “All I Wanna Do (Is Be With You)” possui uma das melhores letras do disco (“I’m not here to forgive you / I’m neither clever nor confused / I’m not looking to steal you / Don’t want you feeling used / All I wanna do is be with you”) e a soul “Have You Made Up Your Mind” é aquele tipo de canção que, apesar de nova, já tem cara de clássico. Não é à toa que foi escolhida para ser o primeiro single do CD.

Weller também abusa um pouco das baladas nesse disco. E não faz feio. O lamento com acento jazzy “Invisible” é outro grande momento do álbum, assim como a lúdica “Black River”, que tem a participação especial do ex-guitarrista do Blur, Graham Coxon, tocando bateria. A delicada “Where’er Ye Go”, com boa intervenção do violinista John McCusker, também desce muito bem.

Além de Graham Coxon, Weller contou com a participação especial de outros artistas do pop-rock britânico. Com Noel Gallagher, dividiu a parceria de “Echoes Round The Sun”, outro bom momento de “22 Dreams”. A faixa ainda conta com a participação de Noel e de Gem Archer, o que faz com que a canção tenha a cara do Oasis – e isso é um elogio. Aziz Ibrahim, que já trabalhou com o Simply Red e os Stone Roses, participa da faixa “God”. Pena que esta seja uma das piores do álbum.

Outro momento em que Weller brilha é na instrumental “Song For Alice”, composta em homenagem a Alice Coltrane. A soturna faixa faz lembrar os melhores momentos das canções instrumentais de “Pet Sounds”, dos Beach Boys.

Agora nos resta esperar para ver o show de Paul Weller em outubro. Se ele conseguir extrair os excelentes momentos de “22 Dreams” e misturá-los com clássicos como “That’s Entertainment”, “The Changing Man” e “Long Hot Summer”, não vai sobrar pedra sobre pedra.

Abaixo, um vídeo com a faixa-título do álbum, gravado ao vivo no programa de Jools Holland.

Cotação: ****

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