Enquanto João Gilberto não faz os seus esperados shows aqui no Brasil, os fãs de Bossa Nova já ganharam um belo presente pelos 50 anos de um dos movimentos musicais mais importantes da história da Música Popular Brasileira. “Bossa Eterna”, novo trabalho de Raul de Souza, lançado pela Biscoito Fino, é um deleite para o apreciador da boa música instrumental produzida no país.
Para quem não sabe, Raul de Souza (antes conhecido como Raulzinho) é considerado um dos maiores trombonistas do mundo, já tendo gravado com diversos artistas brasileiros e estrangeiros, como João Gilberto, Sarah Vaughan e o grande jazzista norte-americano Lionel Hampton. Raul também chegou a integrar o grupo Bossa Rio, de Sergio Mendes, tendo participado do antológico álbum “Você ainda não ouviu nada”. Em 1965, gravou o seu primeiro trabalho solo, o não menos antológico “À vontade mesmo”, que com alguma procura é possível encontrar à venda. Após, gravou diversos discos nos Estados Unidos, e hoje está radicado em Paris.
Para a gravação de “Bossa Eterna”, ao lado desse músico de invejável currículo, estão o pianista João Donato – que, juntamente com o trombonista, foi responsável pelos arranjos –, o baixista Luiz Alves (que tocou no célebre grupo de música instrumental Som Imaginário) e o baterista Robertinho Silva, que, além de também ter sido baterista do Som Imaginário, integrou a banda de Milton Nascimento por 26 anos e já gravou com músicos importantes como Antonio Carlos Jobim, Wayne Shoter e George Benson.
Mas, voltando a “Bossa Eterna”, o CD tem início com uma composição do próprio Raul de Souza. Além da sincopada faixa, que dá título ao álbum, Raul também compôs “A La Donato” e “Pingo D’Água”, um ‘free jazz’ no melhor estilo de Ornette Coleman, e que se transforma em um tremendo samba-jazz, na acepção mais pura da palavra. Um parêntese: nestas duas faixas, Raul toca o lendário ‘souzabone’, um trombone elétrico de quatro válvulas criado por ele mesmo. Outra curiosidade interessante é o fato de essa ter sido a primeira vez que Raul de Souza e João Donato gravaram juntos.
Além dessa três canções, “Bossa Eterna” traz mais três de João Donato: “Fim De Sonho”, “Malandro” e “Lugar Comum”, esta última com um arranjo puxado para a música latina.
Mas o grande destaque do CD é a faixa “Nuvens”, que além de contar com a gaita de seu compositor, Maurício Einhorn, mostra um Raul de Souza inspiradíssimo, tocando o seu trombone com uma suavidade digna do canto de João Gilberto. Nem parece aquele instrumento imenso que fazia tanto barulho nas bandinhas das festas infantis de outrora...
Fechando o disco, três composições de três monstros sagrados da MPB. “Só Por Amor” (de Baden Powell e Vinicius de Moraes) conta com aquele piano magnífico que só poderia ser de João Donato. Por sua vez, “Balanço Zona Sul” (Tito Madi) ganha uma suavidade impressionante com o trombone de Raul, e “Bonita”, de Tom Jobim, é a chave de ouro de “Bossa Eterna”.
Com esse álbum, é possível a identificação imediata com os versos do jornalista e produtor musical Wagner Merije, “Daqui Para a Eternidade”:
“Todo mundo é Bossa
Tem de todo jeito, pura e misturada
Em todo canto encanta
A Bossa é uma parada
Bossa no sertão e nas Oropa
Bossa Lounge e Bossa japa
Bossa ‘n’ Roll e BossaCucaNova
Não tem quem escapa
A bossa balança o pop e o piano
Conquista os deuses, as minas, os manos”
Que a Biscoito Fino lance outros álbuns nesse estilo!
Abaixo, um vídeo de Raul de Souza declamando a íntegra do poema.
Cotação: ****1/2
5 de jul. de 2008
ÁLBUM: “BOSSA ETERNA” (RAUL DE SOUZA E CONVIDADOS) – UMA AULA DE MÚSICA INSTRUMENTAL
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João Donato,
Raul de Souza
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2 comentários:
Oi Luiz Felipe! O Blog está cada vez melhor. Parabéns. Beijos
TRABALHO NA PRODUÇÃO DESSA RARIDADE QUE É O RAUL DE SOUZA E SOBRE ESSE ULTIMO LANÇAMENTO BOSSA ETERNA É TD E + UM POUCO, INCRIVEL, TISTE DAQUELE QUE PERDEU O SHOW DE RETORNO AO BRASIL NO SESI PAULISTA
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