31 de jul. de 2008

CD: “THE AGE OF UNDERSTATEMENT” (THE LAST SHADOW PUPPETS) – BOM DEMAIS PARA UM PROJETO PARALELO

“The Age Of Understatement” era apenas um disco que o líder do Arctic Monkeys, Alex Turner, gravou com um amigo, Miles Kane, para fazer algo um pouco diferente do que de costume. A estréia foi logo na invejável primeira colocação dos discos mais vendidos no Reino Unido durante uma semana. E, há poucos dias, saiu a seleta lista de indicados do Mercury Prize, um dos prêmios mais prestigiosos da indústria fonográfica mundial e – surpresa! – “The Age Of Understatement” não só figura na lista como é um dos favoritos a abocanhar o cobiçado troféu.

Pelo jeito, a brincadeira foi mais longe do que o esperado. E com muitos méritos, porque o primeiro álbum do The Last Shadow Puppets é bem mais interessante do que qualquer outro já lançado pela banda ‘principal’ de Alex Turner. (Ressalte-se que os dois álbuns do Arctic Monkeys também foram indicados ao Mercury Prize anteriormente, mas não levaram.)

O The Last Shadow Puppets foi formado por Turner e Miles Kane, da banda The Rascals. Ambos se conheceram quando o grupo anterior de Kane, The Little Fames, foi escalado para abrir alguns shows dos Monkeys. A química rolou e não demorou muito para Turner chamar Kane para tocar guitarra na música “505”, que fecha o segundo álbum dos Arctic Monkeys, “Favourite Worst Nightmare”. Em seguida, os dois começaram a compor e daí nasceu o projeto The Last Shadow Puppets. James Ford, do Simian Mobile Disco, uniu-se a dupla e os três foram correndo para o estúdio.

“The Age Of Understatement” foi gravado em poucos dias na França durante o mês de agosto do ano passado. James Ford tocou bateria e produziu todas as 12 faixas do álbum, que, por sua vez, foram compostas por Turner e Kane. E o resultado é surpreendente. Em rápidos 35 minutos, a banda, unida a London Metropolitan Orchestra, com seus 22 membros conduzidos pelo maestro canadense Owen Pallett, faz um som que mistura, pop, rock dos anos 60, western, clássico, spaghetti, épico e mais alguma coisa. A miscelânea resulta em uma das melhores coisas lançadas nesse ano.

A faixa-título, que abre o CD, já dá uma idéia ao ouvinte de toda essa mistura, que soa com uma solidez e uniformidade brilhantes. Essa canção também remete a três influências muito fortes que podem ser observadas nas demais faixas: o cantor Scott Walker, David Bowie nos anos 70 e, principalmente, Ennio Morricone. Aliás, “The Age Of Understatement” poderia ser, tranqüilamente, uma trilha sonora de algum western, composta pelo compositor e maestro italiano. Isto porque todas as suas faixas possuem uma ambientação típica dos filmes western que Ennio Morricone trabalhou, sempre brilhantemente, na trilha-sonora.

“Standing Next To Me”, com o seu saboroso som retrô, é outra grande atração do álbum, com os seus violinos chorando ao fundo. Outro destaque, repleto de variações melódicas, é “Separate And Ever Deadly”, que, assim como a teatral “Only The Truth” e “Black Plant”, também cairiam muito bem no filme “The Good, The Bad, The Ugly”, ou, até mesmo, em algum novo longa de Quentin Tarantino.

Alex Turner e Miles Kane também mostram talento para canções mais lentas e que, mesmo assim, musicalmente, não se afastam muito da proposta do trabalho. “The Meeting Place”, “The Chamber” e a acústica “Time Has Come Again” provam que, mesmo em momentos mais intimistas, o som do The Last Shadow Puppets pode soar grandioso como um filme no velho-oeste. Outra em que o maestro Owen Pallett mostra a fundamental importância de uma grande orquestra nesse álbum é “In My Room”, que, musicalmente, é a mais rica do álbum.

Quem não for fã dos Arctic Monkeys, provavelmente vai ter um pouco de preconceito ao colocar para rodar “The Age Of The Understatement”. Só que para curtir esse brilhante álbum, não é necessário ser fã da banda liderada por Alex Turner. Quem ouvir o álbum do The Last Shadow Puppets e não conhecer o trabalho do Arctic Monkeys, dificilmente vai resistir a conhecer a banda. Os fãs dos Monkeys vão dizer que Alex Turner é realmente um gênio ao manter dois grupos tão impactantes. Mas quem não for fã da banda principal de Turner, vai torcer mesmo é que ele esqueça um pouco os Monkeys e grave logo o segundo álbum ao lado de Miles Kane. Álbum esse, aliás, que já foi prometido pelos dois.

Abaixo, um vídeo com a apresentação ao vivo da faixa-título do álbum, no programa de Jools Holland, em abril passado.

Cotação: ****1/2

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