Chico César sempre foi um artista de altos e baixos. Infelizmente, alguns problemas pessoais fizeram com que a sua obra fosse afetada de alguma forma. Mas, o que ninguém pode negar é que o paraibano de Catolé do Rocha sempre foi muito coerente na sua produção artística. Desde o seu primeiro trabalho, “Aos Vivos” (1995), Chico César apresentou inspiradas composições e uma excelente presença de palco. No início, era inegável a semelhança de sua voz com a de Caetano Veloso – muitos chegaram a pensar que “À Primeira Vista” era obra do compositor baiano –, mas a partir do trabalho seguinte, “Cuscuz Clã” (1996), quando se juntou ao produtor Marco Mazzolla, Chico César mostrou que tinha a sua própria personalidade.
O sucesso ainda aumentou, merecidamente, com o hit “Mama África”. Se por um lado isso foi bom para Chico, por outro, foi ruim, pois acabou ficando com uma certa fama de “artista de uma única música”. Opinião de pessoas desinformadas, com certeza, pois “Cuscuz Clã” foi dos melhores discos de MPB lançados na década de 90. Em “Beleza Mano” (1997) e “Mama Mundi” (2000), as coisas começaram a desandar um pouco, apesar de Chico jamais ter perdido a inspiração, o que prova músicas como “Se Você Viajar” e “Pensar em Você”.
Além disso, cantoras como Maria Bethânia e Elba Ramalho descobriram o talento do compositor paraibano e gravaram diversas músicas suas. Em “Respeitem Meus Cabelos, Brancos” (2002) e “De Uns Tempos Para Cá” (2005), Chico César manteve a sua coerência, embora os álbuns não tenham sido grande sucesso de público, provavelmente pelo fato de Chico ter optado por um som mais regional, em detrimento do pop de “Cuscuz Clã”.
No seu novo disco, “Francisco Forró y Frevo”, Chico César apresenta um dos trabalhos mais inspirados de sua carreira. Como o próprio título denuncia, o frevo e o forró – com todas as suas variantes, como baião, xote e xaxado – são a tônica do disco. Se o ouvinte prestar bem atenção, vai logo reparar que existe uma intercalação entre cada estilo musical a cada faixa. E Chico César se sai muito bem nos dois.
Com a produção dividida com o “moderno” Bid, Chico César misturou elementos da eletrônica com a sua música regional. A letra de “Eletrônica” penúltima faixa do álbum é uma espécie de resumo do disco: “Música eletrônica / Sem energia não dá / Aí, meu senhor / Eu trago um motor / Lá de Salvador / Boto pra tocar”. A mistura de instrumentos bem característicos da música brasileira (como sanfona, zabumba, triângulo) com os eletrônicos (sintetizadores, teremin, vocaders) é feita com bastante originalidade em “Francisco Forró y Frevo”.
As letras de Chico César também continuam inspiradas, embora ele tenha se afastado um pouco do romantismo e se aproximado da ironia e do deboche. Um exemplo disso é “Marcha da Calcinha” (“A vida tirou a calcinha pra mim / Me dominar, me amar / Me amarrar com seda e cetim”) que é juntado à famosa marchinha de carnaval “Marcha da Cueca” (“Eu mato, eu mato / Quem roubou minha cueca / Pra fazer pano de prato”). Em “Feriado”, Chico César mostra um lado mais surrealista: “Estou pensando em viajar no feriado / Mas se eu souber que uma vadia ou um veado / Dormiu com você / Não quero nem saber”.
O álbum também tem algumas belas participações especiais, como Seu Jorge, que empresta a sua voz à “Dentro” e Armandinho e a Spock Frevo Orquestra na hilária (e crítica) “Pelado” (“O abadá está tão caro / Custa mais caro / Que a máscara de carnaval / Eu vou é sair pelado / Com você ao meu lado / Vai ser sensacional”). Aliás, Armandinho é homenageado no frevo “Armando” (“Armando não aceita comando / Armando toca quando quer / Armando não é pau-mandado / É pau eletrificado / Entendeu, mané?”). Já “Deus Me Proteja”, a mais lenta do álbum, e que conta com a voz e a sanfona de Dominguinhos, acaba sendo o ponto alto de “Francisco Forró y Frevo.
Cotação: ****
19 de jun. de 2008
CHICO CÉSAR UNE ELETRÔNICA E ENERGIA
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Chico César
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Um comentário:
Só pra constar!
O mama mundi é maravilhoso! O nível harmonico e melodico deste disco supera todos os outros.
Mas gosto é gosto!
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