3 de mai. de 2008

SIMONE E ZÉLIA DUNCAN EQUILIBRAM TRADIÇÃO E MODERNIDADE

A idéia do projeto nasceu para algumas poucas apresentações acústicas, mas as cantoras Simone e Zélia Duncan foram além e gravaram um CD e um DVD ao vivo e, provavelmente, vão sair em turnê. A união da tradição de Simone com a modernidade de Zélia Duncan gerou um bom trabalho que, se de um lado renova a obra de Simone, retarda um pouco a de Zélia Duncan que vinha de um ótimo disco (“Pré-Pós-Tudo-Bossa-Band”).
Se não acrescenta tanto à obra de Zélia Duncan como acrescenta a da cantora baiana, “Amigo é Casa” mostra, mais uma vez, o poder de Zélia “se transformar em outras”. Depois de gravar discos de música pop, MPB, sambas tradicionais e tornar-se uma “Mutante”, Zélia escorrega um pouco para o lado mais popular da cantora Simone. E, como de costume, o faz com maestria. E de quebra, ajuda Simone a se renovar. Basta ouvir, por exemplo, as novas versões de Simone (em momento solo) para “Diga Lá, Coração” e “Encontros e Despedidas”, que são superiores às datadas gravações de estúdio. Neste “Amigo é Casa”, Simone soa mais cool e com a voz mais lapidada.
Assim como Simone, Zélia Duncan também tem a sua parte solo no CD. E é daí que sai o melhor momento do show. “Na Próxima Encarnação” é o ponto alto do disco, com um ótimo arranjo do qual se sobressai o acordeom de Léo Brandão e uma letra magnífica (“Na próxima encarnação / Não quero saber de barra / Replay de formiga não / Eu quero nascer cigarra”) que faz referência ao sucesso “Cigarra”, bem como homenageia Simone. Zélia também segura bem sozinha em “A Companheira” (uma bela letra de Luiz Tatit), o samba “Kitnet” e a delicada “Cuide-se Bem”, de Guilherme Arantes.
Mas os momentos em dupla que acabam sendo o melhor (e a própria razão de ser) do CD ao vivo mesmo. “Meu Ego”, de Roberto e Erasmo Carlos, é um grande momento, assim como “Petúnia Resedá”, que ganhou arranjo mais moderno e jazzístico, com destaque para as guitarras de Walter Villaça e Webster Santos. O belo início com “Alguém Cantando”, de Caetano Veloso, com as duas cantoras somente acompanhadas do piano de Léo Brandão, também é sublime, ao contrário de “Grávida”, que já tem a própria autora Marina Lima como a sua intérperte definitiva.
Os quatro números finais são os mais empolgantes do roteiro. A homenagem a Cássia Eller, com um arranjo bem suingado para “Gatas Extraordinárias”, e o samba “Ralador” são revigorantes. Nesta canção, Simone mostra que é uma das maiores intérpretes de samba do país. No boogie-woogie “Agito e Uso”, é a vez de Zélia Duncan brilhar e segurar uma Simone mais contida. O final, com “Tô Voltando” (sucesso de Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós”) é a chave de ouro do projeto.
E se o DVD tiver as músicas que fizeram parte do roteiro do show, e que ficaram de fora do CD, como “Não Vá Ainda”, “Jura Secreta” e o ótimo medley “Alma” (Suely Costa) / “Alma” (Arnaldo Antunes e Pepeu Gomes), vai ser melhor ainda.

Cotação: ***1/2

5 comentários:

Anônimo disse...

ok, depois de tantos elogios 3 e meio? pouco coerente. outra bobagem Simone nunca foi nem será uma grande cantora de samba. Nada a ver.

Daniel Achedjian disse...

Vocés têm sortes amigos brasileiros, que so vou receber esse disco fim do mes no meu pais por encomenda. Da agua na boca, ja que no dvd "Simone ao vivo" esse dueto funcionava maravilhosamente! Nao tem que esquecer que a Zélia ja caiu no "tradicional" com seu "Eu me transformo em outras", enquanto a Simone remoçou completamente esses anos para ca, com a eterna ajuda do Ivan Lins. Por falar de numeros de estrelas que vocé deu, Luiz, te convido a ler o meu post de amanha sobre algumas humildes consideraçoes do trabalho de "critico", abraço...

Luiz Felipe Carneiro disse...

Oi Anônimo!
Bom, o critério de cotação, como vc pode ver, é subjetivo. Uso um método comparativo com os demais lançamentos do momento, bem como com os outros trabalhos lançados anteriormente pelo artista cujo disco estou resenhando. No entanto, mais importante do que a cotação é o texto, através do qual o leitor tira as suas próprias conclusões.
Com relação ao seu outro comentário, na minha modesta opinião, considero a Simone uma excente cantora de samba sim. Para tanto, basta ouvir os seus álbuns "Café com Leite" (acho que lançado em 1996), no qual interpreta canções de Martinho da Vila, e também "Brasil - O Show" (1997), com sambas de vários artistas. Ah, e também tem a famosa interpretação dela para "O Amanhã", antológico samba da União da Ilha, de 1978.

Anônimo disse...

Ok, Felipe, mas "Ralador" num é samba naum, tá? Voce cita dois trabalhos da Simone em samba. Pelo menos um deles, Brasil O Show foi considerado tão ruim que era para virar dvd( na época edição e venda em VHS) e não virou. E o Café com Leite é a mesmice, Martinho, Martinho, Martinho como depois no Simone ao Vivo a baiana teve a coragem de gravar com DUDU NOBRE( ???!!!). Não é sambista, MESMO!! É muito dura na ginga.

novoluar disse...

Simone É BOA SAMBISTA SIM!

Não sei qual a relutância do anônimo a considerar a Simone uma grande sambista. Yudo bem, ela não dedicou sua obra, como a Clara, Beth e outras ao gênero, mas tem boas incursões nele... Eu reuni os sambas dela em dois discos para ficar ouvindo e simplesmente são esplêndidos! Uma pessoa que tenha 40 ótimos sambas, é uma grande sambista! O "Café com leite" é o disco perfeito dela, nada a acrescentar e quanto ao "Brasil o show", tem um roteiro muito coerente com boas escolhas... Simplesmente o samba dela tem outro estilo...

E nos sambas-enredo, duvido que haja alguém que na MPB saiba cantar como ela... Ninguém tem potência suficiente e os puxadores são horríveis na grande maioria... Ela conta com uma voz belíssima e ao mesmo tempo a força que carecem outras figuras...

Ouça os Sambas de roda da Bahia e depois diga se ela é ou não uma boa sambista...

Quanto à voz da Si neste lançamento - muito bom por sinal - nota-se menos flexível que antigamente, muito presa dos graves, que não a deixam mudalar suficientemente...