9 de mai. de 2008

FERNANDA TAKAI MODERNIZA (AINDA MAIS?) NARA LEÃO


Dificilmente Nara Leão não iria gostar do primeiro show solo de Fernanda Takai. E não é só pelo fato de a maior parte do repertório ser do disco “Onde Brilhem Os Olhos Seus”, no qual Takai interpretou treze canções do repertório de Nara. O maior trunfo do show – e que está perfeitamente ligado a Nara Leão – é o fato de Takai ter conseguido inovar um repertório que já é moderno por natureza. Como prova, basta citar o último número do show: uma surpreendente versão meio pop, meio dance “estilo anos 70”, de “O Barquinho”. Ah, e não satisfeita, Takai cantou a canção em japonês...

Mas não foi só no final que Fernanda Takai surpreendeu. Acompanhada por uma excelente banda formada por John Ulhoa (violões e guitarra), Lulu Camargo (teclados e programações), Mariá Portugal (bateria e zabumba) e Thiago Braga (baixo), Takai misturou a sonoridade moderna do Pato Fu – John e Lulu fazem parte da banda – com as canções que ficaram imortalizadas na voz de Nara.

E isso foi um grande mérito de Takai. Em seu início de carreira, quando Nara Leão era taxada como um símbolo da bossa nova, ela subiu o morro para gravar Zé Keti e vestiu João do Vale para relatar a seca no Nordeste para os jovens da Zona Sul do Rio de Janeiro. E foi mais ou menos isso que Fernanda Takai fez ao gravar as canções de Nara. Desta feita, nada de banquinho e violão para “Insensatez” e nem um simples arranjo de samba para “Diz Que Fui Por Aí”. Tanto no disco como no show, o violão da bossa nova e a percussão do samba foram trocados pela moderna sonoridade típica do Pato Fu.

“Debaixo dos Caracóis dos seus Cabelos” e “Com Açúcar, Com Afeto”, duas canções suaves por natureza, ficaram com versões mais eletrônicas e modernas. O samba “Luz Negra”, de Nelson Cavaquinho, é outra que ganhou uma roupagem bem diferente, mais parecendo “Não Mais”, do CD “MTV Ao Vivo”, da banda de Takai.

Os arranjos originais dos discos foram executados com absoluta fidelidade no palco. E Fernanda Takai também cantou muito bem. O seu único problema em cima do palco, ao que parece, é a falta de costume de ser a estrela principal do show. Quando acompanhada pelo Pato Fu, Takai fica mais solta. No show de sexta-feira passada no Canecão, a cantora, às vezes, não sabia muito o que fazer na frente do palco. Em alguns momentos, dava a impressão de não saber para qual lado andar, ou aonde colocar as mãos... Mas com os seus diálogos com o público – sempre muito espirituosos, diga-se de passagem – Takai compensou um pouco essa falta de jeito de início de carreira solo.

O espetáculo teve todas as faixas do CD “Onde Brilhem Os Olhos Seus” e mais algumas canções que ficaram de fora do disco, até por não terem muita relação com o universo de Nara, como afirmou Takai durante o show. Mas algumas sacadas foram geniais. Geniais, mesmo! Por exemplo, a inclusão de “There Must Be An Angel”, sucesso da dupla Eurythmics. Antes de cantá-la, Takai explicou que no final da canção, todos entenderiam o motivo de a mesma estar presente no roteiro. E realmente foi arrepiante, porque o final da canção é exatamente assim: “Na rarara Na rarara / Nara, Nara...”. Outra inclusão bem divertida no roteiro foi uma versão mais acelerada de “Ordinary World”, da banda inglesa Duran Duran. A justificativa para ela estar no roteiro... Bem, foi o fato de a música anterior ter sido “Estrada do Sol”, de Tom Jobim e Dolores DURAN. Daí, pular para o Duran Duran foi fácil, fácil...

Outros grandes momentos do show foram o início, com uma minimalista “Ta-Hi”, a gema tropicalista “Lindonéia” – na qual Takai não mudou muito a versão original (não importa o tempo, o tropicalismo vai ser sempre moderno...) – e “Odeon”, um dos momentos em que fica mais patente a originalidade de Takai e seus músicos, ao misturar o choro tradicional com a eletrônica. Aliás, a mistura foi a tônica do show. Não só no palco, como na platéia, formada tanto por jovens fãs do Pato Fu, como por um pessoal mais velho que provavelmente assistiu ao show “Opinião”, nos anos de chumbo da ditadura.

“Esconda o Pranto Num Sorriso”, de Evaldo Braga, foi outra canção que fez a ponte entre o novo e o velho, assim como “Canta Maria”, de Ary Barroso. “O Divã”, de Roberto e Erasmo Carlos foi outra grata surpresa no repertório.

Mas se teve canção em japonês, tinha que ter uma em inglês também. E foi exatamente essa que acabou se transformando no momento mais emocionante da noite. “Ben", grande sucesso na voz de Michael Jackson, ganhou novas cores com uma emocionada Takai. “Sinhá Pureza”, música de Pinduca, que fala do Pará e fez sucesso com Eliana Pittman, foi outra boa inclusão no roteiro, embora esteja distante do universo de Nara Leão.

O nervosismo no semblante de Fernada Takai era claro. O fato de ter um público sentado e atento, com algumas celebridades presentes – quase a família inteira de Nara estava presente no Canecão, incluindo Cacá Diegues, na primeira fila – deve ter interferido um pouco. Mas mesmo assim, o resultado foi muito bom. Se o CD “Onde Brilhem Os Olhos Seus” foi um dos grandes lançamentos do ano passado, esse show também tem tudo para ser um dos melhores de 2008.
No final do show, Takai disse que, até então, este foi o espetáculo em que recebeu os aplausos mais entusiasmados da turnê. Mas completou dizendo que ela ainda está no começo e gostaria de ver como vai ser quando retornar ao Rio. Se o nervosismo passar, não há dúvidas, de que os aplausos serão muito mais efusivos. E se for para gravar um DVD, será melhor ainda.

Cotação: ****

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu acho o Pato Fu meio chato, mas estou louco para ver esse show da Takai quando chegar aqui no Sul.