Quando Milton Nascimento cantou “Samba do Avião” acompanhado pelo Jobim Trio no último capítulo da novela “Paraíso Tropical” e anunciou que ia gravar um disco inteiro dedicado à obra de Antonio Carlos Jobim, muita gente lamentou pelo fato de o compositor “mineiro-carioca” não dar continuidade a um trabalho inédito autoral, como foi feito no ótimo disco “Pietá” (2002). Mas a verdade é que, apesar de não apresentar quase nada de inédito – a única exceção é “Dias Azuis”, de Daniel Jobim – o álbum “Novas Bossas” surpreende.
O Jobim Trio, formado pelo pianista Daniel Jobim (neto de Tom), o violonista Paulo Jobim (filho) e o excelente baterista Paulo Braga (que formava a Banda Nova, que acompanhava Tom) é um auxílio luxuosíssimo para a voz de Milton, que ainda aproveita para atualizar três grandes canções de sua fase “Clube da Esquina”: “Tudo Que Você Podia Ser” (que, apesar de Milton ter falado que não a executava desde os anos 70, foi a música de abertura do início da turnê de “Pietá”), “Cais” e a emocionante “Tarde”, na qual Milton prova aquela célebre frase de Elis Regina, de que se Deus tiver voz, a sua voz é a de Milton Nascimento.
Das 14 faixas de “Novas Bossas”, apenas essas três são do repertório de Milton. Mas a sua influência está impregnada nas canções de Tom, como a já batida “Chega de Saudade”, que ganha uma introdução simulando um trem (sim, como bom “mineiro”, Milton é fascinado por trens), e “Café com Pão”, um poema de Manuel Bandeira, que Tom musicou e gravou em seu último disco (“Antonio Brasileiro”, de 1994). Os versos iniciais (“Café com pão / Café com pão / Café com pão”) que, mais uma vez, simulam um trem em movimento, ficam mais evidentes com a batida de bateria de Paulo Braga. Aliás, é justo destacar aqui o jovem baixista Rodrigo Villa que dá conta do recado ao lado de um time formado por tanta gente boa.
Em outras canções de Tom, o resultado é muito bom também, seja em bossas como “Brigas Nunca Mais”, “Velho Riacho” e “Samba do Avião”, seja em canções mais lentas, como “Esperança Perdida”, “Caminhos Cruzados” e “Inútil Paisagem” (o ponto alto do disco), cujas melodias sinuosas combinam perfeitamente com a voz de Milton. Para finalizar, “O Vento” de Dorival Caymmi faz a ponte Rio-Minas-Salvador, além de homenagear um ídolo de Milton e de Tom.No show, que estreou no Mistura Fina do Rio de Janeiro, o disco é executado em quase toda a sua integralidade. Infelizmente, “Trem de Ferro” e “Tudo Que Você Podia Ser” ficaram de fora. Mas, em compensação, clássicos como “Eu Sei Que Vou Te Amar”, “Nos Bailes da Vida”, “Cravo e Canela” e “Para Lennon e McCartney” estiveram presentes. O único senão do espetáculo é a sua curta duração – apenas uma hora e quinze minutos. Milton e o Jobim Trio darão continuidade a turnê em locais menores, como o Mistura Fina, o que é um momento único para ver o cantor e compositor tão de perto.
23 de abr. de 2008
BOSSAS (NEM TÃO) NOVAS, MAS SEMPRE BEM VINDAS
Cotação: CD: ****
Show: ***1/2
Marcadores:
Jobim Trio,
Milton Nascimento
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Um comentário:
Assisti a esse show por absurods 220 reais e achei bem fraquinho. Milton sem vontade de cantar e o Jobim Trio tocando aquelas melodias do Tom de sempre. Faltou ousadia!
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