16 de jul. de 2011

Paul "On The Run" em Nova York

Hoje matei saudade do Paul McCartney aqui em Nova York. Depois de uma overdose de Sir Paul McCartney - foram seis shows nos últimos oito meses -, fica difícil escrever alguma coisa diferente.

Bom, começamos pela primeira diferença: o show foi em Nova York. E isso significa muita coisa. A energia de John Lennon parece estar impregnada em cada tijolo dessa cidade. É sério. E Paul McCartney sabe disso. Tanto sabe que o DJ que antecipa o show abriu uma exceção no meio de umas 15 músicas do Paul. Do nada, ele mandou “Power to the people”. Foi a única música do set que o estádio parou de conversar. E cantou.
A outra diferença, pelo menos para quem está acostumado a ver o DVD “Good evening New York City”, foi o fato de o show ter sido no estádio dos Yankees. Explica-se: em 2009, o ex-Beatle apresentou três shows emblemáticos no Citi Field (antigo Shea), estádio do New York Mets, rival dos Yankees. Os shows se transformaram no DVD “Good evening New York City”. Os fãs dos Yankees (conversei com alguns) não engoliram essa. Hoje esses fãs foram à forra, embora nenhum DVD tenha sido gravado. Mas no programa da turnê, Paul declara, em entrevista, preferir o Yankees ao Mets.

(Aliás, impressionante, o programa está lotado de fotos dos shows no Brasil. Deve ter umas dez, inclusive uma foto de página dupla do Túnel Novo, em Copacabana, com os dizeres “Welcome back to Rio”, e outras duas com o público carioca segurando os cartazes “Na na na”, durante “Hey Jude”.)
Mais uma diferença? O show de hoje foi o primeiro da nova turnê de Paul McCartney, a “On the run”, que, depois de mais um show amanhã aqui em Nova York, segue para Detroit, Montreal e Chicago. Para quem viu alguma apresentação da “Up and coming tour” que rolou em Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro, houve poucas diferenças. Mas isso não é uma crítica.

O palco é o mesmo, com algumas mudanças nos vídeos que passam no telão. No repertório, a primeira surpresa veio na segunda música do show, uma versão pesada de “Junior’s farm”, single obscuro que Paul McCartney lançou em 1975. No primeiro set de piano, Paul mandou o seu primeiro single solo, “Maybe I’m amazed”. Só que essas duas canções já haviam sido apresentadas no último show da “Up and coming tour”, em Las Vegas, no mês passado. Então, a surpresa nem foi tão grande assim.

Mas a sétima música do roteiro não poderia ser mais surpreendente: uma puta versão para “The night before”, música do filme “Help!”, que Paul nunca havia tocado ao vivo antes. No momento acústico, outra surpresa agradável: uma versão lindíssima, voz e violão, de “I will”. E lá no finalzinho, depois de “Helter skelter”, quando todo mundo esperava “Sgt. Peppers lonely heart’s club band”, eis que Sir Paul ataca com “Golden slumbers”! Lógico que não ficou só nisso... Ele teve que complementar com “Carry that weight” e “The end”.



O resto do repertório não mudou. E foi ótimo assim. O show começou com “Hello goodbye”, seguiu com “All my loving”, “Jet”, “Dance tonight” (com direito àquela dancinha linda do baterista Abe Laboriel Jr), “Band on the run”, “A day in the life” (com direito a uma citação de “Give peace a chance”, que ganhou um contorno mais emocionante em Nova York), “Live and let die” (com os fogos fantásticos que varreram o céu do Bronx), “Hey Jude”, “Yesterday”... Enfim, uma overdose pop!

Após “Let me roll it”, que teve uma citação de “Foxy lady”, de Jimi Hendrix, Paul contou que ficou impressionando quando foi a um show do guitarrista, em 1966. Os Beatles haviam lançado o álbum “Sgt. Pepper’s” em uma sexta, e no show que Hendrix fez no domingo seguinte, ele começou com a faixa título do álbum. Outros homenageados, como de costume, foram George Harrison (com aquela versão arrepiante de “Something”) e John Lennon. Durante “Here today”(segundo Paul, uma conversa imaginária que ele nunca teve com Lennon), deu para ver que o ex-Beatle estava muito emocionado. Os seus olhos chegaram a ficar marejados.

Quando Paul McCartney passou pelo Brasil, a comoção foi geral. Ele não se apresentava no país fazia muitos anos. Aqui em Nova York, ele não tocava fazia dois anos. Mas quer saber? A comoção foi a mesma. Coroas de setenta, oitenta anos dividiram a plateia com crianças de cinco. Durante “Hey Jude” foi difícil alguém não chorar. Os ingressos se esgotaram em poucas horas. O público também arriscou gritinhos ensaiados. Metade do estádio estava vestido com camisetas dos Beatles. Muita gente carregava cartazes com frases espirituosas. Em um estava escrito: “Sign my butt!”. Paul agradeceu, mas respondeu: “better not”.

Tudo exatamente igual ao Brasil. De diferente mesmo só a facilidade de locomoção. (Aqui existem dezenas de estacionamentos legalizados e transporte público decente.)
Isso só prova que a linguagem de Paul McCartney é universal.
Não é à toa que é o maior gênio da música pop em todos os tempos.
Ele faz com que nós sejamos mais felizes.


*****

Set list compelto do show de abertura da “On the run tour”:

1) “Hello goodbye”
2) “Junior’s farm”
3) “All my loving”
4) “Jet”
5) “Drive my car”
6) “Sing the changes”
7) “The night before”
8) “Let me roll it” / “Foxy lady”
9) “Paperback writer”
10) “The long and winding road”
11) “Nineteen hundred and eighty-five”
12) “Let ‘em in”
13) “Maybe I’m amazed”
14) “I’ve just seen a face”
15) “I will”
16) “Blackbird”
17) “Here today”
18) “Dance tonight”
19) “Mrs Vandebilt”
20) “Eleanor rigby”
21) “Something”
22) “Band on the run”
23) “Ob-la-di, ob-la-da”
24) “Back in the USSR”
25) “I’ve got a feeling”
26) “A day in the life” / “Give peace a chance”
27) “Let it be”
28) “Live and let die”
29) “Hey Jude”
30) “Lady Madonna”
31) “Day tripper”
32) “Get back”
33) “Yesterday”
34) “Helter skelter”
35) “Golden slumbers”
36) “Carry that weight”
37) “The end”