Em 1980, Paul McCartney trabalhava em seu álbum “Tug of war”. Durante a gravação – que marcava o seu reencontro com George Martin onze anos após “Abbey Road” – no dia 8 de dezembro, John Lennon foi baleado por Mark Chapman em Nova York. A faixa-título do disco de McCartney dizia o seguinte: “Esperávamos mais / Mas, de um jeito ou de outro, tentávamos superar um ao outro num cabo de guerra”. Além da guerra de egos entre os dois, outros fatores deram cabo à banda que revolucionou a música. A morte do empresário Brian Epstein, em agosto de 67, foi um deles. “Ele era um de nós”, disse Lennon ao “New Musical Express”. A presença de Yoko Ono também foi decisiva.
“A morte do Epstein deixou os meninos meio sem pai. Acho que isso contribuiu para John entrar em um estado de desamparo que possibilitou que Yoko dominasse o pedaço. A relação entre o Paul e o John também já estava desgastada. Eles eram muito amigos, mas a amizade azedou por causa da vaidade pessoal e do dinheiro”, afirma Elaine Gomes, autora do livro “The Beatles – Letras e canções comentadas”.
A guerra de egos já acontecia, pelo menos, desde 1968. Nas gravações do “Álbum branco” (ou o “Álbum tenso”, segundo McCartney), cada Beatle tratava o colega como músico de apoio. O estopim aconteceu no estúdio de Twickenham (período que George Harrison chamou de “o inverno do descontentamento”) para a gravação do filme “Get back”, no ano seguinte. Ao invés de canções brotando como mágica, brigas eram detonadas a todo instante. “Quase todas foram iniciadas por McCartney, que continuava a agir como se estivesse tentando roteirizar o filme, ao levantar questões como a mudança da visão de mundo dos Beatles desde a morte de Epstein”, escreveu Jonathan Gould em “Can’t Buy Me Love – Os Beatles, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos”.
Decepcionados com “Get back”, os Beatles voltaram aos estúdios. “The end”, faixa do disco “Abbey Road”, trazia a banda como nos velhos tempos em que tocava nas pocilgas de Hamburgo. John, Paul e George castigaram suas guitarras, enquanto a Ringo foi concedido o direito de fazer o seu primeiro solo de bateria em uma gravação dos Beatles. Mas tudo terminou por aqui. “I me mine”, última faixa gravada pelos Beatles (para “Let it be”, com o registro daquelas sessões de “Get back”), nem contou com a presença de Lennon.
A morte de Epstein já havia esquentado o clima antes. “Não tinha ilusões quanto ao fato de que só sabíamos fazer música e nada mais”, disse Lennon a Jann Wenner, autor do livro “Lennon remembers”. Após a perda, os Beatles ainda fundaram a Apple, mistura de gravadora e produtora de filmes. Preocupado com as finanças, McCartney contratou o sogro, Lee Eastman. Lennon, Ringo e George ficaram com Allen Klein, empresário não muito confiável e que cuidava da carreira dos Rolling Stones.
Com relação à Yoko Ono, teria ela força suficiente para causar a separação dos Beatles? Marcelo Fróes, pesquisador musical e produtor de diversos CDs com a obra dos Beatles interpretada por artistas brasileiros, acredita que a influência não foi tão decisiva. “Se houve influência, certamente foi para apurar a sua criatividade. Ela deve ter alfinetado as picuinhas entre os dois líderes da banda, que podem ter ficado piores depois que Brian Epstein morreu”, afirmou. Os integrantes dos Beatles nunca deixaram claro até que ponto chegou tal influência. “Quando o John se amarrou tão intensamente nela, ficou óbvio que era um ponto sem volta. Sempre achei que ele tinha que se desligar da gente para dar atenção a ela”, disse McCartney no projeto “Anthology”.
O próprio John Lennon reconheceu, na biografia “John Lennon – A vida”, de Philip Norman, a importância de Yoko no episódio. “Quando conheci Yoko foi como quando a gente encontra a sua primeira mulher e abandona os caras do bar. Assim que a encontrei, foi o fim dos rapazes. Mas acontece que os rapazes eram muito conhecidos, não eram apenas os caras do bar.” Bob Spitz, autor de “The Beatles – A biografia”, detalhou a presença de Yoko no seio da banda. “Entre a gravação de uma música e outra, John ficava cochichando com Yoko e perdia o momento em que devia entrar em uma música.” George Harrison chegou até mesmo a apanhar de Lennon por ter reclamado.
De fato, John Lennon estava com pressa para entrar em estúdio com a sua esposa. Ele e Yoko já faziam shows juntos, e o álbum “Two virgins” foi gravado antes mesmo da separação oficial dos Beatles. Deprimido, McCartney seguiu caminho idêntico. “Estou fazendo o mesmo que você e Yoko e lançando um álbum. E também estou saindo do grupo”, disse. Paul explicou o motivo da decisão a Philip Norman: “Eu não podia deixar John controlar a situação e nos jogar fora como namoradas chutadas”.
Além da guerra de egos, da morte de Brian Epstein e da presença de Yoko Ono, o estudante e colecionador de artigos relacionados aos Beatles, Raphael Alves, apontou mais um motivo para o término da banda. “Eu considero que, além de tudo isso, o que fez com que os Beatles terminassem foi a necessidade deles quatro, individualmente, transcenderem. A partir do ‘Álbum branco’, os Beatles começavam a deixar de ser uma unidade, uma banda, e passavam a ser um conjunto de quatro artistas maravilhosos, mas com características que ficavam cada dia mais diferentes. O fato de terem uma banda, fazia com que John, Paul, George e Ringo limitassem as suas capacidades criativas. Eles precisavam de mais liberdade para poder criar, seguir seus impulsos artísticos e musicais próprios, individualmente, sem ter de se condicionar aos outros”, disse o colecionador que, atualmente, possui mais de 400 itens relacionados ao quarteto.
Após tantos lançamentos envolvendo a grife “The Beatles” no final do ano passado, Paul McCartney colocou nas lojas “Good evening New York City”. No álbum, que traz um show no antigo Shea Stadium (local de uma das apresentações mais memoráveis dos Beatles), surge a canção “Here today”, gravada em homenagem a John Lennon também em “Tug of war”. “Eu ainda me lembro como foi antes / E não estou mais segurando as lágrimas”, diz a letra. Àquela altura, o sonho já havia acabado. Pela segunda vez.
“A morte do Epstein deixou os meninos meio sem pai. Acho que isso contribuiu para John entrar em um estado de desamparo que possibilitou que Yoko dominasse o pedaço. A relação entre o Paul e o John também já estava desgastada. Eles eram muito amigos, mas a amizade azedou por causa da vaidade pessoal e do dinheiro”, afirma Elaine Gomes, autora do livro “The Beatles – Letras e canções comentadas”.
A guerra de egos já acontecia, pelo menos, desde 1968. Nas gravações do “Álbum branco” (ou o “Álbum tenso”, segundo McCartney), cada Beatle tratava o colega como músico de apoio. O estopim aconteceu no estúdio de Twickenham (período que George Harrison chamou de “o inverno do descontentamento”) para a gravação do filme “Get back”, no ano seguinte. Ao invés de canções brotando como mágica, brigas eram detonadas a todo instante. “Quase todas foram iniciadas por McCartney, que continuava a agir como se estivesse tentando roteirizar o filme, ao levantar questões como a mudança da visão de mundo dos Beatles desde a morte de Epstein”, escreveu Jonathan Gould em “Can’t Buy Me Love – Os Beatles, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos”.
Decepcionados com “Get back”, os Beatles voltaram aos estúdios. “The end”, faixa do disco “Abbey Road”, trazia a banda como nos velhos tempos em que tocava nas pocilgas de Hamburgo. John, Paul e George castigaram suas guitarras, enquanto a Ringo foi concedido o direito de fazer o seu primeiro solo de bateria em uma gravação dos Beatles. Mas tudo terminou por aqui. “I me mine”, última faixa gravada pelos Beatles (para “Let it be”, com o registro daquelas sessões de “Get back”), nem contou com a presença de Lennon.
A morte de Epstein já havia esquentado o clima antes. “Não tinha ilusões quanto ao fato de que só sabíamos fazer música e nada mais”, disse Lennon a Jann Wenner, autor do livro “Lennon remembers”. Após a perda, os Beatles ainda fundaram a Apple, mistura de gravadora e produtora de filmes. Preocupado com as finanças, McCartney contratou o sogro, Lee Eastman. Lennon, Ringo e George ficaram com Allen Klein, empresário não muito confiável e que cuidava da carreira dos Rolling Stones.
Com relação à Yoko Ono, teria ela força suficiente para causar a separação dos Beatles? Marcelo Fróes, pesquisador musical e produtor de diversos CDs com a obra dos Beatles interpretada por artistas brasileiros, acredita que a influência não foi tão decisiva. “Se houve influência, certamente foi para apurar a sua criatividade. Ela deve ter alfinetado as picuinhas entre os dois líderes da banda, que podem ter ficado piores depois que Brian Epstein morreu”, afirmou. Os integrantes dos Beatles nunca deixaram claro até que ponto chegou tal influência. “Quando o John se amarrou tão intensamente nela, ficou óbvio que era um ponto sem volta. Sempre achei que ele tinha que se desligar da gente para dar atenção a ela”, disse McCartney no projeto “Anthology”.
O próprio John Lennon reconheceu, na biografia “John Lennon – A vida”, de Philip Norman, a importância de Yoko no episódio. “Quando conheci Yoko foi como quando a gente encontra a sua primeira mulher e abandona os caras do bar. Assim que a encontrei, foi o fim dos rapazes. Mas acontece que os rapazes eram muito conhecidos, não eram apenas os caras do bar.” Bob Spitz, autor de “The Beatles – A biografia”, detalhou a presença de Yoko no seio da banda. “Entre a gravação de uma música e outra, John ficava cochichando com Yoko e perdia o momento em que devia entrar em uma música.” George Harrison chegou até mesmo a apanhar de Lennon por ter reclamado.
De fato, John Lennon estava com pressa para entrar em estúdio com a sua esposa. Ele e Yoko já faziam shows juntos, e o álbum “Two virgins” foi gravado antes mesmo da separação oficial dos Beatles. Deprimido, McCartney seguiu caminho idêntico. “Estou fazendo o mesmo que você e Yoko e lançando um álbum. E também estou saindo do grupo”, disse. Paul explicou o motivo da decisão a Philip Norman: “Eu não podia deixar John controlar a situação e nos jogar fora como namoradas chutadas”.
Além da guerra de egos, da morte de Brian Epstein e da presença de Yoko Ono, o estudante e colecionador de artigos relacionados aos Beatles, Raphael Alves, apontou mais um motivo para o término da banda. “Eu considero que, além de tudo isso, o que fez com que os Beatles terminassem foi a necessidade deles quatro, individualmente, transcenderem. A partir do ‘Álbum branco’, os Beatles começavam a deixar de ser uma unidade, uma banda, e passavam a ser um conjunto de quatro artistas maravilhosos, mas com características que ficavam cada dia mais diferentes. O fato de terem uma banda, fazia com que John, Paul, George e Ringo limitassem as suas capacidades criativas. Eles precisavam de mais liberdade para poder criar, seguir seus impulsos artísticos e musicais próprios, individualmente, sem ter de se condicionar aos outros”, disse o colecionador que, atualmente, possui mais de 400 itens relacionados ao quarteto.
Após tantos lançamentos envolvendo a grife “The Beatles” no final do ano passado, Paul McCartney colocou nas lojas “Good evening New York City”. No álbum, que traz um show no antigo Shea Stadium (local de uma das apresentações mais memoráveis dos Beatles), surge a canção “Here today”, gravada em homenagem a John Lennon também em “Tug of war”. “Eu ainda me lembro como foi antes / E não estou mais segurando as lágrimas”, diz a letra. Àquela altura, o sonho já havia acabado. Pela segunda vez.
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