19 de out. de 2008

CD: “DIG OUT YOUR SOUL” (OASIS) – UM RETORNO A BOA E VELHA FORMA

Há poucas semanas, Alan McGee, o produtor musical que descobriu o Oasis, afirmou que “Dig Out Your Soul”, sétimo álbum de estúdio da banda britânica, pode ser comparado a “Revolver” (dos Beatles) e a “Beggar’s Banquet” (dos Rolling Stones). Ambos os discos também foram o sétimo da carreira das respectivas bandas.

Se pode soar um pouco de exagerada a declaração de McGee, fato é que “Dig Out Your Soul” é um grande disco, possivelmente o melhor do Oasis desde “Be Here Now”, lançado em 1997 (ou até mesmo desde (What’s The Story) Morning Glory”, de 1995). O disco que, obviamente, estreou em primeiro lugar na parada do Reino Unido (os seis anteriores também alcançaram o mesmo feito), possui algumas das melhores composições do Oasis, que, ao que parece, pretende se firmar no trono de melhor banda de rock n’ roll da atualidade.

Gravado entre novembro de 2007 e março de 2008, e produzido por Dave Sardy, que já havia trabalhado com a banda em “Don’t Believe The Truth”, álbum anterior do Oasis, “Dig Out Your Soul” tem na sonoridade o seu ponto forte. Repleto de influência dos Beatles, os irmãos Gallagher definitivamente gravaram canções marcantes nesse novo disco, embora as letras deixem um pouco a desejar. Mas Noel Gallagher não vê problema nisso. “Literalmente, não tenho nada sobre o que escrever. Então, compus canções que falam de juventude e de como ser uma estrela do rock, e também escrevi sobre a vida em uma grande cidade”, afirmou o guitarrista em entrevista concedida no início do ano para a BBC 6 Music. De fato, não conheço ninguém que já tenha reclamado das letras do Oasis...

Sobre “Dig Out Your Soul” especificamente, o disco já começa a mil por hora, com “Bag It Up”. Aliás, as cinco primeiras faixas do álbum, certamente, são algumas das melhores já compostas pela banda. E não por acaso, as quatro primeiras foram escritas por Noel Gallagher, o grande compositor do grupo. Tudo o que de melhor o Oasis sabe fazer está em “Bag It Up”, da inconfundível guitarra de Noel Gallagher aos grandes vocais de Liam, com uma levada psicodélica pra lá de bacana, a faixa é um belo aperitivo do disco. Na verdade, ela lembra muito “Columbia”, do primeiro disco da banda, “Definitely Maybe” (1994). Curioso observar que Noel, além de dispensar comentários na guitarra, manda muito bem na bateria – ele assume as baquetas nessa faixa e em “Waiting For The Rapture”, enquanto o seu irmão Liam mostra as suas habilidades de baterista em “Soldier On”, faixa de encerramento do álbum.

“The Turning”, menos pesada que a anterior, mantém o ritmo do disco, com o seu refrão arrebatador, assim como a viajante “Waiting For The Rapture”. Já “The Schock Of The Lightning” é uma das melhores canções do Oasis. Um verdadeiro Hit (com “H” maiúsculo mesmo) instantâneo. Se a banda é ‘acusada’ freqüentemente de imitar os Beatles (e ela não liga nem um pouco para isso), esta faixa está muito mais para The Who. E isso é um elogio.

Depois das quatro porradas iniciais, é a hora da balada do disco, aquela que já dá para imaginar estádios lotados berrando a letra. Composta por Liam Gallagher, “I’m Outta Time” ainda tem direito à voz de John Lennon retirada de uma antiga entrevista. Nesse caso, pelo visto, não bastou somente fazer uma canção muito influenciada pelos Beatles... Sem dúvidas, a faixa, de todas de “Dig Out Your Soul”, é a que tem mais influência do quarteto de Liverpool.

Mas se as quatro primeiras canções do álbum (possivelmente as suas melhores, juntamente com “Falling Down”) foram compostas por Noel Gallagher, o guitarrista também é responsável pela bola fora do disco. “(Get Off Your) High Horse Lady”, com a sua sonoridade indiana (alguém falou no “Álbum Branco” dos Beatles?), é a faixa dispensável de “Dig Out Your Soul”. Ainda bem que “Falling Down” vem logo em seguida. A canção, soturna, é, musicalmente, complexa e bem psicodélica. Um grande acerto de Noel.

A partir de “To Be Where There’s Life”, “Dig Out Your Soul” começa a perder um pouco o fôlego, embora “Ain’t Got Nothin’” ainda seja uma boa canção. “To Be Where There’s Life” (de cuja letra saiu o título do álbum) é a única composição de Gem Archer para o disco e, se não acrescenta muito, também não compromete. Um dado curioso sobre essa faixa é que para extrair a sonoridade de uma cítara, Noel Gallagher usou uma guitarra elétrica de brinquedo, que custou modestos 40 reais.

O outro integrante do Oasis, Andy Bell, também contribuiu com uma composição. Assim como a música de Archer, “The Nature Of Reality” não mantém o pique do álbum, mas também não chega a comprometer o resultado final. O encerramento, com “Soldier On” é outra que também está aquém da média geral do álbum. Definitivamente, “Dig Out Your Soul” merecia um desfecho melhor.

Os irmãos Gallagher fizeram um álbum diretamente proporcional ao tamanho de sua arrogância. Mas um disco como “Dig Out Your Soul” compensa qualquer arrogância e antipatia. O ano ainda não acabou, mas provavelmente o melhor disco de rock de 2009 (com “Accelerate”, do R.E.M. coladinho) já foi lançado.

Abaixo, o videoclipe de “The Shock Of The Lightning”, primeiro single de “Dig Out Your Soul”.

Cotação: ****1/2

Um comentário:

João Paulo Scoralick disse...

Fala cara!

esse blog é excelente. Acompanho-o todos os dias. Os textos são muito bem escritos e variados. Continue em frente!

Abraço