Pela segunda vez foi anunciado o recesso por tempo indeterminado do Barão Vermelho. E como já havia acontecido na primeira vez, foi a mesma ladainha de sempre. Os velhos fãs fazem bico, reclamam, gritam “rock n’ roll”, mas não tem jeito. Frejat vai esfriar a cabeça com o seu pop-rock romântico para o qual muita gente torce o nariz. Assim, a comparação com o Barão Vermelho não é a mais interessante. Melhor imaginar que são dois artistas diferentes: o Frejat que grita “agora o rock ‘n roll vai rolar e é direto” e o Frejat que empunha um violão e canta músicas que podem embalar todos os momentos de uma relação amorosa.
“Intimidade Entre Estranhos” segue o mesmo caminho dos dois trabalhos solo anteriores do artista, “Amor Pra Recomeçar” e “Sobre Nós Dois e o Resto do Mundo”. Talvez esteja um pouco mais parecido com o primeiro, tendo em vista o tom mais roqueiro do segundo. As boas e velhas canções de amor ditam o ritmo do trabalho, com muitas parcerias (praticamente uma diferente a cada canção) e os arranjos calcados no violão. A produção teve a batuta de Maurício Barros, fiel escudeiro de Frejat e eterno Barão Vermelho.
Já na primeira faixa do CD, “Controle Remoto”, Frejat dá o recado de que o assunto agora é outro: “Eu queria te falar de paz e amor, de filosofia / De cinema, de pintura, de música e de poesia”. Como quem diz: “Deixa o Barão Vermelho hibernar em paz e prestem atenção no que eu tenho a dizer”. O pop-rock romântico, puxado no violão, tem a participação de mais duas cabeças do Barão Vermelho, o baixista Rodrigo Santos e o tecladista Maurício Barros.
Aliás, curioso notar que todos os baixistas do Barão participaram do disco. Na faixa seguinte, “Nada Além” (parceria com Zeca Baleiro), foi a vez de Dé Palmeira mandar ver no instrumento de quatro cordas. Já “Tua Laçada” é uma parceria de Frejat com Zé Ramalho. O que poderia parecer algo interessante, definitivamente não funciona. O arranjo épico puxado no violoncelo de Iura Ranevsky deixou a faixa, musicalmente, muito mais próxima do universo do compositor paraibano. Ah, e nessa faixa, foi a vez de Dadi, que teve passagem relâmpago pelo Barão, assumir o baixo.
Nas faixas pop mais digeríveis, “Intimidade Entre Estranhos” funciona melhor. E o grande exemplo disso é o primeiro single do álbum, “Eu Não Quero Brigar Mais Não” (composta com Gustavo Black Alien). A sua sonoridade e letra (“Você é aquela que meu coração habita / Única e favorita / Estrela da minha vida e da minha escrita / Eu vivo sorrindo de orelha a orelha”) fazem da canção algo muito próximo a sucessos como “Amor Pra Recomeçar” e “Túnel do Tempo”.
Outra que segue o mesmo estilo é “Dois Lados”, já bem conhecida do público, por ter feito parte da trilha sonora da novela “Beleza Pura”. A fórmula perfeita do pop-rock com letra digerível (“A vingança é um prato frio / Em que você pode se lambuzar / É um quarto escuro, um poço fundo / E você pode se afogar”), regada por violões e um teclado bacana de Maurício Barros, fazem da faixa um hit instantâneo.
Mas o que mais diferencia “Intimidade Entre Estranhos” dos álbuns anteriores de Frejat é a quantidade de músicas lentas. Além de “Tua Laçada”, a faixa-título (parceria com Leoni, o que proporciona a melhor letra do disco, que fala de separação de uma forma muito singela: “Eles devem ter se assustado / Quando ouviram o vidro quebrando / Eu escondo a mão enfaixada / Quando o elevador vai chegando”), “Fragmento” e “Eu Só Queria Entender” são algumas das canções mais lentas compostas por Frejat.
Com um pouco mais de peso, “O Céu Não Acaba” faz com que, de certa forma, o fã mate (ainda que bem pouquinho) a saudade do Barão Vermelho. Não por acaso, um dos compositores da faixa é Ezequiel Neves. Já o funk-soul “Tudo de Bom” é outro bom momento do álbum, com participação especial de Rafael Pellegatti Frejat, filho do homem, e que, com apenas 12 anos, manda muito bem na guitarra. (E manda muito bem mesmo, como ficou demonstrado no show!)
E por falar em show – ele estreou no fim de semana passado no Canecão (Rio de Janeiro) –, nele, Frejat seguiu a mesma fórmula do disco. Sem maiores ousadias, Frejat fez uma apresentação correta, em pouco mais de 80 minutos, acompanhado pela super-banda que o acompanha desde o início de sua carreira-solo, formada por Billy Brandão (guitarra), Marcelinho da Costa (bateria), Bruno Migliari (baixo) e Maurício Barros (teclados).
Com um cenário simples e limpo (sem amplificadores), formado apenas por uma cortina vermelha ao fundo do palco, Frejat desfiou os sucessos de seus dois discos anteriores, músicas novas de “Intimidade Entre Estranhos”, regravações e – por que não? – velhos hits do Barão Vermelho.
O cantor e guitarrista iniciou o espetáculo usando o velho truque de emendar três canções do disco novo (“Controle Remoto”, “Dois Lados” e “Eu Não Quero Brigar Mais Não”). O público, como é natural, permaneceu um pouco apático, e Frejat meio que se desculpou dizendo que contava com a “curiosidade do público para ouvir as músicas mais novas”.
No entanto, a platéia demonstrou maior satisfação na quarta música, “Túnel Do Tempo”, do álbum “Sobre Nós Dois e o Resto do Mundo”. E a banda também se mostrou mais afiada nessa canção (assim como nas outras mais antigas).
Mas foi em “Segredos” que o público perdeu a timidez e começou a cantar junto com Frejat. O mesmo aconteceu em “Amor Meu Grande Amor” (que já havia feito parte do repertório do show solo anterior de Frejat, mas aqui em versão um pouco mais lenta que a original do Barão Vermelho), “Sobre Nós Dois e o Resto do Mundo” e “Eu Preciso Te Tirar do Sério”, o momento mais roqueiro da noite.
Com relação às canções do Barão Vermelho, Frejat optou por não arriscar. Diferentemente do show anterior, no qual mandou o lado B “Dignidade”, nesse novo espetáculo, Frejat escorregou mais para o óbvio, com sucessos como “Por Você” (que também fez parte do show solo anterior), “Bete Balanço” (apesar de o público ter gostado, a canção destoou bastante do roteiro da apresentação) e “Por Que a Gente é Assim”, esta última com direito à Rafael Pellegatti Frejat mandando ver em uma guitarra Gibson (igual a de Angus Young), assim, como já tinha feito anteriormente no show, em “Tudo de Bom”. Durante o sucesso do Barão, aconteceu um momento curioso: com o instinto paterno falando mais alto, Frejat se agachou no meio da canção para arrumar a pedaleira do filho.
Como é costumeiro em suas apresentações solo, Frejat aproveitou para apresentar canções de outros artistas. Infelizmente, no show “Intimidade Entre Estranhos”, as coisas não funcionaram muito bem nesse quesito. A opção por ter escolhido músicas muito associadas a seus intérpretes originais, fez com que as mesmas perdessem muito de sua graça na voz de Frejat. Assim, “Mais Uma Vez” (de Renato Russo, apresentado como “um dos maiores cantores da nossa geração”), “Vambora” (Adriana Calcanhotto) e, até mesmo, “Malandragem” (que apesar de ser da lavra de Frejat, estourou na voz incomparável de Cássia Eller) não correram bem na estréia do show. Pode até ser que no decorrer da turnê, Frejat e sua banda encontrem um tom mais certeiro para as canções. “Exagerado”, por sua vez, apesar de muito ligada à voz de Cazuza, desceu muito bem no encerramento do show, com um arranjo mais roqueiro e que ficou muito bacana.
Frejat já disse que deve gravar um DVD no decorrer da turnê. Com alguns pequenos ajustes no roteiro, e um entrosamento maior com a banda (o que fatalmente acontecerá), o vídeo tem tudo para ficar muito bacana.
Abaixo, um vídeo da canção “Eu Não Quero Brigar Mais Não”, gravado ao vivo no programa “Altas Horas”, da Rede Globo.
Cotação: CD: ***
Show: ***1/2
16 de set. de 2008
CD E SHOW: “INTIMIDADE ENTRE ESTRANHOS” (FREJAT) – OS DOIS LADOS DE FREJAT
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