5 de ago. de 2008

SHOW: “AMIGO É CASA” (SIMONE E ZÉLIA DUNCAN) – COM DIREÇÃO ÁGIL, SIMONE E ZÉLIA DUNCAN ENGRANDECEM “AMIGO É CASA” NO PALCO

Como já vem sendo um costume na indústria fonográfica brasileira, primeiro chega o CD, depois o DVD e aí sim, o artista sai em uma grande turnê Brasil afora. Dessa vez, quem seguiu tal fórmula a risca – com imenso sucesso, até então – foram as cantoras Simone e Zélia Duncan. O CD “Amigo É Casa” foi um dos grandes lançamentos do ano. O DVD, que saiu logo em seguida, com a inclusão de algumas canções essenciais, conseguiu ser melhor. Já o show segue o mesmo espírito do DVD.

Tirando uma mudança de ordem de uma canção ou outra, o repertório do show é igual ao do DVD, ou seja, não houve maiores mudanças e as duas cantoras não se arriscaram a fazer algo diferente. Musicalmente, o show segue a mesma perfeição do DVD, com uma boa direção musical de Bia Paes Leme e excelentes músicos na banda, como os guitarristas Walter Villaça e Webster Santos, bem como o tecladista Leo Brandão. Mas o grande diferencial de presenciar o espetáculo ao vivo é poder notar a ágil direção cenográfica de Andréa Zeni, que, utilizando-se de um mesmo artifício usado por Bia Lessa no show “Dentro do Mar Tem Rio”, de Maria Bethânia, colocou a banda completa no lado direito do palco e deixou um espaço imenso para Simone e Zélia Duncan se movimentarem.

E artistas experientes que são, as duas brilham em cena, utilizando cada centímetro do palco com maestria. Passando a maior parte do show com microfone em punho, Simone e Zélia Duncan se movimentam por todos os flancos do palco e dão nova vida a canções (que já haviam ficado mais vivas ainda no CD e DVD) como “Petúnia Resedá”, “Grávida” e “Ralador”.

Aliás, são nas canções mais animadas como “Ralador” que o show ganha peso. “Agito e Uso” (de Ângela Roro), “Gatas Extraordinárias” (em homenagem a Cássia Eller, que, segundo Zélia Duncan, foi “a cantora mais importante que surgiu nos últimos 18 anos) e “Tô Voltando” fez com que boa parte do público se levantasse das cadeiras. Mas em momentos mais intimistas, a dupla também não deixa a peteca cair. Desde o início do espetáculo, com a música “Alguém Cantando”, praticamente a capella, até o bis com “Jura Secreta” e “Alma” (tanto a que fez sucesso na voz de Simone, quanto a que tocou nas rádios com Zélia Duncan), as duas cantoras usaram e abusaram de momentos melosos.

E, por falar em momentos melosos, Simone, nas canções que cantou sozinha no palco, levou as suas velhas fãs ao delírio, com grandes sucessos como “Encontros e Despedidas”, “Diga Lá, Coração” e “Vou Ficar Nu Pra Chamar Sua Atenção” (o compositor desta última, Erasmo Carlos, estava presente no Canecão, na estréia do show). Já Zélia Duncan, em seu momento solo, fez o caminho oposto, ao apresentar músicas pouco conhecidas, como “Na Próxima Encarnação” e a brilhante “A Companheira”.

À propósito, tirando o momento solo de Simone e o bis, as concessões aos hits foram muito poucas – mais um acerto do show. Quem estava a fim de ouvir canções mais conhecidas de Zélia Duncan, por exemplo, teve que se contentar com uma ótima versão de “Mãos Atadas”, cantada pelas duas. Nem “Não Vá Ainda” (que está presente no DVD) fez parte do roteiro do show no Canecão. Outras canções mais conhecidas foram “Cuide-se Bem”, sucesso de Guilherme Arantes que Zélia Duncan tomou para si, e “Idade do Céu”, que foi outro grande momento da noite.

Mas se não teve “Não Vá Ainda”, Simone e Zélia Duncan incluíram no roteiro a música que dá nome ao show. “Amigo É Casa”, lindíssima poesia de Hermínio Bello de Carvalho (também na platéia), foi ouvida por uma platéia em silêncio sepulcral, que acompanhou atentamente belos versos como “Amigo é pra ficar, se chegar, se achegar / Se abraçar, se beijar, se louvar, bendizer / Amigo a gente acolhe, recolhe e agasalha / E oferece lugar pra dormir e comer / Amigo que é amigo não puxa tapete / Oferece pra gente o melhor que tem / E o que nem tem quando não tem, finge que tem / Faz o que pode e o seu coração reparte que nem pão”.

Assim, como já tinha acontecido no CD e no DVD, no palco, Zélia Duncan mostra o seu poder de “se transformar em outras” e, ao mesmo tempo, ajuda Simone a se renovar. Daqui a pouco já é hora de Zélia Duncan pensar qual será o seu novo projeto, e Simone também vai ter que mostrar que, mesmo sozinha, consegue avançar no tempo.

Abaixo, a canção “Amigo É Casa”, gravada ao vivo durante um show em Florianópolis.

Cotação: ****

2 comentários:

Daniel Achedjian disse...

Grande encontro sim, Luiz, so que achei que a voz da Simone tem dificuldade a se adaptar ao pop da Zélia (da para perceber na cançao "Alma"). Ao contrario, a Zélia fica bem a vontade tao na MPB tradicional como no samba! A Zélia tem mais poder no canto, enquanto a Simona me parece mais sutil e sensivel...humilde opiniao minha...

Clarissa. disse...

Quando o assunto é bons shows me dá tristeza só de lembrar:não consegui comprar meu ingesso pra ver joão gilberto em sp! Agora o jeito será me contentar em ver os vídeos do show no youtube...