17 de ago. de 2008

DVD: “ANTONIO BRASILEIRO” (ANTONIO CARLOS JOBIM) – BEM-VINDO À ÉPOCA EM QUE A TELEVISÃO FAZIA BONS MUSICAIS

1987. Tom Jobim era vivo, Dorival Caymmi era vivo e João Gilberto fazia shows com (um pouco mais de) freqüência. E nessa época, a Rede Globo também costumava passar alguns ótimos programas sobre música, sem precisar apelar à emoção fácil do “Por Toda Minha Vida” de hoje. Sem querer cair no saudosismo, mas, àquele tempo, a gente ainda podia ver um programa com imagens inéditas de Cazuza, Tim Maia, Gal Costa e Tom Jobim no horário nobre!! Hoje, qualquer coisa ligada à música dificilmente é transmitida antes da meia-noite...

Pois no dia 29 de maio de 1987, os telespectadores da Rede Globo puderam assistir a um programa histórico. “Antonio Brasileiro” comemorou os 60 anos do nosso Maestro maior, Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim. E bem ao gosto de Tom, as locações da gravação foram o Rio de Janeiro e Nova York, as suas duas cidades prediletas.

Não é possível afirmar se o programa deu mais audiência do que um capítulo da novela “A Favorita” (provavelmente não), mas fato é que “Antonio Brasileiro”, dirigido por Roberto Talma, e com roteiro de Euclides Marinho e Nelson Motta, foi vendido para vários países e premiado internacionalmente. O mais impressionante é o fato que o programa só foi reprisado uma única vez, quando a emissora de Roberto Marinho completou 40 anos. E o melhor de tudo é saber que, a partir de agora, “Antonio Brasileiro” está disponível em DVD, via Som Livre / Biscoito Fino ao alcance de nossas mãos.

O roteiro do especial é muito simples e mostra Antonio Carlos Jobim em toda a sua simplicidade, passeando pelo Museu de História Natural de Nova York, e tocando violão ou até mesmo se exercitando no Central Park. Ele fala para as câmeras como se estivesse conversando com um amigo próximo e cita uma frase clássica de Fernando Sabino: “Nova York é uma cidade para ser vista de maca”. Após tocar “Desafinado” no parque mais famoso do mundo, Jobim fala da ave Jereba, que o leva diretamente para o Brasil, mais especificamente o Rio de Janeiro, com estonteantes imagens do Cristo Redentor com a Lagoa Rodrigo de Freitas ao fundo. É a deixa para Danilo Caymmi cantar, acompanhado por Tom ao piano e a sua Banda Nova, “Samba do Avião”.

Depois desse momento, “Antonio Brasileiro” foca mais na parte musical, ou seja, pouco papo e muita música. Assim, Tom revisita parte do repertório de seus dois últimos álbuns, “Terra Brasilis” e “Passarim”. Marina Lima é a primeira convidada, e com toda aquela sua sensualidade, arrasa, ao lado do Maestro, com “Lígia”. Já “Insensatez” é interpretada por Joyce, acompanhada apenas pelo piano de Gilson Peranzzetta. Tom Jobim assiste solene à apresentação e, ao final, com toda aquela humildade dos grandes, agradece à Peranzzetta.

Os três grandes momentos do especial vêm logo em seguida. Gal Costa faz um dos duetos mais lindos da história da Música Popular Brasileira com Tom Jobim em “Dindi”. Chico Buarque emociona ao lado do Maestro, interpretando “Anos Dourados”. Algumas cenas da histórica minissérie homônima de Gilberto Braga se misturam aos dois músicos. E “Choro Bandido” coloca Tom, Chico e Edu Lobo, lado a lado cantando os célebres versos: “Mesmo que os cantores sejam falsos como eu / Serão bonitas, não importa / São bonitas as canções / Mesmo miseráveis os poetas / Os seus versos serão bons”.

Em seguida, é a vez de Tom homenagear ninguém menos que Heitor Villa-Lobos. “Ele é o guru. O mestre. O mestre. Ai que saudades de Villa-Lobos”, diz. E, já no Jardim Botânico, Jobim fala de outro herói: Carlos Drummond de Andrade, de quem cita duas importantes poesias, “Elegia” e “Poema da Necessidade”. E Caetano Veloso, acompanhando-se apenas pelo seu violão, relembra mais uma obra-prima do Maestro: “Eu Sei Que Vou Te Amar”.

“Antonio Brasileiro” ainda traz um extra que vale por um DVD inteiro. Na explosão da Bossa-Nova, Tom Jobim bate um papo com Gerry Mulligan e o ensina a melodia de “Samba de Uma Nota Só”. Chega a ser emblemático assistir a um dos maiores jazzistas de todos os tempos se curvar ao nosso Maestro perguntando se ele conseguiu acertar os acordes da canção...

Bom, e para quem pensa que acabou, não acabou não. Em um bate-papo informal com Stan Getz, Tom recebe o seguinte elogio: “Na primeira metade deste século nós tivemos grandes compositores: os Gershwin, Jerome Kern, Harold Arlen, Cole Porter, Irving Berlin. Na segunda metade, do meu ponto de vista, há três compositores que representam o máximo de gênio e beleza na música. Um deles é Jobim”.

Pois é. Naquela época, a televisão ainda dava algum valor a esse tipo de gente...

Abaixo, o dueto de Tom e Gal em “Dindi”.

Cotação: *****

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