Cinco anos atrás, O Rappa lançou “O silêncio Q Precede o Esporro”. Se não chegava a ser um “Lado B LadoA”, o álbum era bem honesto e trazia algumas faixas com excelentes letras, como “Reza Vela” e “Rodo Cotidiano”, além de uma versão para “Deus Lhe Pague”, de Chico Buarque. Veio então o “Acústico MTV” (2005), no qual a banda fez uma morna retrospectiva de sua carreira. Agora, em tese, seria a vez do esporro propriamente dito. Mas, apesar de ser um bom disco, ficou faltando o tal do ‘esporro’ tão esperado pelos fãs em “7 Vezes”.
Musicalmente, as faixas são bastante parecidas entre si, com a típica levada de baixo de Lauro Farias, a guitarra ora discreta, ora pesada de Xandão e a bateria feijão-com-arroz de Marcelo Lobato. Mas o melhor mesmo são os outros instrumentos (teclados, sopros, cravo, vibrafone etc.) que o mesmo Marcelo toca, e que acabam dando um toque que diferencia, ainda que minimamente as canções. A voz de Marcelo Falcão, por sua vez, está cada vez melhor.
As letras das canções, apesar de algumas serem muito boas, pecam pela repetição. É crítica social atrás de crítica social. As letras, em sua maioria, são inteligentes e bem construídas, mas 14 faixas monotemáticas com uma hora de duração no total pode cansar o ouvinte pouco acostumado ao estilo d’O Rappa.
E por falar em letras, a melhor de todas é exatamente a primeira faixa. A letra de “Meu Santo Tá Cansado” pega pesado e é uma das melhores da banda carioca. “Não tô aqui para ser herói cuzão / Pra pagar de otário / Não tô aqui pra pagar pau pra fardinha azul”. Acompanhada pela típica batida musical d’O Rappa, misturada com um singelo vibrafone e um arranjo grandioso que simula uma orquestra, a canção funciona como uma síntese (musical e poética) do disco. A faixa seguinte, “Verdade de Feirante”, com o seu arranjo calcado no baixo, é uma das melhores de “7 Vezes”, e segue o mesmo estilo da anterior, com uma interessante letra que compara a vida do trabalhador a um CD pirata.
Uma peculiaridade que o fã da banda vai notar rapidamente neste trabalho é que O Rappa nunca esteve tão próximo do reggae como agora. “Hóstia” e “Meu Mundo É Barro” são dois exemplos. Inclusive, a letra da segunda – que tem uma guitarra mais pesada – é outra que se destaca no álbum: “Nasci no mundo, eu sou sozinho / Não tenho pressa, não tenho pano, não tenho dono / Tentei ser crente / Mas meu Cristo é diferente / A sombra dele é sem cruz / No meio daquela luz”.
Outra que ganhou um arranjo bem puxado para o reggae é “Súplica Cearense”. A única letra não escrita pela banda, acaba sendo a melhor de “7 Vezes”. Mas competir com o seu autor, Gordurinha, é praticamente covardia. Mas Marcelo Falcão fez jus à letra – verdadeira oração pedindo o fim da seca (“Oh! Deus perdoe esse pobre coitado / Que de joelhos rezou um bocado / Pedindo pra chuva cair, cair sem parar”) – com um ótimo vocal. Pena que o arranjo, por se afastar um pouco do clima nordestino, aproximando-se de um estilo mais urbano, tenha tirado um pouco a magia da canção.
Outras duas faixas que se destacam são “Monstro Invisível” e “Maria”. “Monstro Invisível” foi o primeiro single de “7 Vezes” e, traz a típica sonoridade da banda, com uma letra (“Monstro invisível / Que comanda a horda / Arrasando tudo como é de praxe / Eu tô laje acima / O cerol que traz a vida pra baixo / Brilhante idéia de uma cabeça nervosa”) que não deixa muito claro quem é o tal monstro. Em entrevista ao jornalista Jamari França, do jornal O Globo, Marcelo Falcão disse que poderia ser o mosquito da dengue, mas deixou a questão em aberto para outras interpretações. Já “Maria” é a canção mais pop do álbum (e, musicalmente, a mais diferente) e a sua letra acaba, de certa forma, refletindo essa ‘alegria’ sonora: “Minha canção é coisa séria / Um verdadeiro comício / ... / E no meu sonho vejo as favelas unidas”.
Mas se o CD começa com Marcelo Falcão dizendo que o seu “santo tá cansado”, na última faixa, “Vários Holofotes”, o santo acabou dormindo (“Sinto medo no espaço apertado / É um riso de alerta ligado / Coração, síncope ritmada / Me protege dos meus sentimentos / O santo dorme, o Santo Daime”). Provavelmente dormiu de cansaço. E que demore pouco a acordar novamente. De preferência, com esporro.
Abaixo, a faixa de abertura de “7 Vezes”, “Meu Santo Tá Cansado”.
Cotação: ***1/2
19 de ago. de 2008
CD: “7 VEZES” (O RAPPA) – FALTOU O ESPORRO...
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4 comentários:
Pow cara, muito boa o sua crítica. Eu também tive o mesmo sentimento de que falta um pouco de pauleira no cd, mas mesmo assim eu gostei muito, não chega mesmo a ser um Lado B Lado A e nem O Silêncio que precede o esporro, mas acho que serviu pra provar que O Rappa mantém o mesmo nível de antes e depois do Yuka, apesar de algumas pessoas não acharem. Só discordo em um ponto: Meu mundo é de barro é a melhor faixa hehehe. Abraço.
Realmente não entendi sua crítica, o senhor elogiou ou criticou?
Outro detalhe quem disse que os fãs não entenderam?
Entendemos sim, agora aqueles que esperavam um outro cd igual, sem renovação com certeza vai se decepcionar...
Só uma pergunta, evoluir musicalmente não é se renovar?
O próprio Marcelo Lobato disse que devemos ouvir mais de uma vez o cd,o senhor ouviu mais de uma vez?
O Rappa esta a cada música muito melhor, os fãs agradecem!!!!!
Concordo em parte com essa crítica,acho q faltou alguma diferenciação entre as musicas,mas msm assim o album é bem denso,quero ver ao vivo!E a faixa q mais gosto é "Farpa Cortante",meio ragga.
oi sou neto de gordurinha que compos suplica cearense com parceria com nelinho,gostei muito de sua postagem,obrigado pelo elogio.
nao sei se vc sabe mas o rappa foi no faustao domingo passado e deu credito a musica a luiz gonzaga.que pena,disse que era uma homenagem a luiz gonzaga ,deveria ter gravado asa branca entao, o pior foi o faustao dizendo que a musica era de luiz gonzaga.
coitado de nossos compositores
um abraco
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