13 de jul. de 2008

CD: “NARROW STAIRS” (DEATH CAB FOR CUTIE) – MÚSICA COM DIGNIDADE

O Death Cab For Cutie é daquelas bandas que devem encher os pais de seus integrantes de orgulho. Veio do circuito alternativo norte-americano e conseguiu levar o seu álbum “Narrow Stairs” ao primeiro lugar da parada da Billboard esse ano. E fato é que tudo isso foi mais do que merecido. Diferentemente de muitas bandas que chegam ao topo da parada norte-americana, o Death Cab For Cutie mostrou que é possível chegar lá com muita dignidade.

Formada em 1997, a banda começou, na verdade, como um projeto solo do vocalista Benjamin Gibbard. Somente depois ele resolveu dar nome ao grupo. Quatro bons discos (sendo que “Transatlanticism”, de 2003, é simplesmente espetacular) foram lançados, e a banda não hesitou em assinar um contrato com a poderosa Atlantic Records. Os dois álbuns gravados por lá (“Plans”, de 2005 e esse “Narrow Stairs”) provaram que a sonoridade original da banda não mudou e – melhor! – a qualidade permaneceu. Afinal de contas, se banda não estivesse com o moral tão alto, a Atlantic jamais toparia lançar como primeiro single do disco, uma canção com quase nove minutos de duração, com vocais somente a partir de sua segunda metade. Falando sobre a canção, o crítico norte-americano James Montgomery disse que a banda estava “insana”.

O guitarrista e produtor Chris Walla disse que as canções do novo trabalho da banda formada por ele, pelo vocalista e multi-instrumentista Ben Gibbard, o baixista Nicholas Harmer e o baterista Jason McGerr, seriam “estranhas, espetaculares, arrepiantes e cheias de sangue”. Ele ainda afirmou: “Estou realmente muito animado com o disco. Ele realmente tem ‘dentes’. A sua paisagem é mais lunar do que as coisas urbanas que fizemos nos nossos últimos discos. Esse é mais alto, dissonante e abrasivo”.

E isso pode ser observado logo na faixa de abertura. “Bixby Canyon Bridge” tem um início climático para depois o rock comer solto. Nesse novo trabalho, é possível notar que o grupo não está muito preocupado em gravar algo muito diferente para ser classificado como ‘genial’. Pelo contrário, permanecem fazendo o que sempre fizeram. E com a maior dignidade. A declaração do produtor corrobora: “Eu sinto como se nós não tivéssemos mais nada a provar para ninguém, a não ser a nós mesmos”.

Outro belo destaques do disco é a ótima “Grapevine Fires”, cuja letra remete aos incêndios florestais que ocorreram na Califórnia em 2007. Sob uma melodia singela e muito gostosa, com um belíssimo teclado, Gibbard canta um momento de placidez durante o incêndio: “The firemen worked in double shifts / With prayers for rain on their lips”.

As referências literárias, que volta e meia aparecem nas letras do Death Cab For Cutie, também estão presentes aqui, especialmente em “Bixby Canyon Bridge”, na qual Gibbard homenageia Jack Kerouac, o seu escritor predileto. Já a pesada e ‘oriental’ “Pity And Fear” não está entre as melhores de “Narrow Stairs”, mas tem uma história interessante. Ela termina de forma abrupta e a banda justificou como sendo um retrato da gravação rápida do disco. Mas, na verdade, houve um problema técnico e um dos aparelhos pifou no final da gravação da canção.

Mas “Narrow Stairs” ainda tem outros bons momentos. “No Sunlight” é um pop-rock que pode fazer sucesso nas rádios lá de fora e que tem uma ótima letra: “"It disappeared at the same speed / The idealistic things I believe / The optimist died inside of me”. “Long Division” é outra que tem cara de hit instantâneo. Já “Cath...”, com o seu arranjo delicado e rico, possui uma letra melancólica ao extremo, que conta a história de uma mulher que se casou apenas para não ficar velha sozinha. Já “Talking Bird” é uma bonita balada que fala sobre um... papagaio.

Em sua crítica para a MTV, James Montgomery disse que “Narrow Stairs” é “inquestionavelmente a melhor coisa que a banda já fez”. Não exageremos. Mas “Narrow Stairs” fica muito pouco a dever a “Transatlanticism”.

Abaixo, o videoclipe do primeiro single, “I Will Possess Your Heart”.

Cotação: ****

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