17 de jun. de 2008

UMA HOMENAGEM MERECIDA (E DE BOM GOSTO)

Quando Daniel Gonzaga lançou o disco “Comportamento Geral”, no qual faz uma bonita homenagem ao seu pai, Gonzaguinha, muita gente falou que o trabalho era muito previsível e que a voz de Daniel é idêntica a de seu falecido pai. Muito fácil preencher cinco linhas falando isso e, ao mesmo tempo, afirmar que Daniel Gonzaga não apresenta nada de novo.

Mas quando Natalie Cole fez exatamente a mesma coisa em “Unforgettable”, o brasileiro – com aquela velha mania ‘fubá’ de dizer que tudo o que é produzido lá fora é ótimo – disse que aquilo era a coisa mais linda que poderia existir. E olha que naquele trabalho, Natalie Cole, com a ajuda da tecnologia, fez um dueto de gosto muito duvidoso com Nat King Cole...

“Comportamento Geral”, que chegou ao mercado via Biscoito Fino, é, sim, um excelente tributo de um filho para um dos mais geniais compositores brasileiros. E qual o problema disso? Até mesmo porque, bem diferente da obra da fase romântica de Nat King Cole, o trabalho de Gonzaguinha (a não ser quando foi cantado por Maria Bethânia) está distante do comercial. Ou seja, se Daniel Gonzaga quisesse gravar um disco para vender milhares de cópias, não precisava ter esperado cinco discos, e poderia ter feito uma opção diferente, incluindo no álbum somente as composições mais conhecidas de Gonzaguinha.

E não foi isso que ele fez. De maneira inteligente, Daniel Gonzaga equilibrou de forma muito interessante o repertório mais popular com canções de Gonzaguinha que poucos conhecem. Lógico que existem as concessões para sucessos como “O Que É, O Que É?” (em um arranjo mais jazzístico), “Não Dá Mais Pra Segurar (Explode Coração)” e “Sangrando”, que levou um toque de guitarra que deu nova vida à canção. Mas se Daniel Gonzaga tivesse mais interessado em vender, qual a finalidade de incluir canções como “Dias de Santos e Silvas”, “Namorar” e “Chão, Pó, Poeira”? Assim, como o seu pai, Daniel foi coerente, inclusive ao contrabalançar os sucessos românticos com as inspiradas canções de protesto de Gonzaguinha, como na própria faixa-título (“Você deve estampar sempre um ar de alegria / E dizer tudo tem melhorado / Você deve rezar pelo bem do patrão / E esquecer que está desempregado / Você merece, você merece”).

E diferentemente do que foi falado na época, apesar da voz de Daniel guardar uma grande semelhança com a de seu pai, os arranjos foram modificados, de forma que ficassem descolados dos originais – muitos, diga-se de passagem, com arranjos bem datados para o dia de hoje. “Com a Perna No Mundo” e “Diga Lá, Coração”, com seus arranjos discretos, estão bem distantes (e até mesmo mais interessantes) das gravações dos discos originais de Gonzaguinha.

“Comportamento Geral” foi gravado da mesma forma que o disco de Gonzaguinha que possui o mesmo título: ao vivo no estúdio. Foram quatro dias em que Daniel Gonzaga reviveu a bela obra de Gonzaguinha ao lado de ótimos músicos, que são devidamente homenageados no texto escrito por Daniel no encarte: “Esse disco é meu e dos músicos que estiveram comigo durante essa jornada, juntos há algum tempo”. Toda a gravação foi registrada em DVD para posterior lançamento. E que não demore muito.

Abaixo, um vídeo da canção “Recado”, registrado em um programa de televisão.

Cotação: ****

Um comentário:

Daniel Achedjian disse...

Gostei da sua resenhoa sobre o Daniel, Luiz. Tambem achava injusto o que tinha lido a respeito desse disco, e concordo plenamente com sua visao! Tem que pensar tambem que existe um publico que nao conhece o Gonzaguinha, e que vai cohecer a obra desse Mestre atraves do filho. Alias os trabalhos anteriores desse ultimo sao muito bons. E isso que a critica nao aguentou. Esse homenagem é de bom gosto, sem emfase (assim em portugues?) nem exageros. Valeu, um abraçao, Daniel