2 de ago. de 2010

Woodstock em Tampa? (Show do Santana)

Terminando esse meu tour de verão aqui pelos Estados Unidos, vi os shows do Steve Winwood e do Santana em Tampa. Quando eles anunciaram a turnê conjunta, eu cheguei a escrever aqui no blog. Fiquei feliz de poder ter presenciado esse encontro. Mas, dessa vez, prefiro começar pelos pontos negativos. O primeiro (e principal): o show não foi exatamente um “encontro”. Steve Winwood fez o show de abertura e tocou apenas uma música com Carlos Santana, no show “principal”. Ou seja, nada a ver com a antológica turnê – essa sim em dupla – dele com Eric Clapton. O segundo ponto negativo é que Santana privilegiou, no repertório, a sua fase que eu chamo de cafona, que começou com o álbum “Supernatural” (1999).
A apresentação aconteceu no mesmo 1-800-ASK-GARY Amphitheatre (antigo Ford Amphitheatre), onde vi a Dave Matthews Band na quarta. O público, além de menor (alguns setores ficaram vazios), era bem diferente. Ao invés de uma galera mais jovem, muitos sessentões com tatuagens vencidas. Chegava a ser até engraçado imaginar quais deles estiveram no festival de Woodstock, em 1969, no qual Santana se apresentou.


Bem, mas comecemos pelo show de Steve Winwood. Ele subiu no palco dois minutos antes do horário (19h28) e fez uma apresentação enxuta com 70 minutos de duração. Acompanhado por uma banda formada por quatro integrantes (uma guitarra, uma percussão, uma bateria e um sopro), ele mesclou nove músicas de suas ex-bandas Spencer Davis Group (“Gimme some lovin’”, a última do show, e, claro, aplaudidíssima), Blind Faith (“Can’t find my way home”) e Traffic (“Dear Mr. Fantasy”, fantástica), além de sua carreira solo (“Higher love”, uma das mais fracas e chatinhas do show, mas que levantou a apresentação, e a mais recente “Dirty city”, que deu luz ao primeiro grande solo de guitarra da noite).


O show foi muito bacana, e teria caído muito bem em algum Free (ou Tim) Festival da vida. De ruim mesmo, só o som, com um volume muito baixo e o pequeno – mínimo, na verdade – espaço disponibilizado no palco para Winwood e sua banda. Mas o legal foi que a plateia não considerou o seu show como uma “abertura”. O pessoal participou, cantou, se levantou, enfim, se a noite tivesse terminado por aí, já estaria de ótimo tamanho.


Às 21h em ponto, a imensa banda de Carlos Santana (dois backing, dois sopros, duas percussões, baixo, guitarra, bateria e teclado) entrou no palco. A estrela principal chegou uns dois minutos depois. Com calça jeans, camisa cinza (escrita “Santana”) e chapéu de palha, Santana começou aterrorizando na guitarra com “(Da le) Yaleo”. No cenário, apenas um telão de alta definição ao fundo. Após, Santana agradeceu ao público e a Steve Winwood, e resolveu homenagear as mulheres (“Não tenho medo da Oprah”, brincou) com “Maria Maria”, que serviu para levantar um pessoal mais jovem. O curioso é que os mais coroas ainda estavam sentados esperando as coisas mais velhas. E eles ficaram mais “desesperados” com o mambo “Foo Foo” e com “Corazon espinado”. Ainda bem que depois veio “Jingo”. Em alguns momentos, a banda que acompanha Santana me lembrou a Vitória Régia nos shows do Tim Maia. Isso porque em diversas ocasiões, Santana saía do palco e dava espaço para os músicos solarem à vontade. Em “Corazon espinado”, por exemplo, ele deu espaço para animalescos solos de bateria e de baixo.


Em seguida, um momento especial. Santana chamou Steve Winwood ao palco. Juntos – Steve ao piano – eles homenagearam Marvin Gaye com uma boa versão para “Right on”.


Após, para mim, o ponto alto do show: a jazzy “Incident at Neshabur”, com um solo de arrepiar. Para minha surpresa, em seguida, Santana mandou “Can’t you hear me knocking”, sucesso dos Rolling Stones, e que fará parte de seu próximo álbum, “Guitar heaven: The greatest guitar classics of all time”, que será lançado em setembro, e trará clássicos do rock como “Black in black” (do AC/DC) e “Dance the night away” (do Van Halen, e que foi apresentada em alguns shows da turnê). “Evil ways” foi a deixa para o momento “paz e amor” com “A love supreme” (de John Coltrane) e a apoteose com “Smooth”.

Antes de voltar ao palco para o bis, o telão passou algumas imagens do show do Santana no festival de Woodstock. Foi a introdução de “Soul sacrifice”. Gritaria geral, mas a versão foi curtinha. E quem imaginava que ainda viriam “Black Magic woman”, “Gipsy queen” e “Oye como va” se enganou. As três músicas que fazem parte do roteiro da turnê ficaram de fora do show de Tampa, possivelmente por conta da inclusão de “Right on”. Pelo que pesquisei, o encontro entre Santana e Winwood no palco aconteceu somente duas vezes na turnê.


O show do Santana durou pouco, por volta de uma hora e quarenta e cinco minutos. Achei muito pouco, especialmente se for comparar com os outros três que vi: o longuíssimo no Rock in Rio II (1991), um fantástico no Metropolitan, acho que em 1996, e outro na Praça da Apoteose, em 2006. Mas valeu. Santana tem uma relação quase sexual com a sua guitarra. Mesmo nas músicas mais enjoadas, é sempre um prazer ouvir os seus solos. Estou curioso para ver qual é do seu novo álbum. Mas não tenho grandes esperanças de que será um discaço. Já tem um tempo (desde que se uniu com o produtor Clive Davis) que Santana decidiu se transformar em um grande vendedor de discos, o que, na maioria das vezes, não significa um trabalho de grande qualidade. De qualquer forma, tomara que eu esteja enganado.


Setlist Steve Winwood:
1) “Secrets”
2) “Fly”
3) “Dirty city”
4) “Can’t find my way home”
5) “The low spark of high-heeled boys”
6) “Empty pages”
7) “Higher love”
8) “Dear Mr. Fantasy”
9) “Gimme some lovin’”

Setlist Carlos Santana:
1) “(Da le) Yaleo”
2) “Maria Maria”
3) “Foo Foo”
4) “Corazon espinado”
5) “Jingo”
6) “Right on”
7) “Incident at Neshabur”
8) “Can’t you hear me knocking”
9) “Evil ways”
10) “A love supreme”
11) “Smooth” / “Dame tu amor”
12) “Soul sacrifice”
13) “Into the night”