“The suburbs” – Arcade Fire
“The suburbs”, terceiro álbum do Arcade Fire, já saiu tem quase dois meses lá fora. Mas só escrevo sobre ele agora porque quis digeri-lo um pouco melhor. As primeiras resenhas que li, comparavam-no a “Ok computer”, terceiro disco do Radiohead, lançado em 1997. A comparação é difícil. Os dois são grandes álbuns. O Arcade Fire estreou com “Funeral”, em 2004. Um álbum de estreia que pode ser considerado perfeito. O seguinte, “Neon bible”, escorregou em algumas viagens (um pouco que pretensiosas) da banda canadense. Também era um bom álbum, mas que não deixava claro qual rumo o Arcade Fire tomaria. “The suburbs” tira essa dúvida. De fato, o Arcade Fire, para bem ou para o mal, está pronto para o maistream (êta palavrinha horrorosa). Nesse terceiro álbum, a sonoridade da banda está bem mais palatável – no estilo Arcade Fire, é verdade. As letras estão bem mais próximas da realidade, eis que falam sobre... a vida nos subúrbios, tipo aquelas coisas comuns que qualquer pessoa de classe média gosta de fazer, sem esquecer das tristezas. Com relação à sonoridade, bem... Esqueça aquela coisa épica de “Funeral” ou as experimentações de “Neon bible”. “The suburbs” pode ser chamado de um álbum pop – ao estilo do Arcade Fire, repita-se. A faixa-título, que abre o disco já apresenta esse cartão de boas vindas, que se repete em outras faixas como na bela “Modern man”, no rock pesadinho “Empty room” e na quase new-wave “Mouth of may”. Mas o Arcade Fire também não desiste de coisas mais experimentais, como “Rococo” (uma das melhores faixas do álbum) e “Deep blue”. Mas nada supera a quase-disco “Sprawl II (Mountains beyond mountains)”, diferente de tudo o que o Arcade Fire já fez. E que vontade que dá assistir a um show do Arcade Fire depois de ouvir “The suburbs”...
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“Água” – Paula Morelenbaum & João Donato
Quando vi a capa do álbum de Paula Morelenbaum e João Donato, pensei: “as mesmas músicas, os mesmo arranjos, a mesma voz, o mesmo piano...” Tá certo, me enganei. Também não era pra menos. Paula Morelenbaum, com a sua ótima voz, é daquelas artistas que dificilmente se repetem. E João Donato... Bem, João Donato é João Donato. E ponto. Todas as 12 composições de “Água” são de sua autoria. Muitos clássicos: “A rã”, Lugar comum”, “A paz”, “Mentiras”... Mas as canções de Donato estão naquele grupo que podem ser regravadas zilhões de vezes de formas diferentes. E é isso o que acontece em “Água”. Você já ouviu “A rã” algumas centenas de vezes? Mas, certamente, não ouviu nessa maneira agora gravada por Paula Morelenbaum e João Donato. E “Ahiê”? Nessa nova versão, com arranjo de Beto Villares, a sonoridade transita entre o tradicional e o moderno, com destaque para o guitarron de Villares e o flugel horn de Mahor Gomes. Já “Everyday” se destaca pelos sopros de Leo Gandelman, enquanto “Muito à vontade” ficou mais à vontade ainda com as programações de Alex Moreira, e “Café com pão” cresceu ainda mais com o auxílio luxuoso do Paraphernalia, de Donatinho, Alberto Continentino, Renato “Massa” Calmon e outras feras. “Água” é mais um grande exemplo de que grandes canções podem (e devem) sempre ser regravadas. Basta ter originalidade.
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“Demos” – Crosby, Stills & Nash
Sabe aquele tipo de disco que a gente vê em alguma loja e pensa: “esse não tem erro, vai dar para ouvir até furar”? “Demos”, novo álbum de Crosby, Stills & Nash, está nesse time. Com 12 faixas gravadas entre 1968 e 1971, o CD (que chega às lojas brasileiras com mais de um ano de atraso) apresenta versões cruas de faixas como “Déjà vu”, “Almost cut my hair” e “Chicago”. David Crosby, Graham Nash e Stephen Stills se dividem nos vocais, e Neil Young (que entrou na banda em 1969) dá o ar da graça em “Music is love”, canção que só veio a ser gravada oficialmente no primeiro álbum solo de Crosby, lançado em 1971. Apenas a faixa de abertura, “Marrakesh express” (gravada quatro meses antes da estreia do trio em disco, em 1969), traz Crosby, Stills e Nash cantando juntos. Nas outras, eles se dividem em duplas ou se apresentam solo. “Long time gone”, também do álbum de estreia do CSN, na versão demo, traz as vozes de Crosby e de Stills. Isso porque a canção foi gravada em junho de 1968, ou seja, poucas semanas antes de Nash entrar no conjunto. “My love is a gentle thing” (na voz de Stills), por sua vez, é uma das pérolas do álbum, já que nunca havia sido lançada em um álbum oficial da banda anteriormente, mas tão somente no Box “CSN”, de 1991. Uma das músicas mais interessantes de “Demos” é “Love the one you’re with”, que foi gravada no primeiro trabalho solo de Stephen Stills (de 1970), e que acabou se transformando em seu maior hit. A versão desse CD foi registrada em abril de 1970, seis meses antes da gravação de seu disco de estreia. Já “Singing call” (também na voz de Stills) apareceria em seu segundo álbum solo. A única dificuldade aqui é concluir qual a melhor versão: as demos ou as oficiais? Eu ainda tenho as minhas dúvidas.
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“Pra gente fazer mais um samba” – Wilson das Neves
Wilson das Neves é um dos maiores músicos do mundo. Posso fazer essa afirmação de forma taxativa. Ouça o trabalho dele n’Os Ipanemas. Ou então em seu antológico álbum gravado ao lado de Elza Soares, em 1968. Ou então em gravações esparsas, como a de “Não identificado”, clássico do “Álbum branco” (1969), de Caetano Veloso. Ou então nas últimas turnês de Chico Buarque, em que Wilson das Neves, com a classe habitual, destrói a sua bateria. Ou então nas apresentações da Orquestra Imperial. Ou então em seu último álbum, “Pra gente fazer mais um samba”, lançado no mês passado. Samba com Wilson das Neves é coisa séria. E ele mostra isso nesse novo disco. Provavelmente, a sua maior virtude é conseguir ser popular e sofisticado ao mesmo tempo. O público do Zeca Pagodinho vai gostar? Vai. E o do Chico Buarque? Também. Sente só a poesia presente em “Outono chegou” (parceria de Das Neves com Paulo Cesar Pinheiro): “O outono chegou / No meu peito o arvoredo secou / Já murchou cada ramo de flor / E a folhagem amarelou / O outono chegou / E esse meu coração já virou / Folha seca que um vento arrancou / E outro vento carregou.” Tudo isso com a adesão de músicos como João Carlos Rebouças (piano), Zé Luiz Maia (baixo), Vittor Santos (trombone) e Don Chacal (percussão). Ah, e claro a bateria e a voz de mestre Wilson das Neves. Para finalizar, cito aqui parte do texto de apresentação do CD: “Aí está com ele sua graça, com a ginga que é só dele, com essa voz que deve ser a voz rouca das ruas, eis aí Wilson das Neves cantando versos prenhes de sabedoria popular”. Assinado: Chico Buarque.
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“Broken bells” – Broken Bells
Pouca gente deve ter ouvido falar do Broken Bells. Explico: é uma banda formada no ano passado pelo produtor Brian Burton (ou Danger Mouse, se você preferir) e James Mercer, vocalista e guitarrista da banda The Shins. O álbum de estreia saiu lá fora em março – por aqui, só Deus (ou nem ele) sabe. A sonoridade da banda é daquele tipo bem complicado de ser definido. Meio que cada faixa carrega algo diferente. “The high Road”, primeiro single (e faixa de abertura), por exemplo, transita entre uma delicadeza quase invisível, e uma epicidade surpreendente no refrão. É, é difícil mesmo definir em palavras. Já “Vaporize” carrega um ambiente quase spaghetti, lembrando um pouco alguma coisa do último trabalho de Beck, “Modern guilt” (2008), produzido por... Danger Mouse. Mas a minha preferida é mesmo “Citzen”, praticamente uma balada de ninar, cheia de climas. Pode parecer viagem, mas se o Radiohead e o The National cruzassem, certamente o nome do filho seria “Citzen”. Já a instrumental “Sailing to nowhere” é uma espécie de lado “Kid A” do Broken Bells. E o encerramento com “The mall & misery” chegou a lembrar até mesmo o New Order. Vai entender... Aliás, não precisa entender muito não. Melhor escutar esse “Broken Bells” e tirar as suas próprias conclusões.
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Em seguida, “Rococo”, do último álbum do Arcade Fire, “The suburbs”. A canção foi gravada ao vivo na semana de lançamento do disco, no Madison Square Garden, em Nova York.
“The suburbs”, terceiro álbum do Arcade Fire, já saiu tem quase dois meses lá fora. Mas só escrevo sobre ele agora porque quis digeri-lo um pouco melhor. As primeiras resenhas que li, comparavam-no a “Ok computer”, terceiro disco do Radiohead, lançado em 1997. A comparação é difícil. Os dois são grandes álbuns. O Arcade Fire estreou com “Funeral”, em 2004. Um álbum de estreia que pode ser considerado perfeito. O seguinte, “Neon bible”, escorregou em algumas viagens (um pouco que pretensiosas) da banda canadense. Também era um bom álbum, mas que não deixava claro qual rumo o Arcade Fire tomaria. “The suburbs” tira essa dúvida. De fato, o Arcade Fire, para bem ou para o mal, está pronto para o maistream (êta palavrinha horrorosa). Nesse terceiro álbum, a sonoridade da banda está bem mais palatável – no estilo Arcade Fire, é verdade. As letras estão bem mais próximas da realidade, eis que falam sobre... a vida nos subúrbios, tipo aquelas coisas comuns que qualquer pessoa de classe média gosta de fazer, sem esquecer das tristezas. Com relação à sonoridade, bem... Esqueça aquela coisa épica de “Funeral” ou as experimentações de “Neon bible”. “The suburbs” pode ser chamado de um álbum pop – ao estilo do Arcade Fire, repita-se. A faixa-título, que abre o disco já apresenta esse cartão de boas vindas, que se repete em outras faixas como na bela “Modern man”, no rock pesadinho “Empty room” e na quase new-wave “Mouth of may”. Mas o Arcade Fire também não desiste de coisas mais experimentais, como “Rococo” (uma das melhores faixas do álbum) e “Deep blue”. Mas nada supera a quase-disco “Sprawl II (Mountains beyond mountains)”, diferente de tudo o que o Arcade Fire já fez. E que vontade que dá assistir a um show do Arcade Fire depois de ouvir “The suburbs”...
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“Água” – Paula Morelenbaum & João Donato
Quando vi a capa do álbum de Paula Morelenbaum e João Donato, pensei: “as mesmas músicas, os mesmo arranjos, a mesma voz, o mesmo piano...” Tá certo, me enganei. Também não era pra menos. Paula Morelenbaum, com a sua ótima voz, é daquelas artistas que dificilmente se repetem. E João Donato... Bem, João Donato é João Donato. E ponto. Todas as 12 composições de “Água” são de sua autoria. Muitos clássicos: “A rã”, Lugar comum”, “A paz”, “Mentiras”... Mas as canções de Donato estão naquele grupo que podem ser regravadas zilhões de vezes de formas diferentes. E é isso o que acontece em “Água”. Você já ouviu “A rã” algumas centenas de vezes? Mas, certamente, não ouviu nessa maneira agora gravada por Paula Morelenbaum e João Donato. E “Ahiê”? Nessa nova versão, com arranjo de Beto Villares, a sonoridade transita entre o tradicional e o moderno, com destaque para o guitarron de Villares e o flugel horn de Mahor Gomes. Já “Everyday” se destaca pelos sopros de Leo Gandelman, enquanto “Muito à vontade” ficou mais à vontade ainda com as programações de Alex Moreira, e “Café com pão” cresceu ainda mais com o auxílio luxuoso do Paraphernalia, de Donatinho, Alberto Continentino, Renato “Massa” Calmon e outras feras. “Água” é mais um grande exemplo de que grandes canções podem (e devem) sempre ser regravadas. Basta ter originalidade.
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“Demos” – Crosby, Stills & Nash
Sabe aquele tipo de disco que a gente vê em alguma loja e pensa: “esse não tem erro, vai dar para ouvir até furar”? “Demos”, novo álbum de Crosby, Stills & Nash, está nesse time. Com 12 faixas gravadas entre 1968 e 1971, o CD (que chega às lojas brasileiras com mais de um ano de atraso) apresenta versões cruas de faixas como “Déjà vu”, “Almost cut my hair” e “Chicago”. David Crosby, Graham Nash e Stephen Stills se dividem nos vocais, e Neil Young (que entrou na banda em 1969) dá o ar da graça em “Music is love”, canção que só veio a ser gravada oficialmente no primeiro álbum solo de Crosby, lançado em 1971. Apenas a faixa de abertura, “Marrakesh express” (gravada quatro meses antes da estreia do trio em disco, em 1969), traz Crosby, Stills e Nash cantando juntos. Nas outras, eles se dividem em duplas ou se apresentam solo. “Long time gone”, também do álbum de estreia do CSN, na versão demo, traz as vozes de Crosby e de Stills. Isso porque a canção foi gravada em junho de 1968, ou seja, poucas semanas antes de Nash entrar no conjunto. “My love is a gentle thing” (na voz de Stills), por sua vez, é uma das pérolas do álbum, já que nunca havia sido lançada em um álbum oficial da banda anteriormente, mas tão somente no Box “CSN”, de 1991. Uma das músicas mais interessantes de “Demos” é “Love the one you’re with”, que foi gravada no primeiro trabalho solo de Stephen Stills (de 1970), e que acabou se transformando em seu maior hit. A versão desse CD foi registrada em abril de 1970, seis meses antes da gravação de seu disco de estreia. Já “Singing call” (também na voz de Stills) apareceria em seu segundo álbum solo. A única dificuldade aqui é concluir qual a melhor versão: as demos ou as oficiais? Eu ainda tenho as minhas dúvidas.
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“Pra gente fazer mais um samba” – Wilson das Neves
Wilson das Neves é um dos maiores músicos do mundo. Posso fazer essa afirmação de forma taxativa. Ouça o trabalho dele n’Os Ipanemas. Ou então em seu antológico álbum gravado ao lado de Elza Soares, em 1968. Ou então em gravações esparsas, como a de “Não identificado”, clássico do “Álbum branco” (1969), de Caetano Veloso. Ou então nas últimas turnês de Chico Buarque, em que Wilson das Neves, com a classe habitual, destrói a sua bateria. Ou então nas apresentações da Orquestra Imperial. Ou então em seu último álbum, “Pra gente fazer mais um samba”, lançado no mês passado. Samba com Wilson das Neves é coisa séria. E ele mostra isso nesse novo disco. Provavelmente, a sua maior virtude é conseguir ser popular e sofisticado ao mesmo tempo. O público do Zeca Pagodinho vai gostar? Vai. E o do Chico Buarque? Também. Sente só a poesia presente em “Outono chegou” (parceria de Das Neves com Paulo Cesar Pinheiro): “O outono chegou / No meu peito o arvoredo secou / Já murchou cada ramo de flor / E a folhagem amarelou / O outono chegou / E esse meu coração já virou / Folha seca que um vento arrancou / E outro vento carregou.” Tudo isso com a adesão de músicos como João Carlos Rebouças (piano), Zé Luiz Maia (baixo), Vittor Santos (trombone) e Don Chacal (percussão). Ah, e claro a bateria e a voz de mestre Wilson das Neves. Para finalizar, cito aqui parte do texto de apresentação do CD: “Aí está com ele sua graça, com a ginga que é só dele, com essa voz que deve ser a voz rouca das ruas, eis aí Wilson das Neves cantando versos prenhes de sabedoria popular”. Assinado: Chico Buarque.
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“Broken bells” – Broken Bells
Pouca gente deve ter ouvido falar do Broken Bells. Explico: é uma banda formada no ano passado pelo produtor Brian Burton (ou Danger Mouse, se você preferir) e James Mercer, vocalista e guitarrista da banda The Shins. O álbum de estreia saiu lá fora em março – por aqui, só Deus (ou nem ele) sabe. A sonoridade da banda é daquele tipo bem complicado de ser definido. Meio que cada faixa carrega algo diferente. “The high Road”, primeiro single (e faixa de abertura), por exemplo, transita entre uma delicadeza quase invisível, e uma epicidade surpreendente no refrão. É, é difícil mesmo definir em palavras. Já “Vaporize” carrega um ambiente quase spaghetti, lembrando um pouco alguma coisa do último trabalho de Beck, “Modern guilt” (2008), produzido por... Danger Mouse. Mas a minha preferida é mesmo “Citzen”, praticamente uma balada de ninar, cheia de climas. Pode parecer viagem, mas se o Radiohead e o The National cruzassem, certamente o nome do filho seria “Citzen”. Já a instrumental “Sailing to nowhere” é uma espécie de lado “Kid A” do Broken Bells. E o encerramento com “The mall & misery” chegou a lembrar até mesmo o New Order. Vai entender... Aliás, não precisa entender muito não. Melhor escutar esse “Broken Bells” e tirar as suas próprias conclusões.
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Em seguida, “Rococo”, do último álbum do Arcade Fire, “The suburbs”. A canção foi gravada ao vivo na semana de lançamento do disco, no Madison Square Garden, em Nova York.