“Time flies... 1994-2009” – Oasis
Para fechar a tampa de 15 anos de bons serviços prestados ao rock n’ roll, o Oasis colocou nas lojas a coletânea “Time flies... 1994-2009”, que, em 27 faixas, dá uma geral em sua carreira. De “Supersonic” (do seminal “Definitely maybe”, de 1994) a “The shock of the lightning” (do derradeiro “Dig out your soul”, de 2008), todos os singles da banda estão na coletânea, incluindo sucessos como “Don’t look back in anger”, “Shakermaker”, “Roll with it” e “Live forever”, e canção menos conhecidas (mas igualmente lindas) como “All around the world”, “Who feels love?” e “Songbird”. Destaque ainda para “Whatever” e “Lord don’t slow me down”, que só haviam sido lançadas em singles, além da faixa escondida “Sunday morning call”. Aqui no Brasil só chegou a versão dupla, com as 27 faixas, mas a boa pedida é a versão limitada que saiu lá fora. Além dos dois CDs com os sucessos, há um DVD com os videoclipes de todas as 27 faixas dos CDs, além de versões ao vivo inéditas de “Gas panic!” e “Little by little”, e comentários dos integrantes do Oasis acerca de cada música. Um CD gravado ao vivo no “iTunes Live: London Festival”, no dia 21 de julho de 2009 fecha o pacote. O bacana dessa apresentação é que ela foi a última gravada da história da banda. O roteiro (que conta com sucessos como “Lyla”, “Rock ‘n roll star”, “Slide away” e “Champagne supernova”) é bem parecido com o dos shows no Brasil no ano passado. Um pacote e tanto para os órfãos dos irmãos Liam e Noel Gallagher. E, ao final de mais de seis horas de música, só resta uma indagação: por que parou?
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“Música de brinquedo” – Pato Fu
No cada vez mais imbecilizado mercado fonográfico brasileiro, às vezes ainda é possível ter boas surpresas. E uma delas é o novo álbum do Pato Fu, “Música de brinquedo”. Só os mal humorados não enxergam que o Pato Fu é uma das bandas mais inteligentes do cenário pop brasileiro, e, dessa vez, o conjunto mineiro deu mais munição para os fãs o adorarem mais e para os mal humorados o odiarem mais. O repertório do novo álbum, somente de covers, pode dar a impressão que o Pato Fu está andando para trás. Mas não é verdade. Ouça, de cara, a versão para “Live and let die”, de Paul McCartney. Aposto que você nunca ouviu nada muito parecido. Isso porque os instrumentos usados são todos de brinquedo: a bateria, o baixo, o pianinho... E isso sem contar com mais algumas dezenas de bugigangas que tiram toda a sorte de barulhinhos, como bichos de pelúcia, teclado-calculadora, e até mesmo um lápis com um circuito de teremim, que faz um som quando encostado no papel. É nesse estilo que saem as outras 11 faixas de “Música de brinquedo”, de “Primavera (Vai chuva)” (de Cassiano e Silvio Rochael, e que fez sucesso na voz de Tim Maia) a “Love me tender” (de Elvis Presley e Vera Matson). O Pato Fu e os seus brinquedinhos ainda passeiam pelas obras de Roberto e Erasmo Carlos (“Todos estão surdos), Titãs (“Sonífera ilha”), Zé Ramalho (“Frevo mulher”) e Paralamas do Sucesso (“Ska”). Melhor que o CD parece que só mesmo o show (que ainda não tive oportunidade de assistir, mas já me falaram mil maravilhas). Tomara que saia o DVD.
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“Memphis Blues” – Cyndi Lauper
Pode parecer incrível hoje, mas lá pelos anos 80, Cyndi Lauper disputava pau a pau com Madonna, o posto de grande cantora pop. Se Madonna tinha “Holiday”, “Like a virgin” e “Papa don’t preach”, Cyndi Lauper não ficava atrás com “Girls Just want to have fun”, “Time after time” e “True colors”. Só que Cyndi Lauper, lá pelo finalzinho dos anos 80, acabou ficando para trás. E, desde então, vem lançando álbuns irregulares, com canções natalinas (“Merry Christmas... Have a nice life”, de 1998), standards do cancioneiro norte-americano (“At last”, de 2003) e no formato acústico (“The body achoustic”, lançado em 2005). Quando as coisas pareciam ter entrado no eixo, com o lançamento de “Bring ya to the brink” (2008) – no qual Lauper, ao seu jeito, voltava a um estilo mais dançante –, eis que agora chega às lojas “Memphis blues”, repleto de clássicos do blues e de participações especiais de gente pra lá de importante. “Memphis blues” traz uma Cyndi Lauper muito mais contida, em 13 músicas, que vão de “Crossroads” (de Robert Johnson, com participação do guitarrista Johnny Lang) a “Rollin’ and tumblin’” (de Muddy Waters). Destaque ainda para “Early in the mornin’”, com direito a Allen Toussaint e B.B. King, e a linda “Just your fool” (faixa de abertura do álbum, com direito à gaita de Charlie Musselwhite). Na edição brasileira, ainda há uma faixa extra, “I don’t want to cry”, com o saxofone de Leo Gandelman. “Memphis blues” pode até ser mais um projeto fora de rota (leia-se “irregular”) de Cyndi Lauper, mas, sem dúvidas, é o melhor deles.
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“Só danço samba” – Emílio Santiago
Emílio Santiago foi outro artista que teve alguns desvios de rota em sua carreira. Lançou discos classudos nos anos 70, e depois partiu para o projeto “Aquarela carioca” que teve sete volumes entre 1988 e 1995, repleto de músicas populares. As vendas aumentaram, mas a crítica não gostou da tal popularização. As coisas voltaram a entrar, mais ou menos, nos eixos, a partir de 1996, com o lançamento de “Perdido de amor”, disco com canções que fizeram sucesso na voz de Dick Farney. O seu último álbum, “Só danço samba”, é dedicado a Ed Lincoln, maestro de cuja banda Emílio foi crooner antes de fazer sucesso. O repertório e os arranjos das músicas são primorosos, o que garantem a “Só danço samba” o posto de um dos melhores discos de MPB lançados em 2010. Além da voz perfeita, Emílio Santiago é acompanhado por alguns dos nossos grandes músicos, como Jorge Helder (baixo), Paulo Braga (bateria), Jessé Sadoc (trompete), Jorjão Barreto (piano) e Dirceu Leite (saxofone). Produzido por José Milton, “Só danço samba” foge do óbvio em um repertório que vai de Tom Jobim e Vinicius de Moraes (a faixa-título) a Jorge Aragão e Dona Ivone Lara (a deliciosa “Tendência”), passando por Antônio Adolfo (“A cada dia que passa”), João Donato (“Sambou... Sambou”), Durval Ferreira e Orlandivo (“Falaram tanto de você” e “Zum zum zum”) e Mart’nália e Mombaça (“Chega”). Claro que Ed Lincoln também está presente nas faixas “Olhou pra mim” e na sincopada “Deix’isso pra lá”. Que Emílio Santiago permaneça na mesma rota.
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“Symphonicities” – Sting
Um dos maiores compositores da música pop, Sting deve um bom álbum faz muito tempo. Desde 1999, quando lançou “Brand new day”, o ex-Police vem patinando em trabalhos irregulares e muito (mas muito) chatos. “Symphonicities” não foge muito da encheção de saco. Depois de dois álbuns soníferos com o selo da Deutsche Gramophon – “Songs from the labyrinth” (2006) e “If on a winter’s night” (2009) –, Sting insiste na parceria e se junta a orquestras sinfônicas (incluindo aí a imponente Royal Philarmonic Concert Orchestra) para recriar canções de sua carreira solo e do The Police. As músicas escolhidas até que são boas, mas, após a primeira audição, a gente fica doidinho para ouvir as versões originais. “Next to you”, primeiro single do The Police, por exemplo, com as suas cordas atacando, ficou forçada demais. “When we dance” e “Roxanne” ficaram muito parecidas com as versões light gravadas no acústico ao vivo “...All this time” (2001), e “I burn for you” pode ter efeito parecido com o de um Lexotan. Para dizer que nada ficou interessante, sobram “Every little thing she does is magic” e “Englisman in New York”, que ficaram bacaninhas com os arranjos sinfônicos. Mas mesmo assim, ainda é pouco para Sting. E muito pouco para quem deve um bom álbum há mais de uma década.
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Abaixo, o vídeo divertidíssimo de “Live and let die”, uma das canções presentes em “Música de brinquedo”, do Pato Fu.
Para fechar a tampa de 15 anos de bons serviços prestados ao rock n’ roll, o Oasis colocou nas lojas a coletânea “Time flies... 1994-2009”, que, em 27 faixas, dá uma geral em sua carreira. De “Supersonic” (do seminal “Definitely maybe”, de 1994) a “The shock of the lightning” (do derradeiro “Dig out your soul”, de 2008), todos os singles da banda estão na coletânea, incluindo sucessos como “Don’t look back in anger”, “Shakermaker”, “Roll with it” e “Live forever”, e canção menos conhecidas (mas igualmente lindas) como “All around the world”, “Who feels love?” e “Songbird”. Destaque ainda para “Whatever” e “Lord don’t slow me down”, que só haviam sido lançadas em singles, além da faixa escondida “Sunday morning call”. Aqui no Brasil só chegou a versão dupla, com as 27 faixas, mas a boa pedida é a versão limitada que saiu lá fora. Além dos dois CDs com os sucessos, há um DVD com os videoclipes de todas as 27 faixas dos CDs, além de versões ao vivo inéditas de “Gas panic!” e “Little by little”, e comentários dos integrantes do Oasis acerca de cada música. Um CD gravado ao vivo no “iTunes Live: London Festival”, no dia 21 de julho de 2009 fecha o pacote. O bacana dessa apresentação é que ela foi a última gravada da história da banda. O roteiro (que conta com sucessos como “Lyla”, “Rock ‘n roll star”, “Slide away” e “Champagne supernova”) é bem parecido com o dos shows no Brasil no ano passado. Um pacote e tanto para os órfãos dos irmãos Liam e Noel Gallagher. E, ao final de mais de seis horas de música, só resta uma indagação: por que parou?
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“Música de brinquedo” – Pato Fu
No cada vez mais imbecilizado mercado fonográfico brasileiro, às vezes ainda é possível ter boas surpresas. E uma delas é o novo álbum do Pato Fu, “Música de brinquedo”. Só os mal humorados não enxergam que o Pato Fu é uma das bandas mais inteligentes do cenário pop brasileiro, e, dessa vez, o conjunto mineiro deu mais munição para os fãs o adorarem mais e para os mal humorados o odiarem mais. O repertório do novo álbum, somente de covers, pode dar a impressão que o Pato Fu está andando para trás. Mas não é verdade. Ouça, de cara, a versão para “Live and let die”, de Paul McCartney. Aposto que você nunca ouviu nada muito parecido. Isso porque os instrumentos usados são todos de brinquedo: a bateria, o baixo, o pianinho... E isso sem contar com mais algumas dezenas de bugigangas que tiram toda a sorte de barulhinhos, como bichos de pelúcia, teclado-calculadora, e até mesmo um lápis com um circuito de teremim, que faz um som quando encostado no papel. É nesse estilo que saem as outras 11 faixas de “Música de brinquedo”, de “Primavera (Vai chuva)” (de Cassiano e Silvio Rochael, e que fez sucesso na voz de Tim Maia) a “Love me tender” (de Elvis Presley e Vera Matson). O Pato Fu e os seus brinquedinhos ainda passeiam pelas obras de Roberto e Erasmo Carlos (“Todos estão surdos), Titãs (“Sonífera ilha”), Zé Ramalho (“Frevo mulher”) e Paralamas do Sucesso (“Ska”). Melhor que o CD parece que só mesmo o show (que ainda não tive oportunidade de assistir, mas já me falaram mil maravilhas). Tomara que saia o DVD.
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“Memphis Blues” – Cyndi Lauper
Pode parecer incrível hoje, mas lá pelos anos 80, Cyndi Lauper disputava pau a pau com Madonna, o posto de grande cantora pop. Se Madonna tinha “Holiday”, “Like a virgin” e “Papa don’t preach”, Cyndi Lauper não ficava atrás com “Girls Just want to have fun”, “Time after time” e “True colors”. Só que Cyndi Lauper, lá pelo finalzinho dos anos 80, acabou ficando para trás. E, desde então, vem lançando álbuns irregulares, com canções natalinas (“Merry Christmas... Have a nice life”, de 1998), standards do cancioneiro norte-americano (“At last”, de 2003) e no formato acústico (“The body achoustic”, lançado em 2005). Quando as coisas pareciam ter entrado no eixo, com o lançamento de “Bring ya to the brink” (2008) – no qual Lauper, ao seu jeito, voltava a um estilo mais dançante –, eis que agora chega às lojas “Memphis blues”, repleto de clássicos do blues e de participações especiais de gente pra lá de importante. “Memphis blues” traz uma Cyndi Lauper muito mais contida, em 13 músicas, que vão de “Crossroads” (de Robert Johnson, com participação do guitarrista Johnny Lang) a “Rollin’ and tumblin’” (de Muddy Waters). Destaque ainda para “Early in the mornin’”, com direito a Allen Toussaint e B.B. King, e a linda “Just your fool” (faixa de abertura do álbum, com direito à gaita de Charlie Musselwhite). Na edição brasileira, ainda há uma faixa extra, “I don’t want to cry”, com o saxofone de Leo Gandelman. “Memphis blues” pode até ser mais um projeto fora de rota (leia-se “irregular”) de Cyndi Lauper, mas, sem dúvidas, é o melhor deles.
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“Só danço samba” – Emílio Santiago
Emílio Santiago foi outro artista que teve alguns desvios de rota em sua carreira. Lançou discos classudos nos anos 70, e depois partiu para o projeto “Aquarela carioca” que teve sete volumes entre 1988 e 1995, repleto de músicas populares. As vendas aumentaram, mas a crítica não gostou da tal popularização. As coisas voltaram a entrar, mais ou menos, nos eixos, a partir de 1996, com o lançamento de “Perdido de amor”, disco com canções que fizeram sucesso na voz de Dick Farney. O seu último álbum, “Só danço samba”, é dedicado a Ed Lincoln, maestro de cuja banda Emílio foi crooner antes de fazer sucesso. O repertório e os arranjos das músicas são primorosos, o que garantem a “Só danço samba” o posto de um dos melhores discos de MPB lançados em 2010. Além da voz perfeita, Emílio Santiago é acompanhado por alguns dos nossos grandes músicos, como Jorge Helder (baixo), Paulo Braga (bateria), Jessé Sadoc (trompete), Jorjão Barreto (piano) e Dirceu Leite (saxofone). Produzido por José Milton, “Só danço samba” foge do óbvio em um repertório que vai de Tom Jobim e Vinicius de Moraes (a faixa-título) a Jorge Aragão e Dona Ivone Lara (a deliciosa “Tendência”), passando por Antônio Adolfo (“A cada dia que passa”), João Donato (“Sambou... Sambou”), Durval Ferreira e Orlandivo (“Falaram tanto de você” e “Zum zum zum”) e Mart’nália e Mombaça (“Chega”). Claro que Ed Lincoln também está presente nas faixas “Olhou pra mim” e na sincopada “Deix’isso pra lá”. Que Emílio Santiago permaneça na mesma rota.
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“Symphonicities” – Sting
Um dos maiores compositores da música pop, Sting deve um bom álbum faz muito tempo. Desde 1999, quando lançou “Brand new day”, o ex-Police vem patinando em trabalhos irregulares e muito (mas muito) chatos. “Symphonicities” não foge muito da encheção de saco. Depois de dois álbuns soníferos com o selo da Deutsche Gramophon – “Songs from the labyrinth” (2006) e “If on a winter’s night” (2009) –, Sting insiste na parceria e se junta a orquestras sinfônicas (incluindo aí a imponente Royal Philarmonic Concert Orchestra) para recriar canções de sua carreira solo e do The Police. As músicas escolhidas até que são boas, mas, após a primeira audição, a gente fica doidinho para ouvir as versões originais. “Next to you”, primeiro single do The Police, por exemplo, com as suas cordas atacando, ficou forçada demais. “When we dance” e “Roxanne” ficaram muito parecidas com as versões light gravadas no acústico ao vivo “...All this time” (2001), e “I burn for you” pode ter efeito parecido com o de um Lexotan. Para dizer que nada ficou interessante, sobram “Every little thing she does is magic” e “Englisman in New York”, que ficaram bacaninhas com os arranjos sinfônicos. Mas mesmo assim, ainda é pouco para Sting. E muito pouco para quem deve um bom álbum há mais de uma década.
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Abaixo, o vídeo divertidíssimo de “Live and let die”, uma das canções presentes em “Música de brinquedo”, do Pato Fu.