23 de jul. de 2010

A máquina do tempo do Rush (em Nova Jersey)

Eu me lembro que quando o Pink Floyd saiu em turnê em 1994 para promover o álbum “The division bell”, o que achei mais fantástico foi o fato de a banda ter apresentado o álbum “The dark side of the moon” na íntegra. Agora é a vez do Rush sair em turnê para mostrar a íntegra do “Moving pictures” (1981), o álbum de maior vendagem da história do trio canadense.


Ontem, fui ver o show dessa “Time machine tour” no Susquehanna Bank Center na cidade de Camden, que fica na fronteira de Nova Jersey com a Filadélfia. O local é bem bacana. É um anfiteatro coberto, com cadeiras numeradas, e, atrás, uma imensa área verde com ingressos mais baratos. A galera aluga cadeiras tipo de praia e fica curtindo o show enquanto pega um bronze – e parece que o americano adora esse tipo de programa. Um parêntese: acho que 90% da plateia estava com camisa do Rush.


Marcado para as 19h30, a banda subiu ao palco com 15 minutos de atraso e começou o show com o dia bem claro ainda. Como acontece rotineiramente nas últimas turnês do Rush, o show começou com um vídeo bem bacana. Dessa vez, mostrando a banda fantasiada desde os tempos da caverna até atualmente. E “Spirit of radio” rolava no telão com arranjos bizarros. Até que Neil Peart, Geddy Lee e Alex Lifeson surgiram no palco mandando a mesma música ao vivo. O som, reguladíssimo, estrondou. O cenário era todo em um estilo vintage, da bateria de Neil Peart àquelas espécies de lavadoras de roupa que sempre fazem parte do palco da banda canadense. O telão em alta-definição também mostra imagens da banda com molduras de aparelhos antigos de televisão.


No primeiro set, o Rush fez um apanhado da carreira, com músicas que são apresentadas em quase todas as suas turnês (“Free Will”, “Subdivisions”, “Workin’ them angels”) misturadas a outras que estavam de fora dos setlists havia anos, como “Marathon” (a mais aplaudida dessa primeira metade de show), a linda “Time stand still” e “Presto”. O momento bom para ir ao banheiro ou comprar cerveja foi durante “Faithless”, que Geddy Lee disse que entrou no roteiro porque ficou de fora da última turnê, “Snakes & arrows” – “não tivemos tempo ou esquecemos de incluí-la no roteiro”, explicou.


Após um intervalo de uns 15 minutos – aliás, como são bons esses intervalos –, o Rush voltou com a sua carta na manga que todo mundo queria ouvir: a íntegra de “Moving pictures”. Mais um vídeo engraçadinho foi a deixa para “Tom Sawyer”. Em seguida, veio o álbum todo, na mesma ordem, executado com precisão cirúrgica: “Red barchetta”, “YYZ”, “Limelight”, “Camera eye”, “Witch hunt” e “Vital signs”. “YYZ”, de longe, foi o momento que a galera mais gostou. Ninguém “cantou” a música, que nem os brasileiros enlouquecidos no DVD gravado ao vivo no Maracanã, mas, mesmo assim, deu pra sentir uma comoção diferente.


O show até poderia ter acabado em “Vital signs”, mas o Rush ainda emendou com a nova “Caravan”, que fará parte do álbum “Clockwork angels”, que deve sair até o final do ano. “B2UB”, que também fará parte do álbum, foi apresentada no primeiro set. Com “Love 4 sale”, “Closer to the heart”, a dobradinha “2112 Overture” / “Temples” e “Far cry”, o show terminou. Destaque para “2112 Overture”, música instrumental esperta que durou uns bons 12 minutos no show.


No bis, mais uma porrada instrumental (“La villa strangiato”), além de “Working man”, música bem apropriada para uma banda que não para de fazer shows e gravar discos. Mesmo durante a gravação de um novo álbum, Peart, Lee e Lifeson não sossegam o facho, e fazem questão de rodar os Estados Unidos, o Canadá e a América do Sul. Acredito que não seja lançado DVD ou blu-ray dessa turnê, porque ela é curtinha. Mas cairia muito bem. Não tenho dúvidas que vou ao show novamente no Rio de Janeiro. Acho que vai valer por esse Itustock todo, com o seu line-up meia-bomba, os preços caros e a tal da pista VIP. (Aliás, quem foi o gênio que inventou pista VIP em um festival desses?)



Setlist:
1)“The spirit of radio”
1) “Time stand still”
2) “Presto”
3) “Stick it out”
4) “Workin’ them angels”
5) “Leave that thing alone”
6) “Faithless”
7) “B2UB”
8) “Free Will”
9) “Marathon”
10) “Subdivisions”
Intervalo
11) “Tom Sawyer”
12) “Red barchetta”
13) “YYZ”
14) “Limelight”
15) “Camera eye”
16) “Witch hunt”
17) “Vital signs”
18) “Caravan”
19) “Love 4 sale”
20) “Closer to the heart’
21) “2112 Overture” / “Temples”
22) “Far cry”
23) “La Villa strangiato”
24) “Working man”

PS. Crédito das fotos: @gabisiciliano